Geddel, o operativo cabo eleitoral de Temer
Um perfil de Geddel Vieira Lima, o parceiro de longa data do
presidente. Baiano de língua ferina, ele chegou ao Planalto para
exercer um dos cargos mais importantes da República, o de articulador
político. Caiu acusado de articulação dos próprios interesses
Lula Marques/AGPT
Ao pé do ouvido: Temer sempre escutou Geddel e deve boa parte de sua trajetória política ao soteropolitano
A carreira política do hoje presidente da República, Michel Temer, deve muito ao seu ex-ministro Geddel Vieira Lima, que deixou a Secretaria de Governo na sexta-feira (24) acusado de crimes como advocacia administrativa e tráfico de influência. Quando era deputado e se elegeu pela primeira vez líder da bancada do PMDB na Câmara, em 1995, Geddel foi o principal cabo eleitoral nas campanhas internas de Temer pela liderança quando se elegeu duas vezes para a Presidência da Câmara.
No seu livro de memórias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conta que Michel foi buscar o aval de FHC, então presidente da República, para se eleger líder da então maior bancada da base de apoio ao governo tucano. Ao ser questionado sobre outra candidatura, a do então deputado João Almeida, Temer avisou que Geddel vetava o concorrente por ser também baiano e não queria perder espaço político no partido no estado.
Mesmo com o apoio de nomes como Aloysio Nunes Ferreira, hoje senador do PSDB, e Alberto Goldmann, ex vice-governador de São Paulo, os peemedebistas paulistas amigos de FHC, Almeida perdeu a disputa e, hoje, é secretário-geral do PSDB.
Naquele ano, o então deputado Temer, de pouco voto e eleito na rabeira do partido, começava a virar um nome nacional. Geddel também foi articulador fundamental para que Temer se elegesse duas vezes presidente da Câmara. Em troca, Temer ajudou Geddel a ganhar cargos poderosos, como o de primeiro-secretário da Casa. A aliança da dupla fez de Geddel três vezes líder da bancada.
Suspeitas e investigações
Aos 57 anos, Geddel coleciona suspeitas. As últimas o deixam na mira da Operação Lava Jato, que o investiga como beneficiário de propina das construtoras Odebrecht e OAS. Quando ocupava o cargo de ministro, tinha foro privilegiado e os seus casos estavam sendo apurados pela Procuradoria-Geral da República.
Agora, sem o foro privilegiado, passam para a alçada do juiz Sérgio Moro ou de outro magistrado de primeira instância casos como o da pressão sobre o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, para liberar a construção de um prédio em Salvador, onde diz possuir imóvel que começou a ser construído em área tombada pelo patrimônio histórico. O Tribunal de Contas da União também já investigou Geddel por desmandos no Ministério da Integração, cargo que ocupou no segundo governo Lula.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Estilo Geddel: Calero também deu ouvidos ao ex-ministro, mas diz não ter gostado do que ouviu
Chorou no depoimento à comissão e terminou escapando da cassação com a ajuda do então presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães. Contra a pressão do pai, o filho de ACM cobrou em troca a lealdade de Geddel para suas pretensões políticas.
“Agatunado”
Alguns anos depois, o falecido senador produziu e exibiu vídeos sobre Geddel. Um deles, intitulado “Geddel vai às compras”, conta a história da compra de 12 fazendas e casas pelo ex-deputado em apenas um ano. Em outro, “O Agatunado”, o agora ex-ministro é acusado de façanhas com o dinheiro público. Na resposta, Geddel acusa ACM de ter tomado Viagra demais e Lexotan de menos. O antigo senador chegou a chamar Geddel de “ladrão” durante um depoimento prestado a uma das CPI que o investigava.
O bate-boca ferino é um das características do ex-ministro. Quando era líder do PMDB, em 2002, Geddel chamou o ex-presidente Itamar Franco, então governador de Minas Gerais, de “desleal” e “nômade partidário”. O mineiro respondeu chamando o baiano de “percevejo de gabinete”, “vendedor de sigla” e “anãozinho do orçamento”. A língua ferina Geddel continua se exercitando no Twitter, onde tem mais de 24 mil seguidores. Nesta rede social, não dispensa agressões e até xingamentos a mães de desafetos, como fez com o ator José de Abreu.
Lava Jato
Geddel foi citado por vários delatores presos na Lava Jato, em depoimentos ou troca de mensagens, como beneficiário de propina. Em um recado eletrônico, o empresário Lúcio Funaro, preso por ordem de Sérgio Moro, acusa Geddel de pressionar em favor de uma operação de R$ 330 milhões no fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS, da Caixa Econômica, onde o ex-ministro foi vice-presidente no primeiro mandato da presidente cassada Dilma Rousseff. Funaro chama Geddel de “boca de jacaré” para receber propina e de “carneirinho” para trabalhar.
Geddel também aparece em relatórios da Polícia Federal solicitando “apoio financeiro” e fazendo negócios pouco republicanos com Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS também preso na Lava Jato. Faz o mesmo com dirigentes de outras empreiteiras. O ex-ministro é citado nas mensagens do empreiteiro como um operativo lobista para a liberação de prédios em Salvador, como fez para beneficiar o com o La Vue, o último caso que apareceu.
Verão passado
Geddel já foi carlista (adepto de ACM), mudou para o PMDB e se elegeu cinco vezes deputado. Foi da base de apoio ao governo de FHC e era um dos mais ferrenhos opositores do primeiro governo Lula. Aderiu ao governo no segundo mandato do petista e, com os novos amigos, ganhou o poderoso Ministério da Integração, responsável pelas obras da transposição do Rio São Francisco. Nessa função, como neopetista temporário, agrediu o bispo de Barra, Dom Luís Flávio Cappio, contrário à obra.
O cargo o aproximou do PT da Bahia e, como compensação pela derrota eleitoral quando concorreu ao Senado, terminou vice-presidente da Caixa no governo Dilma. Rompeu com a gestão petista e saiu do posto para articular o impeachment e chegar ao Planalto em um dos cargos mais importantes da República, o de articulador político. Caiu acusado de articulação dos próprios interesses.
Mesmo tendo perdido as últimas eleições que disputou, em 2010 Geddel conseguiu eleger o irmão mais novo, Lúcio Vieira Lima, deputado federal com 200 mil votos. Ajudou a reeleger ACM Neto prefeito de Salvador e sonhava com a candidatura ao Governo da Bahia ou ao Senado em 2018. Com a demissão e as acusações a que vai responder na Justiça, perdeu força.
Há algumas semanas, quando foi questionado sobre a citação de seu nome por delatores da Lava Jato, e em conversas grampeadas e pouco republicadas de empreiteiros, Geddel respondeu: “Eu sei o que fiz no verão passado”. Sem o emprego e o poder que tinha, o ex-ministro terá tempo para encontrar o que fazer no próximo verão, além de responder a inquéritos e processos.
copiado http://congressoemfoco.uol.com.br/
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