Quem é Abraham Weintraub, o novo ministro da Educação do governo Bolsonao. Militares perdem embate e temem continuidade da crise no MEC Ala dos generais queria ministro com mais respaldo e impor derrota a olavistas

Presidência da República
Ao lado do irmão, Abraham Weintraub defendeu estratégias para 'vencer o marxismo cultural nas universidades'Imagem: Presidência da República
Quem é Abraham Weintraub, o novo ministro da Educação do governo Bolsonaro


08/04/2019 16h21
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou nesta segunda-feira a troca do comando do Ministério da Educação (MEC). No lugar de Ricardo Vélez Rodriguez, demitido nesta manhã, assume o economista Abraham Weintraub.
Weintraub foi um dos integrantes da equipe do governo de transição comandada pelo atual ministro Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Ele e seu irmão, o advogado Arthur Weintraub - que também integra o governo, como assessor-chefe adjunto da Assessoria Especial do Presidente da República -, participaram da formulação do programa de governo de Bolsonaro na área de Previdência, na equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.

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Após a eleição, ele assumiu como secretário executivo da Casa Civil, o segundo posto mais importante do ministério comandado por Lorenzoni, cargo que deixa agora para assumir o MEC.
Weintraub formou-se em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo e é mestre em Administração Financeira pela Fundação Getúlio Vargas. No entanto, diferentemente do informado inicialmente por Bolsonaro no Twitter, o economista não declara na plataforma Lattes nem na rede social LinkedIn que tenha cursado um doutorado. O presidente corrigiu a informação pouco depois.
Atualmente, é diretor executivo do Centro de Estudos em Seguridade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele também é professor de direito previdenciário da mesma instituição. Ele informa em seu currículo na plataforma Lattes que coordenou em 2016 a apresentação de uma proposta alternativa da Reforma da Previdência formulada por professores da universidade.
Weintraub também atuou como executivo do mercado financeiro por mais de 20 anos. Foi sócio da Quest Investimentos, diretor do Banco Votorantim, membro do comitê de trading da Bovespa, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord).
Weintraub foi demitido do Votorantim em agosto de 2012, conforme ata de reunião publicada na época. O comunicado não dá detalhes dos motivos da saída do executivo.

Aproximação com Bolsonaro

Os irmãos Weintraub se aproximaram se Bolsonaro por meio de Lorenzoni, como relatou Arthur em uma reunião do departamento do Curso de Ciências Atuariais da Unifesp, do qual ele é professor, em março de 2018.
De acordo com a ata do encontro, Arthur contou aos presentes que, após a apresentação de sua proposta de reforma da Previdência no Congresso Nacional, foi procurado por Lorenzoni, que o informou que deputados estavam interessados em seu trabalho - entre eles, o então pré-candidato Bolsonaro.
A princípio, Arthur teria considerado que Bolsonaro tinha um "pensamento radical", mas que Lorenzoni pediu que ele e seu irmão se informassem melhor sobre o atual presidente, porque "a mídia brasileira distorcia as informações".
"Dessa maneira, ao melhor se informar, seu irmão Abraham e ele se deram conta que essa conduta radical seria mentira. Assim, foram conversar com Jair Bolsonaro, que teria formação em engenharia pelas Agulhas Negras, que seria uma escola militar, que tinha conhecimentos em estatística e em matemática. Assim, começaram a dar apoio científico e não politico a esse candidato, da mesma maneira que vários professores da UNICAMP e da USP fizeram a outros candidatos", diz o documento.

Goebbels, Galileu e Bíblia

Em novembro de 2017, Bolsonaro publicou nas redes sociais um texto assinado por sua equipe e pelos irmãos Weintraub em que defendiam a independência do Banco Central, faziam críticas ao Partido dos Trabalhadores e tratavam do tripé macroeconômico.
O texto diz que, "com sua independência, tendo mandatos atrelados a metas/métricas claras e bem definidas pelo Legislativo, profissionais terão autonomia para garantir à sociedade que nunca mais presidentes populistas ou demagogos colocarão a estabilidade do país em risco para perseguir um resultado político de curto prazo".
Ainda foram feitas críticas à ex-presidente Dilma Rousseff por "desastrosa condução da inflação" e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter deixado o país "com seus ungidos Dilma/Temer". Além disso, foram citados o ministro de propaganda do regime nazista alemão, Joseph Goebbels, o cientista Galileu Galilei e um versículo bíblico.
"Enquanto a esquerda prefere gurus do Nacional Socialismo como Joseph Goebbels: 'Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade'; nós ficamos com Galileu Galilei: eppur si muove [no entanto, ela se move, em tradução livre]! Todavia, a convicção que venceremos vem de João 8:32 'E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará'."
Este texto gerou uma nota de repúdio de parte dos centros acadêmicos da Unifesp, em que criticavam o apoio dos irmãos Weintraub a Bolsonaro por "normalizar o candidato como legítimo e que supostamente merece nosso diálogo".
Os irmãos responderam em tom irônico afirmando, entre outras coisas, que os alunos "puxam a média do campus para baixo" e que "esperam ansiosamente pela ditadura do proletariado".
Segundo Arthur, conforme a ata da reunião do departamento do Curso de Ciências Atuariais da Unifesp, ele e seu irmão foram alvo de quatro processos administrativos abertos pelas repostas publicadas por eles ao responder às "ofensas dos alunos publicadas no Facebook".
"Ficamos muito indignados com a invasão de nossa vida pessoal. Foi patrulhamento ideológico puro, uma nota de repúdio à nossa liberdade. Fora do trabalho, nossa vida pessoal não diz respeito a ninguém. Não fizemos nada de ilegal, não utilizamos estrutura, dinheiro, e-mail, nada, absolutamente nada da Unifesp", disse Abraham Weintraub ao jornal O Estado de S. Paulo.
"Acreditamos que o humor é redentor. Não pode tratar com seriedade argumentação ridícula. Aproveitamos e desopilamos o fígado."

'Vencer o marxismo cultural nas universidades'

Ao lado do irmão, Abraham participou da Cúpula Conservadora das Américas, em dezembro de 2018. A dupla apresentou uma palestra na qual listava estratégias para "vencer o marxismo cultural nas universidades", inspiradas em teorias do escritor Olavo de Carvalho.
"Como ganhamos essa batalha? Não sendo chatos. Temos de ser mais engraçados que os comunistas. Como você ganha a juventude? Com humor e inteligência", afirmou Weintraub.
O economista afirmou que o combate permitia ao país ampliar consideravelmente sua renda per capita. "Na América Latina, se vencermos o desafio do comunismo e não deixarmos entrar outras pressões, como o terrorismo islâmico, temos tudo pra ser uma das regiões mais estáveis do mundo."
Ele contestou a tese de que o comunismo se enfraqueceu com o fim da União Soviética. "Quando caiu o muro de Berlim, teve um monte de goiaba que falou 'o comunismo acabou, podemos ficar tranquilos'", disse Weintraub.
"Não podemos, essa turma vai voltar para casa, eles são inteligentes. Nossos inimigos foram para casa e se reinventaram."

Militares perdem embate e temem continuidade da crise no MEC       

Ala dos generais queria ministro com mais respaldo e impor derrota a olavistas

8.abr.2019 às 14h58
Igor Gielow
SÃO PAULO
A ida de Abraham Weintraub para o lugar do desgastado Ricardo Vélez no Ministério da Educação foi vista com desconfiança por membros da cúpula militar do governo Jair Bolsonaro. Eles temem a continuidade da crise que paralisou a pasta.
Abraham Weintraub (de terno cinza claro) durante reunião da equipe de transição de Bolsonaro
Abraham Weintraub (de terno cinza claro) durante reunião da equipe de transição de Bolsonaro - Governo de transição - 21.nov.2018
A remoção de Vélez do MEC era, para os fardados, uma oportunidade de se afirmar ante o chamado grupo ideológico do governo, aderente das ideias propagadas pelo escritor Olavo de Carvalho.
As duas alas colecionam divergências, notadamente em política externa e na educação, e Olavo já trocou críticas públicas com o vice-presidente, general Hamilton Mourão, e com general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro de Governo.
Weintraub, ainda que tenha trabalhado sob a organização do general Augusto Heleno quando o hoje ministro coordenava o pré-programa de governo de Bolsonaro, vibra mais na faixa de frequência do ideólogo do que na da ala verde-oliva.
Oficiais generais da ativa e da reserva próximos de Bolsonaro defenderam para o presidente a escolha de um nome técnico, gestor respeitado no mercado e na academia. Weintraub é economista e tem experiência como professor universitário, mas é virtualmente desconhecido no meio.
O fato de sua indicação ter sido avalizada publicamente pelo filho de Bolsonaro mais próximo de Olavo, o deputado federal Eduardo (PSL-SP), está sendo visto por setores militares como uma provocação do grupo ideológico —que é integrado também pelo chanceler Ernesto Araújo e pelo assessor de assuntos internacionais do Planalto, Filipe Martins. Como revelou o Painel, o próprio escritor, ídolo de Vélez, foi consultado sobre a troca.
Os militares e empresas do setor trabalhavam a indicação do ex-secretário da área em Santa Catarina, Eduardo Deschamps, que presidiu o Conselho Nacional de Educação na gestão de Mendonça Filho (DEM) na pasta. O nome do ex-secretário pernambucano Mozart Neves Ramos também voltou a circular, com um discreto mas poderoso lobby do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Também esteve na mesa a hipótese de nomear o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), mas a recusa do presidente do partido, Geraldo Alckmin, em ceder quadros da sigla para não configurar adesão ao governo Bolsonaro emperrou a negociação.
Não se sabe como ficará o MEC agora, já que a secretaria-executiva da pasta havia sido ocupada pelos militares na semana passada, com a indicação do brigadeiro da reserva Ricardo Machado. A provável remoção do militar e a escolha dos secretários do ministério serão centrais para entender se a crise continuará ou não.
Weintraub é considerado por conhecidos uma figura introvertida, com a carreira próxima da do irmão, Arthur. Ambos raramente dão entrevistas. Durante a campanha e a transição de governo, eles tentaram fazer avançar sua versão da reforma previdenciária, mas acabaram abatidos pelo hoje ministro Paulo Guedes (Economia).
Os irmãos estão entre os primeiros economistas a se juntarem ao time da pré-campanha de Bolsonaro, já no segundo semestre de 2017. Arthur é hoje assessor na Presidência, enquanto Abraham era o número dois da Casa Civil do amigo Onyx Lorenzoni (DEM).

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