O Planalto celebra como vitória uma rendição ao centrão. Para retirar a reforma da Previdência do atoleiro da CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o governo fez dois movimentos que abominava. Num, sob holofotes, cedeu ajustes de mérito numa fase em que estava em jogo apenas a análise sobre o enquadramento da proposta na moldura da Constituição. Noutro, longe dos refletores, reabriu o balcão, acenando com a perspectiva de oferecer cargos graúdos.
A reforma previdenciária foi levada por Jair Bolsonaro à Câmara em 20 de fevereiro. O estágio da CCJ é o mais simples de todo o processo legislativo. Em condições ideais, estaria resolvido em duas semanas. Já lá se vão mais de dois meses. Numa aliança com a bancada oposicionista, o centrão (PR, PP, Solidariedade, PTB e adjacências) deu uma canseira no goveno, complicando o que seria simples.
Ao negociar agora o que dizia ser inegociável, o Planalto encareceu a conta. Pior: fez por pressão o que se recusou a fazer por opção. O Ministério da Economia pondera que não cedeu, por ora, nada que possa afetar a pretendida meta da reforma: ajuste de mais de R$ 1 trilhão em dez anos. É verdade. Entretanto, ficou claro que essa cifra corre riscos na próxima fase.
Confirmando-se o fim do drama da CCJ (a sessão ainda da está em curso), a Câmara iniciará a discussão sobre o mérito da reforma, numa comissão especial. O Planalto chega a esse estágio com a faca do centrão na sua jugular. Seu êxito está claramente condicionado à capacidade de saciar os apetites do centrão.
Bolsonaro encontra-se em situação análoga à do rei Pirro, o personagem que obteve um triunfo com sabor de derrota ao prevalecer sobre os romanos na célebre batalha de Ásculo. Ao contabilizar as baixas que amargou em seu Exército, Pirro exclamou: "Se havemos de vencer assim os romanos mais uma vez, estaremos perdidos." O capitão teve sobre o centrão uma vitória de Pirro.
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