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Cármen Lúcia manda PGR investigar Geddel; Calero diz que Temer o pressionou

“É a hora de sair”, diz Geddel em carta para Temer

Cármen Lúcia manda PGR investigar Geddel; Calero diz que Temer o pressionou

Em depoimento à Polícia Federal já distribuído à Procuradoria-Geral da República, ex-ministro da Cultura acusa presidente da República de pressioná-lo para atender demanda do secretário especial de governo. Oposição já fala em pedir impeachment do peemedebista, que negou irregularidades por meio de nota


EBC
Calero acusa Temer e Geddel de pressão por liberação de obra
  Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Cármen Lúcia encaminhou nesta quinta-feira (24) à Procuradoria-Geral da República (PGR) o depoimento em que o agora ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, acusa o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, de pressioná-lo para liberar a obra de um edifício em Salvador (BA), em uma área tombada como patrimônio histórico. No prédio, Geddel possui um apartamento de luxo. No mesmo depoimento, Calero diz que o presidente Michel Temer também o pressionou no sentido de encontrar uma “saída” para a liberação do empreendimento. Por meio de nota (íntegra abaixo) lida no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira (25), pelo porta-voz da Presidência da República, Alexandre Parola, Temer negou as acusações e disse que se sempre orienta por pareceres técnicos para autorizar obras e demais ações federais.
As informações foram veiculadas há pouco no site do jornal Folha de S.Paulo. Na última semana, Calero encaminhou a Temer carta de demissão depois de acusar Geddel, em entrevista ao próprio jornal paulista, de “pressioná-lo” para que o Iphan, órgão de patrimônio vinculado ao Ministério da Cultura, autorizasse a cosecução do projeto imobiliário onde o secretário de governo comprou uma unidade – como este site mostrou no último sábado (19), os apartamentos no local custam entre R$ 2,6 milhões e R$ 4,7 milhões.
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No depoimento, Calero detalha a mencionada pressão de Temer e a “irritação” de Geddel. “[O depoente declara] que na quinta, 17, o depoente foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado ‘dificuldades operacionais’ em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que então o presidente disse ao depoente para que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU [Advocacia-Geral da União], porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução”, diz o ex-ministro, em transcrição encaminhada ao Supremo, em seguida encaminhada por Cármen à PGR.
Na sequência do depoimento, Calero diz que o presidente encarava com naturalidade o fato de Geddel pressioná-lo para obter proveito particular. O jornal lembra que Geddel é o principal articulador político na gestão Temer e é amigo do peeemedebista há mais de duas décadas. “Que, no final da conversa, o presidente disse ao depoente ‘que a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão’”, registra a PF em outro trecho do depoimento. O ex-ministro da Cultura diz ainda ter se sentido “decepcionado” com a postura de Temer, por tê-lo “enquadrado”, de maneira que “sua única saída foi apresentar seu pedido de demissão”.
Na berlinda e alvo de pressão da nova oposição no Congresso, o ministro – um dos homens fortes do governo Temer – admite ter feito um pedido de “acompanhamento”, mas nega ter feito pressão para a reversão de um parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) contra o edifício. No local, há um conjunto de edificações públicas e privadas dos séculos 17 e 18 já tombadas pelo Iphan. O conjunto arquitetônico faz parte do acervo visual do Porto da Barra, região central de Salvador conhecida pelos festejos carnavalescos do circuito Barra-Ondina.
Ao receber a notícia em plenário, os senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ) comentaram a denúncia e fizeram críticas à gestão Temer, ambos classificando como “muito grave” a situação. Depois da sessão, Lindbergh anunciou que consultará juristas e técnicos do Senado com o objetivo de formalizar um pedido de impeachment do peemedebista.
Reincidência
Esta não é a primeira vez que Geddel tem seu nome associado ao empreendimento. Em julho de 2015, o então ex-deputado usou sua conta no Twitter para acusar o banqueiro Marcos Mariani, do banco BBM, de assediar vereadores para barrar construções na região nobre – construção embargada na avenida Sete de Setembro, o La Vue Ladeira da Barra.
“O banqueiro Marcos Mariani tá assediando vereadores, pois ele se acha o dono da Lad (Ladeira) da Barra”, atacou na ocasião. Mariani é dono de uma mansão próxima ao local do prédio. Depois da repercussão negativa na Câmara Municipal de suas declarações, o peemedebista voltou à rede social para esclarecer quem era o alvo de seu descontentamento: “Em falsa polêmica ñ entro Meu foco não é Vereador, é banqueiro que para preservar seus privilégios tenta por em risco empregos em Salvador”.
A construção enfrentou resistência desde o início. Um parecer do Escritório Técnico de Licenciamento e Fiscalização, composto por técnicos do Iphan, do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (Ipac) e da Secretaria Municipal de Urbanismo se posicionou contra o empreendimento. Com base em parecer individual de um coordenador-técnico do Iphan na Bahia, a prefeitura de Salvador, comandada por ACM Neto (DEM), aliado de Geddel, autorizou a obra.
A seccional baiana do Instituto dos Arquitetos do Brasil entrou com uma ação civil pública na Justiça pedindo a revisão do parecer. O Ministério Público Federal pediu, no último dia 10, a suspensão das obras e da venda das unidades habitacionais até que o projeto fosse readequado com base nos padrões das edificações da região.
Outro lado
Embora admita ter feito pedido ao então ministro da Cultura para que o Iphan revisse sua posição em relação ao embargo da obra, Geddel nega que tenha feito pressão ou ameaçado procurar Temer para destituir a presidente do instituto. Segundo ele, seu objetivo era garantir os empregos gerados com o empreendimento em tempos de crise.
“Em 2015, eu fiz uma promessa de compra e venda de uma unidade que estava lançada, sem nenhum problema, com todas as licenças colocadas e que vários outros adquiriram uma unidade de apartamento. O que não me tira, me dá legitimidade para levar a ele um problema por conhecer o que estava ocorrendo, estar preocupado, como todo cidadão fica preocupado em uma situação dessa. O que fica muito distante de pressão indevida. Tanto que o que prevaleceu foi a posição dele.” O ministro disse, ainda, que conversou com o presidente Michel Temer neste sábado e recebeu “apoio” e “confiança” do colega de partido.
Alguns desdobramentos do assunto têm complicado a situação de Geddel, entre eles a descoberta de que membros de sua família representam, em ação contra o Iphan, a construtora responsável pela obra. Mesmo assim, líderes da base de Temer anunciaram desagravo ao ministro, dizendo haver “muita tempestade por assunto pequeno”.
Leia a nota lida por Alexandre Parola no Planalto:
Sobre informações hoje publicadas pela imprensa em relação ao ex-ministro Marcelo Calero, a Presidência da República esclarece que:
1 – O presidente Michel Temer conversou duas vezes com o então titular da Cultura para solucionar impasse na sua equipe e evitar conflitos entre seus ministros de Estado;
2 – sempre endossou caminhos técnicos para solução de licenças em obras ou ações de governo. Reiterou isso ao ex-ministro em seus encontros e refirmou essa postura ao atual ministro Roberto Freire, que recebeu instruções explícitas para manter os pareceres técnicos, que, reitere-se, foram mantidos;
3 – o presidente buscou arbitrar conflitos entre os ministros e órgãos da Cultura sugerindo a avaliação jurídica da Advocacia Geral da União, que tem competência legal para solucionar eventuais dúvidas entre órgãos da administração pública, como estabelece o decreto 7392/2010, já que havia divergências entre o Iphan estadual e o Iphan federal. Em seu artigo 14, inciso III, o decreto diz que cabe à AGU identificar e propor soluções para as questões jurídicas relevantes existentes nos diversos órgãos da administração pública federal.
4 – O presidente trata todos seus ministros como iguais. E jamais induziu algum deles a tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções. Assim procedeu em relação ao ex-ministro da Cultura, que corretamente relatou estes fatos em entrevistas concedidas. É a mais pura verdade que o presidente Michel Temer tentou demover o ex-ministro de seu pedido de demissão e elogiou seu trabalho à frente da Pasta;
5 – O ex-ministro sempre teve comportamento irreparável enquanto esteve no cargo. Portanto, estranha sua afirmação, agora, de que o presidente o teria enquadrado ou pedido solução que não fosse técnica. Especialmente, surpreendem o presidente da República, boatos de que o ex-ministro teria solicitado uma segunda audiência, na quinta-feira (17), somente com o intuito de gravar clandestinamente conversa com o presidente da República para posterior divulgação.

“É a hora de sair”, diz Geddel em carta para Temer

Ministro da Secretaria de Governo pede exoneração do cargo depois de denúncias apresentadas pelo ex-mandatário da Cultura Marcelo Calero

Roosewelt Pinheiro/ABr
Roosewelt Pinheiro/ABr
Geddel Vieira Lima não é mais ministro do governo de Michel Temer
  O ministro Geddel Vieira Lima não comanda mais a Secretaria de Governo de Michel Temer (PMDB). Por meio de uma carta, Geddel afirmou que “é a hora de sair” e creditou seu pedido ao sofrimento de seus familiares com as denúncias contra ele nos últimos dias. Ele é o sexto ministro a deixar o governo em seis meses de gestão peemdebista.
A carta com a decisão foi entregue a Temer na manha desta sexta-feira (25). No texto, Geddel escreveu: “Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto”. Pediu desculpas, ainda, às pessoas que estão sendo alcançadas pelas denúncias e pela “dimensão das interpretações dadas”.
Geddel é o sexto ministro a deixar o governo Temer, que assumiu em maio. Antes saíram Marcelo Calero (Cultura), Henrique Alves (Turismo), Fábio Osório (AGU), Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência).
O ministro da Secretaria de Governo não resistiu às acusações do ex-ministro da Cultura. Ele foi acusado de pressionar Callero para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizasse a construção de um residencial em uma área nobre tomada em Salvador. Em depoimento à Polícia Federal (PF), Calero também afirmou – em versão confirmada por Temer -, ter conversado sobre o caso com o presidente da República.
Veja a íntegra da carta de Geddel:
“Meu fraterno amigo Presidente Michel Temer,
Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair.
Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançadas, mas o Brasil é maior que tudo isso.
Fiz minha mais profunda reflexão e fruto dela apresento aqui este meu pedido de exoneração do honroso cargo que com dedicação venho exercendo.
Retornado a Bahia, sigo como ardoroso torcedor do nosso governo, capitaneado por um Presidente sério, ético, afável no trato com todos, rogando que, sob seus contínuos esforços, tenhamos a cada dia um país melhor.
Aos Congressistas, o meu sincero agradecimento pelo apoio e colaboração que deram na aprovação de importantes medidas para o Brasil.
Um forte abraço, meu querido amigo.
Geddel Vieira Lima”
COPIADO  http://congressoemfoco.uol.com.br/

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