.....Quero apenas falar do medo, Quero apenas falar da escuridão
opressiva, daquela que o Chico cantou que “na gente deu o hábito de
caminhar pelas trevas, de murmurar entre as pregas, de tirar leite das
pedras”.
Eu quero sair de novo por aquela porta, por aquele portão, e descer para as ruas onde agora não há tanques, mas por onde rolam as esteiras de uma mídia que esteve atrás deles quando eu não tinha nem seis anos. E que agora ocupa a vanguarda do golpe.
Como o flautista de Hamelin, ela diz que nos vai livrar dos ratos e, depois, sua melodia hipnótica serve para levar as crianças a uma caverna escura.
Eu estive lá. Não quero voltar. Não quero meus filhos lá.
Eu quero sair de novo por aquela porta, por aquele portão, e descer para as ruas onde agora não há tanques, mas por onde rolam as esteiras de uma mídia que esteve atrás deles quando eu não tinha nem seis anos. E que agora ocupa a vanguarda do golpe.
Como o flautista de Hamelin, ela diz que nos vai livrar dos ratos e, depois, sua melodia hipnótica serve para levar as crianças a uma caverna escura.
Eu estive lá. Não quero voltar. Não quero meus filhos lá.
Meninos, acreditem, eu vi nascer o medo
Eu ainda não tinha seis anos. Morava num apartamento térreo, na
Travessa Miracema, no Méier, onde havia um quartinho, externo, onde eu
tomava café da manhã com meu pai: para mim, com leite, para...
Eu ainda não tinha seis anos.
Morava num apartamento térreo, na Travessa Miracema, no Méier, onde havia um quartinho, externo, onde eu tomava café da manhã com meu pai: para mim, com leite, para ele jamais, porque detestava – como eu, hoje, só de olhar e sentir o cheiro do leite fervido, porque se o fervia, então.
O pão era dividido: ele comia as cascas, eu o miolo: Cascadura e Madureira, brincadeira com dois bairros do subúrbio carioca de onde vinha a família.
Sobre a mesa, o rádio Semp, all transistor, com o tamanho “portátil” quase de uma caixa de bombons e sua capa de couro, porque era bem precioso.
Dele, saem os tons inesquecíveis da velha Rádio Jornal do Brasil e diz-se algo que eu, óbvio, não entendi. Mas que o deixou lívido, silente, logo ele que sempre falou e fala pelos cotovelos.
Saiu repentinamente, largando porta do apartamento e o pequeno portão do prédio, que tinha um jardim à frente, abertos.
O guri, claro, foi atrás, pela porta, pelo jardim, pelo portão e alguns metros pela calçada direita da pequena rua, que desembocava diante da antiga Mesbla da Dias da Cruz, onde passavam os bondes, a principal “do lado de cá” do bairro dividido pela linha férrea, onde o lado esquerdo era o “de cá” e o direito “o de lá”.
Havia tanques, não bondes.
E daí guardo a memória do único dia em que meu pai foi fisicamente bruto comigo. Depois dos livros sumindo, papéis queimados ou picados no vaso sanitário, um “tio” que apareceu por lá e depois sumiu.
Tem muito tempo: 1º de abril, depois de amanhã, há 52 anos.
Eu só voltaria a encontrar a ditadura já molecote, quando ouvi algo sobre o filho de uma professora, amiga de minha mãe, “ter sumido”.
Sumia-se.
Sumia-se do Brasil – Chico, Caetano, Gil – ou sumia-se para nunca mais.
De política não se falava, salvo nas citações muito discretas e algo debochadas à “Redentora”, apelido da “Revolução” que viera nos devolver a moralidade e a democracia.
Os “coxinhas” de então eram os lacerdistas. Tão chatos que até a um mosquito batizaram de “lacerdinha”, porque zumbia o tempo todo e irritantemente.
E ainda tinha algo melhor que hoje, ao menos. Naqueles tempos, além dos playboys da Zona Sul, lacerdistas eram as velhas chatas – as “mal-amadas” – que implicavam com a garotada e “dedo-duro” era a condição mais abjeta que alguém poderia ter. “(al)Caguete merece cacete”.
Não vou falar da política, que descobri nos anos 70 e que era tão fácil descobrir que, em 1974, o jingle que passava na Lei Falcão – a propaganda eleitoral só de retratos e musiquinhas – do partido consentido de “oposição” dizia: é o M, é o D, é o B, nem precisa explicar porque.
Quero apenas falar do medo, Quero apenas falar da escuridão opressiva, daquela que o Chico cantou que “na gente deu o hábito de caminhar pelas trevas, de murmurar entre as pregas, de tirar leite das pedras”.
Eu quero sair de novo por aquela porta, por aquele portão, e descer para as ruas onde agora não há tanques, mas por onde rolam as esteiras de uma mídia que esteve atrás deles quando eu não tinha nem seis anos. E que agora ocupa a vanguarda do golpe.
Como o flautista de Hamelin, ela diz que nos vai livrar dos ratos e, depois, sua melodia hipnótica serve para levar as crianças a uma caverna escura.
copiado http://www.tijolaco.com.br/blog/a
Eu estive lá. Não quero voltar. Não quero meus filhos lá.
À rua, à luz.
Eu ainda não tinha seis anos.
Morava num apartamento térreo, na Travessa Miracema, no Méier, onde havia um quartinho, externo, onde eu tomava café da manhã com meu pai: para mim, com leite, para ele jamais, porque detestava – como eu, hoje, só de olhar e sentir o cheiro do leite fervido, porque se o fervia, então.
O pão era dividido: ele comia as cascas, eu o miolo: Cascadura e Madureira, brincadeira com dois bairros do subúrbio carioca de onde vinha a família.
Sobre a mesa, o rádio Semp, all transistor, com o tamanho “portátil” quase de uma caixa de bombons e sua capa de couro, porque era bem precioso.
Dele, saem os tons inesquecíveis da velha Rádio Jornal do Brasil e diz-se algo que eu, óbvio, não entendi. Mas que o deixou lívido, silente, logo ele que sempre falou e fala pelos cotovelos.
Saiu repentinamente, largando porta do apartamento e o pequeno portão do prédio, que tinha um jardim à frente, abertos.
O guri, claro, foi atrás, pela porta, pelo jardim, pelo portão e alguns metros pela calçada direita da pequena rua, que desembocava diante da antiga Mesbla da Dias da Cruz, onde passavam os bondes, a principal “do lado de cá” do bairro dividido pela linha férrea, onde o lado esquerdo era o “de cá” e o direito “o de lá”.
Havia tanques, não bondes.
E daí guardo a memória do único dia em que meu pai foi fisicamente bruto comigo. Depois dos livros sumindo, papéis queimados ou picados no vaso sanitário, um “tio” que apareceu por lá e depois sumiu.
Tem muito tempo: 1º de abril, depois de amanhã, há 52 anos.
Eu só voltaria a encontrar a ditadura já molecote, quando ouvi algo sobre o filho de uma professora, amiga de minha mãe, “ter sumido”.
Sumia-se.
Sumia-se do Brasil – Chico, Caetano, Gil – ou sumia-se para nunca mais.
De política não se falava, salvo nas citações muito discretas e algo debochadas à “Redentora”, apelido da “Revolução” que viera nos devolver a moralidade e a democracia.
Os “coxinhas” de então eram os lacerdistas. Tão chatos que até a um mosquito batizaram de “lacerdinha”, porque zumbia o tempo todo e irritantemente.
E ainda tinha algo melhor que hoje, ao menos. Naqueles tempos, além dos playboys da Zona Sul, lacerdistas eram as velhas chatas – as “mal-amadas” – que implicavam com a garotada e “dedo-duro” era a condição mais abjeta que alguém poderia ter. “(al)Caguete merece cacete”.
Não vou falar da política, que descobri nos anos 70 e que era tão fácil descobrir que, em 1974, o jingle que passava na Lei Falcão – a propaganda eleitoral só de retratos e musiquinhas – do partido consentido de “oposição” dizia: é o M, é o D, é o B, nem precisa explicar porque.
Quero apenas falar do medo, Quero apenas falar da escuridão opressiva, daquela que o Chico cantou que “na gente deu o hábito de caminhar pelas trevas, de murmurar entre as pregas, de tirar leite das pedras”.
Eu quero sair de novo por aquela porta, por aquele portão, e descer para as ruas onde agora não há tanques, mas por onde rolam as esteiras de uma mídia que esteve atrás deles quando eu não tinha nem seis anos. E que agora ocupa a vanguarda do golpe.
Como o flautista de Hamelin, ela diz que nos vai livrar dos ratos e, depois, sua melodia hipnótica serve para levar as crianças a uma caverna escura.
copiado http://www.tijolaco.com.br/blog/a
Eu estive lá. Não quero voltar. Não quero meus filhos lá.
À rua, à luz.
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