Brasil Temer há 3 meses no poder e sob ameaça de impeachment Ex-ministro gravou presidente a fazer pressão para favorecer interesse imobiliário de outro membro do executivo. Governo Temer perde quinto ministro e enfrenta denúncias de corrupção

Ex-ministro gravou presidente a fazer pressão para favorecer interesse imobiliário de outro membro do executivo.

Delação premiada de 80 executivos da Odebrecht é mais uma espada sobre a cabeça do presidente Michel Temer
Ex-ministro gravou presidente a fazer pressão para favorecer interesse imobiliário de outro membro do executivo. Oposição exige destituição. E ainda há a economia e a Lava-Jato.
A palavra impeachment nunca saiu da agenda política do Brasil - a novidade é que agora o sujeito da frase é Michel Temer (PMDB), o vice-presidente que assumiu o governo há três meses no lugar da destituída Dilma Rousseff (PT). Um escândalo envolvendo o próprio presidente e dois ministros demissionários levou a oposição a solicitar parecer jurídico para avaliar a hipótese de avançar com o pedido. "É o presidente da República a usar o seu cargo para pressionar um ministro por interesses particulares, isso foi dito em depoimento na polícia federal, não tem conversa de "ouvi dizer"", afirmou Lindbergh Farias, deputado e provável futuro presidente do PT.
O Caso Geddel, assim chamado por causa do seu pivô, o ministro da secretaria do governo Geddel Vieira Lima (PMDB), começou no fim de semana passado, quando o ministro da Cultura demissionário Marcelo Calero acusou o colega "de ter pressionado um agente público para obter favores privados". Em causa uma decisão do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), cuja tutela é do Ministério da Cultura, de impedir, por se situar em área de valor cultural, a construção de um luxuoso edifício com 30 andares em Salvador, no qual Geddel comprou, ainda na planta, um apartamento avaliado em perto de um milhão de euros.
Calero, que não tem ligação partidária, contou à polícia federal - e apresentou conversas gravadas no Palácio do Planalto que o provam - que foi repreendido por Temer por não ter resolvido o caso em favor de Geddel. "O presidente disse-me "estas pressões são normais, a política tem destas coisas" (...) fiquei dececionado por ter sido repreendido por ele e demiti-me", declarou o ex-ministro à polícia, num depoimento que deve agora subir ao Supremo Tribunal Federal.
"A opinião pública pergunta-se como o governo, a debater-se com uma recessão que teima em não ir embora, sem a legitimidade do voto e com a ampliação das investigações da Lava-Jato, arranja tempo para debater questões ligadas a um apartamento de um dos mais diretos colaboradores do presidente enquanto pede sacrifícios aos brasileiros", questionou a editorialista Renata Lo Prete, da TV Globo. Eliane Cantanhêde, colunista no jornal O Estado de S. Paulo, escreve que "menos de três meses depois da posse, o país vive uma guerra: a previsão de crescimento piora, o núcleo duro do governo amolece diante das delações da Odebrecht e a Crise Geddel adentra o gabinete presidencial e cai no colo do próprio Temer".
Além da oposição e da generalidade da imprensa, um grupo de artistas, como Caetano Veloso, Luiz Fernando Veríssimo ou Wagner Moura, apoiou em carta a decisão do Iphan em relação ao edifício em causa. E Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior, dois dos três subscritores do pedido de impeachment de Dilma, exigiram a demissão de Geddel, elo de ligação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional e um dos mais fiéis e antigos escudeiros de Temer, que acabaria por sair ontem à tarde.
Três meses depois de se tornar presidente definitivo, Temer enfrenta ainda a delação premiada de quase 80 executivos da Odebrecht que ameaça, segundo fontes próximas do batalhão de advogados envolvidos no acordo, fazer ruir o regime e dividir a Operação Lava-Jato em antes e depois desta delação. A delação diz respeito a 35,5 mil milhões de reais [cerca de 10 mil milhões de euros] em contratos firmados entre a construtora e a Petrobras e desviados, em parte, para campanhas eleitorais de parlamentares e outros detentores de cargos públicos. As mesmas fontes junto ao processo garantem que ministros e membros de Temer serão atingidos "de forma fatal" pela delação ou, no mínimo, "arranhados" pelo que for dito.
Em paralelo, corre ainda ação no Tribunal Superior Eleitoral que julga irregularidades nas contas de campanha de Dilma à presidência, em 2014, mas que pode vincular Temer, candidato a vice na ocasião, e resultar na destituição do atual chefe de estado. "A ação será a mais importante da história do tribunal", adverte Herman Benjamin, o juiz encarregado do caso.
Tensões políticas e judiciais à parte, após três meses o governo também não pode celebrar os números na economia. Os dados previstos para o crescimento, para a inflação e para o desemprego foram todos revistos em baixa. Pior: a eleição do protecionista Donald Trump, que às vésperas do sufrágio chegou a ser classificada como "pesadelo" pelo ministro dos Negócios Estrangeiros José Serra (PSDB), lançou mais incertezas nos mercados nacionais.
Em São Paulo

 copiado  http://www.dn.pt/portugal/interior/

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