As delações que citam o operador de propinas do PMDB Jorge Lava Jato acha pagamentos de operadores do PMDB na Suíça e nas Bahamas

Luz é apontado por delatores como um dos responsáveis por operacionalizar repasses ilícitos para nomes da cúpula da sigla    Lobista diz que operador do PMDB fez ‘repasses’ a Renan Renan pegou propina de US$ 6 mi, afirma Cerveró à Justiça As delações que citam o operador de propinas do PMDB

Jorge Luz é apontado por delatores como um dos responsáveis por operacionalizar repasses ilícitos para nomes da cúpula da sigla

Mateus Coutinho, Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo
23 Fevereiro 2017 | 09h09
Alvo de mandado de prisão preventiva na 38ª fase da Operação Lava Jato – chamada de Blackout – deflagrada nesta manhã, o lobista Jorge Luz é apontado por delatores como o operador de propinas para o PMDB no Senado no esquema de corrupção na Petrobrás.
Seu nome apareceu nas delações do ex-diretor Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró e do lobista Fernando Baiano, que afirmaram que Luz teria atuado no repasse de propinas ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Além deles, o ex-senador e também delator Delcídio Amaral afirmou em sua colaboração que Luz era um dos “principais operadores” do PMDB ao lado de Milton Lyra, que foi alvo de um mandado de condução coercitiva na Operação Omertà, 35ª fase da Lava Jato, em 26 de setembro de 2016.
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Cerveró reiterou sua versão de que Jorge Luz teria sido o responsável por repassar US$ 6 milhões em propinas a Renan Calheiros referentes a um contrato de navio-sonda da Petrobrás.




“(Jorge Luz) foi o operador que pagou os US$ 6 milhões da propina da sonda Petrobrás 10.000, foi o encarregado de pagar ao senador Renan Calheiros”, disse o delator em audiência ao juiz Sérgio Moro no ano passado. A propina teria sido repassada na época da contratação do navio-sonda, em 2006.
VEJA O TRECHO DO DEPOIMENTO EM QUE CERVERÓ CITA A PROPINA PARA RENAN CALHEIROS:
Fernando Baiano, que também atuava como operador do PMDB, afirmou que os repasses de propinas para Renan Calheiros no esquema da Petrobrás se deram todos por meio de Jorge Luz. O delator relatou ainda ter se encontrado com Luz entre o final de 2007 e o começo de 2008 para buscar apoio do PMDB para a manutenção de Cerveró na Diretoria Internacional.
“Jorge Luz, depois de obter informações, disse ao depoente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia prometido a Diretoria Internacional da Petrobrás, então ocupada por Nestor Cerveró, à bancada do PMDB mineiro na Câmara dos Deputados”, disse. “Surgiram pressões muito fortes para a demissão de Nestor Cerveró; que, diante da situação, o depoente procurou José Carlos Bumlai para que intercedesse junto à Presidência da República a fim de resolver a situação”, relatou o delator.
Ele também relatou que buscou o lobista, alvo de um mandado de prisão da Operação Blackout, para buscar apoio do PMDB para manter o ex–diretor Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobrás em 2006. Naquele ano, Costa ficou muito doente e se licenciou do cargo, com isso sua substituição começou a ser discutida.
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A partir daí, Baiano relata que foi buscar apoio do PMDB por meio do lobista Jorge Luz e relatou que teve um retorno positivo da sigla para apoiar a manutenção de Costa em troca de propinas.
Até então, a diretoria abastecia somente o PP com propinas. “Ele (Jorge Luz, lobista investigado pela Lava Jato) me retornou dizendo que tinha fechado esse acordo de apoio ao Paulo e que esse apoio seria dado pelo PMDB do Senado e que viria uma pessoa indicada por esses parlamentares pra tratar com o Paulo, essa pessoa depois eu vim a saber que era o deputado Aníbal Gomes (apontado como interlocutor de Renan pela Lava Jato)”.
O próprio Costa confirma às autoridades que passou a ter apoio do PMDB após ficar doente e admitiu que foi procurado por Aníbal Gomes. Segundo o ex-diretor, o parlamentar atuava em nome do presidente do Senado, Renan Calheiros, o que Calheiros nega.
A versão foi confirmada por Delcídio Amaral em sua delação. Segundo o ex-senador os peemedebistas do Senado “abraçaram a manutenção de Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobrás e Nestor Cerveró na Diretoria Internacional, como consequência do ‘escândalo do mensalão’”.
Segundo o ex-senador, Jorge Luz é “uma pessoa muito ligada ao PMDB paraense e alguém que atua com muita desenvoltura”.
Transener. O nome de Jorge Luz também aparece em outro depoimento de Fernando Baiano que cita o pagamento de propinas para ele e Cerverí no valor US$ 300 mil relacionadas à venda da transportadora de eletricidade Transener. Segundo os dois delatores, entre 2006 e 2007, houve um acerto para que a venda da Transener fosse desfeita com um grupo americano para, então, ser direcionada à empresa argentina Electroingeniería.

Em 2006, a Petrobrás havia fechado um acordo para vender sua participação de 50% na Citelec, sociedade que controla 52,65% da Transener, ao fundo de investimento americano Eton Park. O governo argentino, no entanto, não aprovou a operação, e a Petrobrás acabou vendendo sua participação à estatal Enarsa e à Electroingeniería por cerca de US$ 54 milhões. Segundo o delator, o lobista Jorge Luz atuou para a Electroingeniería.
Segundo o delator, o lobista Jorge Luz operacionalizou ‘os valores para o pessoal do PMDB’. Baiano disse acreditar que ‘o negócio da Transener’ chegou a Jorge Luz por meio do deputado Aníbal Gomes (PMDB/CE) ou por intermédio do o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (2005/2007 – Governo Lula). Fernando Baiano citou ainda os senadores Renan Calheiros (PMDB/AL) e Jader Barbalho (PMDB/PA).
“O pessoal do PMDB a que se refere eram Jader Barbalho, Renan Calheiros, Aníbal Gomes e acredita, embora não tenha certeza, também Silas Rondeau; que Jorge Luz comentou com o depoente que valores seriam destinados, desta operação, para Jader Barbalho e Renan Calheiros; que não acredita que Jorge Luz fosse se valer dos nomes destes políticos falsamente para se beneficiar, pois nesta época Nestor Cerveró já conhecia tais políticos e que, por isto, seria muito arriscado Jorge Luz fazer isto, pois haveria grande possibilidade de Nestor Cerveró comentar com tais políticos e estes perceberem que Jorge Luz os estaria envolvendo falsamente”, declarou Baiano.
Sargent Marine. Outro delator, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, também citou o nome de Jorge Luz em sua colaboração.

O nome do lobista veio à tona quando Costa relatou que o ex-deputado e ex-líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT), teria recebido propina de R$ 400 mil por um contrato de importação de asfalto da Petrobrás com a empresa Sargent Marine.
Costa disse que foi informado da propina ao político em uma reunião, “no ano de 2009 ou 2010″, na residência de Luz, que lhe apresentou a Sargent Marine, no Rio de Janeiro. O ex-diretor, na época à frente da diretoria de Abastecimento, afirmou que foi o responsável por convidar a empresa que firmou o contrato com a estatal petrolífera sem licitação.
Em 2015, o Estado divulgou um vídeo em que Jorge Luz e Vaccarezza aparecem caminhando lado a lado próximo ao Aeroporto de Santos Dumont, no Rio.
Contas no exterior. Paulo Roberto Costa também citou o envolvimento de Bruno Luz, outro alvo de mandado de prisão preventiva na Blackout, na abertura de contas offshore no exterior usadas para o ex-diretor da Petrobrás receber propinas.
Em seu relato ele conta que Bruno Luz ajudou a abrir a conta da offshore OST no Banco Lombard Odier na Suíça e também a conta BS Consult, no banco UBS, em Luxemburgo, ambas que estavam em nome de seu genro Humberto Sampaio Mesquita mas que eram utilizadas para receber propinas.
O próprio Humberto também decidiu colaborar e contou que o empresário Mariano Marcondes, detido pela Lava Jato no ano passado e solto após pagar fiança de R$ 3 milhões, depositava US$ 70 mil por trimestre na conta OST a título de propina paga pela Trafigura a Paulo Roberto Costa.
Além de Jorge Luz, o juiz Sérgio Moro também decretou a prisão preventiva de seu filho Bruno Luz. Também foram expedidos 15 mandados de busca e apreensão que estão sendo cumpridos no Rio de Janeiro.
Todos os políticos citados nas delações rechaçam as acusações e negam envolvimentos nas irregularidades apontadas.
COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE RENAN CALHEIROS:
“O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) reafirma que a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais é igual a zero. O senador reitera ainda que todas as suas relações com empresas, diretores ou outros investigados não ultrapassaram os limites institucionais. Embora conheça a pessoa mencionada no noticiário, não o vê há 25 anos.

Lava Jato acha pagamentos de operadores do PMDB na Suíça e nas Bahamas

Procuradoria da República, em Curitiba, afirma que Jorge Luz e Bruno Luz, alvos da Operação Blackout, usaram contas de empresas offshores no exterior para pagar propina 'de forma dissimulada'

Julia Affonso, Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Mateus Coutinho
23 Fevereiro 2017 | 09h02

Procuradoria da República no Paraná
Alvos da Operação Blackout, fase 38 da Lava Jato, os operadores do PMDB Jorge Luz e Bruno Luz usaram contas de empresas offshores no exterior para pagar propina ‘de forma dissimulada’, segundo a Procuradoria da República informou nesta quinta-feira, 23. Durante as investigações, afirma a força-tarefa da Lava Jato, foram identificados pagamentos em contas na Suíça e nas Bahamas.
Jorge Luz e Bruno Luz, pai e filho respectivamente, são investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, ‘suspeitos de intermediar propina de forma profissional e reiterada na diretoria Internacional da Petrobrás, com atuação também nas diretorias de Serviço e Abastecimento da estatal’. O cumprimento dos mandados está sendo realizado no estado do Rio de Janeiro.
A força-tarefa da Lava Jato pediu ao juiz Sérgio Moro a prisão dos lobistas Jorge e Bruno Luz por identificar que eles deixaram o Brasil e que possuem dupla nacionalidade.  Ambos estão nos EUA e já tiveram seus nomes incluídos na difusão vermelha da Interpol. Um deles deixou o Brasil em agosto do ano passado e outro em janeiro deste ano.
“As prisões foram decretadas para garantia de ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal, tendo em conta a notícia que os investigados se evadiram recentemente para o exterior, possuindo inclusive dupla nacionalidade”, afirmou o procurador da República Diogo Castor de Mattos.
A Operação Blackout ocorre dois dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) livrar das mãos do juiz federal Sérgio Moro o ex-presidente José Sarney, cacique do PMDB.
Os pedidos protocolados pela força-tarefa em Curitiba tiveram como base principal os depoimentos de colaborações premiadas reforçados pela apresentação de informações documentais, além de provas levantadas por intermédio de cooperação jurídica internacional.
De acordo com a Procuradoria da República, os dois alvos das prisões são suspeitos de utilizar contas no exterior para fazer repasse de propinas a agentes públicos. Entre os contratos da diretoria Internacional, os alvos são suspeitos de intermediar propinas na compra dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000; na operação do navio sonda Vitoria 10.000 e na venda, pela Petrobras, da Transener para a empresa Eletroengenharia.
A força-tarefa afirma ainda que ‘esporadicamente’ os investigados atuavam também em outras diretorias da Petrobrás. Na área de Abastecimento, as investigações identificaram a participação de Jorge Luz e Bruno Luz na intermediação de propinas no contrato de aluguel do terminal de tancagem celebrado entre a Petrobrás e a empresa Trafigura, e no contrato de fornecimento de asfalto com a empresa Sargent Marine.
Também foi identificada atuação dos investigados no pagamento de propinas para Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços, decorrente de contratos celebrados com a empresa Sete Brasil para exploração do pré-sal.
Na decisão em autoriza a deflagração desta fase, o juiz federal Sérgio Moro destacou que “o caráter serial dos crimes, com intermediação reiterada de pagamento de vantagem indevida a diversos agentes públicos, pelo menos dois diretores e dois gerentes da Petrobrás, em pelo menos cinco contratos diferentes da Petrobrás, aliada à duração da prática delitiva por anos e a sofisticação das condutas delitivas, com utilização de contas secretas em nome de off-shores no exterior (cinco já identificadas, sendo quatro comprovadamente utilizadas para repasses de propinas), é indicativo de atuação criminal profissional”.

  copiado  http://politica.estadao.com.br

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