Brexit
Londres pede divórcio em março e relação com UE vai ser "única"
Chefe
do governo britânico definiu ontem, em Birmingham, uma data o início
das negociações com Bruxelas. Direito da UE terá de passar pelo crivo de
Parlamento britânico.
O processo
de negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia terá
início, o mais tardar, no final de março, anunciou ontem a
primeira-ministra Theresa May, falando na conferência anual dos
conservadores britânicos a decorrer em Birmingham.
"Tendo
votado pela saída [da UE], o público espera ver no horizonte, a breve
trecho, o momento em que formalmente deixamos" o bloco europeu, disse
May. Assim, prosseguiu, "vamos invocar o artigo 50 do Tratado de Lisboa o
mais tardar no final de março do próximo ano". Para May, o resultado do
referendo de junho foi claro. "E legítimo. Foi o maior voto pela
mudança que este país jamais conheceu. Brexit [o voto pela saída] significa brexit. E é isso que sucederá e com sucesso".
Pouco
tempo depois da primeira-ministra conservadora terminar a alocução em
Birmingham, a televisão Sky News referia que um grupo de trabalho estava
a preparar o conjunto de instrumentos necessários para que o processo
de saída da UE fosse "mais acelerado" e aventava a hipótese da
comunicação de Londres a Bruxelas ser efetuada "algures em janeiro".
Numa
reação às palavras de May, o presidente do Conselho Europeu, Donald
Tusk, escreveu na sua conta do Twitter que "este anúncio traz clareza ao
início das negociações" para o brexit, referindo em seguida que a "UE atuará de forma a defender os seus interesses".
As
negociações que se seguirão "não vão criar uma relação parecida com
aquela que existiu nos últimos 40 anos" - o Reino Unido aderiu à então
Comunidade Económica Europeia em janeiro de 1973. A relação futura será
"única"; não será "a do modelo da Noruega" nem "a do modelo da Suíça",
disse May. Será uma relação entre "um Reino Unido independente e
soberano" com a UE.
Com o anúncio em
Birmingham, May alcança um objetivo interno importante e esclarece uma
dúvida que pairava sobre a estratégia a prosseguir no plano das
negociações com Bruxelas. O objetivo interno foi o de acalmar os setores
eurocéticos mais radicais no seu partido e o eleitorado que votou pela
saída, ao indicar claramente uma data para o início do divórcio com a
UE; a indicação expressa desta torna também claro, no plano da
estratégia negocial com Bruxelas, que os cálculos de Londres não vão
estar dependentes de duas relevantes eleições a suceder no próximo ano:
as presidenciais francesas, em abril-maio, e as legislativas na
Alemanha, em setembro. Contudo, o resultado de ambas as eleições poderá,
ainda que de forma indireta, ter implicações no processo negocial, a
verificarem-se mudanças nas pessoas e partidos no poder em Paris e
Berlim.
Tensão com Bruxelas
As
negociações têm um prazo previsto de dois anos, que pode ser prolongado
por mútuo acordo, e nelas antecipa-se que o principal ponto de tensão
entre Londres e Bruxelas seja o respeitante à livre circulação de
pessoas. May - que antes da intervenção em Birmingham teve duas
entrevistas divulgadas ontem, uma à BBC e outra ao The Sunday Times
- tem advogado maior controlo na entrada de nacionais de países da UE
no Reino Unido, em linha com um dos grandes argumentos do brexit.
Ora, Bruxelas e a maioria dos dirigentes dos 27 Estados membros têm
afirmado que o acesso ao mercado único de livre circulação de bens,
pessoas e capitais, não é divisível.
Na
sua intervenção, a governante britânica enunciou uma série de aspectos
centrais para Londres e que vão delinear as relações futuras entre o
Reino Unido e a UE. Batendo na tecla da soberania nacional, May
antecipou a apresentação perante o Parlamento, em maio de 2017, de uma
lei revogatória da legislação da UE de aplicação automática no Reino
Unido. Uma lei a entrar em vigor no primeiro dia após a saída da UE. "O
seu efeito será claro. As nossas leis não terão origem em Bruxelas mas
em Westminster [o Parlamento britânico]. Os juízes que interpretam essas
leis não estarão sentados no Luxemburgo, mas nos tribunais deste país. O
Direito da UE deixará de ter valor" no Reino Unido mas será aplicado
enquanto legislação nacional nos aspectos considerados relevantes para o
Parlamento britânico.
Apesar destas declarações, que reproduzem um dos argumentos da campanha pelo brexit
, May afirmou que o Direito da UE será transformado em Direito
britânico, na medida em que seja do interesse do Reino Unido. "O
Parlamento (...) poderá emendar, chumbar ou melhorar qualquer lei" com
origem no processo de criação legislativo da UE. A importância deste
aspecto é que as "mesmas regras e leis irão aplicar-se" aos empresários e
trabalhadores "depois do brexit como antes se aplicavam". Em
relação a estes últimos, May garantiu que "enquanto for
primeira-ministra, os seus direitos estarão garantidos na legislação em
vigor".
Noutro momento, a governante
afirmou que "tudo o que fizermos ao abandonar a UE tem de estar de
acordo com as leis e os tratados a que nos obrigámos, e temos de dar o
máximo de certeza aos trabalhadores e aos investidores".
Um
dos argumentos da campanha pelo sim à UE é que a saída implicava o
abandono do quadro legal europeu, com a consequente redução dos direitos
e garantias dos trabalhadores associadas à liberalização da legislação
na área laboral.
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