O mistério da gravata azul do Presidente
Desde
o momento em que o professor Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a sua
candidatura a Presidente da República, num discurso em Celorico de Basto
transmitido em direto no distante dia 9 de outubro de 2015, nunca mais
deixei de o ver na TV.
Passaram já 172
dias e nas, pelo menos, 172 vezes em que me cruzei com ele na pantalha
digital, a dezasseis por nove, sempre simpático, afável, brincalhão,
apaziguador, nunca o vi com outra gravata a não ser aquela, discreta,
usada ontem.
Ontem, o Presidente da
República Marcelo Rebelo de Sousa veio dizer-nos estar aprovado o
Orçamento do PS de Costa, com retoques do Bloco, do PCP e da Comissão
Europeia.
Ontem, o Grão-Mestre das
Ordens portuguesas, Marcelo Rebelo de Sousa, celebrou esse documento
como um auspicioso compromisso entre o capital e o proletariado.
Ontem,
o Supremo Magistrado da Nação pareceu insinuar ser possível, um dia, um
Presidente da República chumbar um Orçamento do Estado
constitucionalmente perfeito e aprovado pela Assembleia da República.
Motivo? Não gostar do texto ou achar ser muito difícil executá-lo.
Ontem,
o Comandante Supremo das Forças Armadas colocou com o mesmo peso, nos
dois pratos da sua balança de apreciação dos destinos do país, a vontade
soberana dos deputados eleitos pelo povo português e a vontade
colonizadora da eurocracia que ninguém legitimou de forma direta e
democrática.
Pelo menos foi isto que
percebi do sentido do discurso proferido à hora do chá, debitado,
pareceu, em teleponto frente a uma, viu-se, escrivaninha D. Maria...
Mas,
na verdade, eu estava distraído com a gravata, a repetitiva gravata, a
monocolorida gravata e posso não ter apanhado bem as coisas...
A
bonita gravata, o tema verdadeiramente relevante, é azul. Uns dirão ser
de um tom azul-celeste. Outros falarão em azul-bebé. Talvez os mais
sarcásticos prefiram defini-la como "azul-cueca". A verdade é esta: o
Presidente da República, o afetuoso Marcelo Rebelo de Sousa, ou anda a
esconder-me o guarda-roupa ou só tem gravatas azuis-claras.
O
azul não é a cor da República, é a cor da monarquia. Será isto um sinal
sobre o entendimento de Marcelo das suas funções? Terá sido um conselho
dos assessores de imagem? Do fotógrafo oficial? Da família? Este
acessório imutável estará a ser usado para contrariar a ideia de
"catavento" passada pelos detratores do PSD? É uma afirmação de
coerência? É para se mostrar austero e poupado? É por o azul ser a cor
da bandeira da União Europeia?... Ah, talvez!!... Se calhar é por isso
que o senhor Draghi vai dar umas lições ao Conselho de Estado...
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