Trump e o futuro do socialismo: as perguntas após a morte de Fidel Castro


Trump e o futuro do socialismo: as perguntas após a morte de Fidel Castro
Fidel Castro comandou Cuba durante 48 anos e continuou influenciando no destino da ilha até a sua morte.

27/11/2016 - 15:22 

 Trump e o futuro do socialismo: as perguntas após a morte de Fidel Castro

AFP / DON EMMERT O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em Bedminster, no dia 19 de novembro de 2016
Fidel Castro comandou Cuba durante 48 anos e continuou influenciando no destino da ilha até a sua morte.
Com Fidel se vai o inimigo firme de Washington, o defensor do socialismo a qualquer custo, o símbolo da resistência teimosa e intransigente, que não não deu trégua à dissidência.
O que acontecerá com o modelo socialista que implementou e com as reformas feitas por seu irmão Raúl? Continuará a aproximação com os Estados Unidos agora que o imprevisível Donald Trump chegará à Casa Branca?
Essas perguntas são levantadas após a morte do dirigente aos 90 anos.
- Adeus ao socialismo?
Não, pelo menos é essa a resposta de vários analistas consultados pela AFP. "O socialismo cubano sobreviveu à longa doença de Fidel Castro e provavelmente acontecerá o mesmo após sua morte", disse Jorge Duany, diretor do Instituto de Pesquisas Cubanas da Universidade Internacional da Flórida.
Sob o modelo de corte soviético, os cubanos recebem saúde e educação gratuitas, mas percebem que seus salários talvez sejam os mais baixos da América, não ultrapassando, em média, os 29 dólares por mês. Ao mesmo tempo, o Estado, que controla 80% da economia, acumula sérios problemas de ineficiência.
"O que dificilmente continuará intacto é o modelo de um estado centralizado de bem-estar, com um só partido político (o comunista), e monopolizador dos meios de produção e comunicação", acrescentou.
Para Arturo López-Levy, professor da Universidade do Texas Rio Grande Valley, a população cubana "não é dada a devaneios" e "é conservadora na defesa da tranquilidade social", o que permite supor que dificilmente a ausência de Fidel tratá tensões.
Talvez por isso, para o analista, a incipiente oposição cubana enfrente "as piores circunstâncias", porque por um lado está desconectada dos problemas centrais do cubano médio e, por outro, seus principais líderes se identificam com o pedido a Trump para que se desmontem os avanços conquistados com o presidente Barack Obama.
- E a abertura econômica?
"A morte de Fidel Castro provavelmente acelerará as reformas econômicas em curso em Cuba sob a liderança de seu irmão Raúl. Talvez seja preciso esperar a saída de Raúl da presidência em 2018, segundo o anunciado, para perceber com mais clareza se haverá mudanças substanciais na cúpula dirigente", aponta Duany.
Sem se afastar do rumo socialista, o caçula dos Castro, de 85 anos, deu início a uma abertura em relação ao trabalho privado e ao investimento estrangeiro.
Cuba está em melhores condições do que antes para continuar as reformas, acredita López-Levy. Para ele, a chave está nas boas relaciones diplomáticas que se conseguiu consolidar.
A ilha "está mais integrada que nunca com seu entorno regional", e tem laços de afinidade tanto com aliados dos Estados Unidos (Europa e Japão), como com seus rivais (Rússia e China), ressaltou.
Por sua vez, Duany insiste que "a facção mais 'pragmática' do governo cubano, encabeçada por Raúl Castro, deve ter agora mais margem de manobra para continuar com o processo de 'atualização' do modelo cubano".
Entretanto, Raúl Castro insistiu que as mudanças previstas serão aplicadas paulatinamente, sem políticas de choque, e quando existirem as condições necessárias.
- E Trump? -
AFP/Arquivos / Nicholas Kamm Os presidentes Barack Obama (EUA) e Raúl Castro (Cuba) em reunião em 21 de março passado, em Havana
Em seu primeiro pronunciamento sobre Cuba desde a sua eleição, Trump reagiu à morte de Fidel classificando-o de "ditador brutal" e prometeu fazer "tudo o que for possível" por oferecer aos cubanos um caminho de "prosperidade e liberdade".
"Acho que em um momento como este, que é particularmente sensível para os cubanos pela morte de Fidel, expressar-se dessa maneira demonstra uma incapacidade tremenda para lidar com a diplomacia internacional", disse o acadêmico e ex-diplomata cubano Jesús Arboleya.
"Se alguma declaração unifica a maioria do povo cubano é uma declaração como essa, que é particularmente ofensiva, desrespeitosa, até desumana, sem nenhuma ética", acrescentou.
Duany é cauteloso: "Tudo indica que as relações entre Cuba e Estados Unidos serão mais tensas na administração de Trump do que foi na de Barack Obama. No entanto, ainda não sabemos no que consistirá exatamente a política do novo presidente".
"Outra incógnita é como a morte do ex-presidente Castro afetará a visão sobre Cuba do governo de Donald Trump. Seria racional que a morte do líder revolucionário ratificasse em Washington o diagnóstico de Cuba como país em transição", comenta López-Levy.
Arboleya insiste que a declaração de Trump "vai afetar o desenvolvimento das relações porque estabelece um precedente muito negativo na possibilidade de um diálogo com o governo norte-americano".
copiado  https://www.afp.com/pt/n

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