Operação entra em novo período Odebrecht vai levar Lava Jato a outros partidos e Estados, diz Dallagnol Rio vira foco após prisões de Eike e Cabral e novos inquéritos

 Eike Batista chega à sede da PF no Rio para prestar depoimento na última terça-feira

Operação entra em novo período Odebrecht vai levar Lava Jato a outros partidos e Estados, diz Dallagnol

Rio vira foco após prisões de Eike e Cabral e novos inquéritos


Leandro Prazeres, Vinicius Konchinski e Flávio Costa
Do UOL, em Curitiba

  • Luis Macedo/Câmara dos Deputados
    Em entrevista ao UOL, Deltan Dallagnol diz que "filhotes" da Lava Jato devem se espalhar por diversos Estados
    Em entrevista ao UOL, Deltan Dallagnol diz que "filhotes" da Lava Jato devem se espalhar por diversos Estados
A prisão do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) e as investigações sobre o empresário Eike Batista são os primeiros efeitos de um novo período da Lava Jato. A avaliação é do coordenador da força-tarefa da operação, o procurador federal Deltan Dallagnol. Em entrevista ao UOL, ele afirmou que acordos de delação premiada da Odebrecht devem revelar casos de corrupção em vários Estados do país ligados a políticos de diversos partidos. "É natural que aconteça um desdobramento da Lava Jato com 'filhotes' da operação por todo o país", disse o procurador.
Em pouco mais de meia hora de entrevista, realizada na semana passada, em Curitiba, o procurador rebateu críticas de que a Lava Jato persegue apenas políticos do PT e do PMDB, e revelou que um dos focos da força-tarefa em 2017 são os contratos milionários da Petrobras com empresas de marketing. Confira os principais trechos da entrevista:
UOL: Em relação às investigações em curso, além de empreiteiras e bancos, que outros setores da economia entrarão no foco da Lava Jato neste ano?
Deltan Dallagnol: A Lava Jato está num movimento de expansão. Quando acontecem acordos de colaboração com pessoas e acordos de leniência com empresas, novos fatos vêm à tona. Isso já levou às empreiteiras e às empresas de publicidade. Uma das áreas para qual a Lava Jato tende a se expandir é o marketing da Petrobras.
Outra área que estamos estudando é a das instituições financeiras. Não exatamente porque não existe um controle, mas porque várias delas violaram regras para praticar atos que acabaram favorecendo a realização de crimes graves contra a sociedade. A ideia é fazer com que algumas instituições financeiras do Brasil e do exterior sejam responsabilizadas e que, com isso, possam ressarcir os cofres públicos.
É possível esperar ações relacionadas à Lava Jato, os chamados "filhotes da Lava Jato", em outros Estados além do Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e do Distrito Federal?
O STF, em dois precedentes, entendeu que fatos que não estejam relacionados a algo próximo à Petrobras não devem tramitar em Curitiba, mas em seus Estados. Isso gerou desdobramentos em São Paulo, no Rio e outras operações. Há acordos de colaboração [premiada] que estão sendo objeto de decisão o STF.
Quando o STF tomar essas decisões, ele deve decidir que os fatos revelados não devem ser todos apurados em Curitiba, mas em vários Estados. Por isso, é natural que aconteça um desdobramento da Lava Jato com "filhotes" por todo o país.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse várias vezes que há interesses estrangeiros na Lava Jato. Recentemente, integrantes do partido disseram que a Lava Jato tem responsabilidade na crise econômica. Como o senhor responde a essas críticas?
Não vou polemizar com investigados, mas posso falar sobre a relação entre Lava Jato e economia. O que vemos em estudos internacionais é que, quanto maiores os índices de corrupção em um país, menores são seus índices de desenvolvimento econômico e social.
Isso mostra que, se nós queremos um país melhor, só há uma saída: reduzir os índices de corrupção. O juiz Sérgio Moro diz que não podemos culpar o investigador por ter encontrado o cadáver.
Vários dos problemas que surgiram em decorrência da Lava Jato não estão ligados à atuação do Estado, mas sim às práticas dos crimes pelas pessoas que os cometeram anos atrás. Vemos ainda que corrupção e ineficiência econômica estão muitas vezes relacionadas.
É como se tivéssemos um paciente com um tumor. Esse tumor é a corrupção. É possível fazer uma cirurgia e extrair esse tumor. Essa cirurgia vai trazer um desconforto para o paciente durante sua recuperação. Mas essa é a única alternativa para que o paciente fique saudável no médio e longo prazo.
Não temos dúvida de que o problema da corrupção é um problema grave, enraizado, histórico e sistêmico no Brasil. Precisa ser enfrentando para que tenhamos um país melhor.
Outra crítica diz respeito ao baixo número de políticos do PSDB investigados pela operação. Na sua avaliação, há motivos para essas críticas?
De novo, eu não vou polemizar com investigados, mas posso abordar de forma geral. Existe essa crítica de que a Lava Jato é partidária porque atingiria só membros do PP, PT e PMDB. Mas existe uma razão para que isso tenha ocorrido. Essa razão é a forma como os crimes se desenvolveram.
A investigação se debruçou por um largo momento sobre os crimes praticados na Petrobras. Quem estava à frente da Petrobras eram pessoas indicadas pelo partido no poder.
Como o partido no poder foi o PT de 2003 a 2016, jamais se encontrariam pessoas de siglas da oposição, entre elas o PSDB, em cargos na Petrobras. Isso fez com que a investigação se direcionasse e encontrasse crimes praticados por pessoas de partidos da base aliada do governo, particularmente PT, PP e PMDB.
A investigação continua evoluindo e é possível e até provável que as outras frentes que estão se desenvolvendo revelem crimes praticados por uma série de outros partidos que até então não estavam implicados. Se o STF decidir que esses casos devam ser investigados aqui em Curitiba, o tratamento que vamos dar será idêntico ao dado aos outros casos.
Com base em tudo o que foi investigado até o momento, há elementos para pedir a prisão do ex-presidente Lula?
Não vou comentar casos específicos porque eles estão em discussão nos processos.
Por que a PF foi afastada das delações da Lava Jato? Esse afastamento trouxe alguma vantagem à operação?
Esses acordos estão tramitando sob sigilo. Então, é uma situação que prefiro não comentar. Mas a participação da Polícia Federal nas investigações é essencial para a Lava Jato.
Recentemente, houve uma onda de rebeliões em presídios em todo o Brasil, inclusive no Paraná. Vocês monitoram a situação dos presos da Lava Jato por conta das rebeliões?
Estamos atentos, mas não fomos informados de nenhum sinal que indique uma possibilidade de rebelião nos locais em que os presos estão.
O Congresso Nacional rejeitou as dez medidas contra corrupção propostas pelo MPF. O ministro do STF Luiz Fux que determinou uma nova votação do projeto. Vocês acreditam que as medidas serão aprovadas agora?
Se a decisão do ministro Fux for ratificada pelo plenário do STF, as medidas voltam à Câmara [dos Deputados] e eu acredito que, nessa hipótese, a Câmara terá uma nova oportunidade para reapreciar essas medidas com mais calma. Analisando as declarações feitas por vários deputados naquela madrugada em que o projeto foi votado, nós percebemos que muitos deles não tinham conhecimento correto daquilo que estavam votando. Havia declarações complemente descoladas daquilo que eles estavam votando.
Agora, voltando à Câmara, a gente acredita que as medidas poderão ser reavaliadas com mais calma e profundidade. Sobretudo considerando que quando elas tramitaram na comissão especial, elas foram aprovadas na sua maior parte.

Com prisões de Eike e Cabral e novos inquéritos, Rio vira foco da Lava Jato

Flávio Costa, Leandro Prazeres e Vinicius Konchinski
Do UOL, em Curitiba

  • Ricardo Borges/Folhapress
    Eike Batista chega à sede da PF no Rio para prestar depoimento na última terça-feira Eike Batista chega à sede da PF no Rio para prestar depoimento na última terça-feira
A prisão do servidor Ary Ferreira Filho, operador do esquema de corrupção chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB)não deixa espaço para dúvidas: de todos os "filhotes" gerados pela Operação Lava Jato em Curitiba, nenhum tem dado mais frutos do que os inquéritos conduzidos no Rio de Janeiro.
São chamados de "operações filhotes" os processos abertos em outros Estados, a partir das descobertas das investigações iniciadas em 2014 na capital paranaense sobre casos de corrupção na Petrobras.
"É natural que aconteça um desdobramento da Lava Jato com 'filhotes' da operação por todo o país", afirmou em entrevista ao UOL o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná.
Investigadores e advogados afirmaram à reportagem que os inquéritos abertos no Rio somados às informações contidas nas delações de empreiteiras, a exemplo das realizadas pelos 77 executivos da Odebrecht, vão tornar a capital fluminense protagonista da Lava Jato durante o ano de 2017.
Os desdobramentos no flanco carioca resultaram também nas prisões do próprio Cabral, de sua atual mulher, a advogada Adriana Ancelmo, e do empresário Eike Batista, dentre outras pessoas.

Operador de Cabral é preso no Rio de Janeiro

"A equipe da PF e do MPF avançaram suas investigações sobre o esquema no Rio, a partir do material recebido de Curitiba, mais do que em outros Estados", confidenciou um delegado federal que atua na Lava Jato em Curitiba.

Advogados negociam parcerias

"O esquema revelado em Curitiba mostra, mais do que qualquer outra coisa, uma tentativa de manter partidos no poder. Já no Rio o esquema é de corrupção pura e simplesmente, marcado pela ganância e despudor em relação ao trato com o dinheiro público", diz um dos advogados mais atuantes nos processos da operação, sob a condição de ter sua identidade preservada.
Uma das consequências do maior destaque do Rio no âmbito da Lava Jato é o fato de que criminalistas curitibanos e cariocas negociarem parcerias para uma atuação conjunta nos casos da Lava Jato nas duas cidades. "Tenho muitos clientes de Curitiba e no Rio e muitos advogados estão me procurando para propor parcerias", diz um criminalista do Rio, que também pediu para que seu nome fosse preservado.

Eike foi preso ao desembarcar no Rio, na última segunda-feira

Outro fato exemplar dessa ponte "Curitiba-Rio" é a abertura de uma filial carioca do escritório do advogado curitibano Antonio Figueiredo Basto. "Estamos estudando isso. Acredito que até março deve estar ok", afirma Basto. "Temos muitos clientes no Rio. Facilita o trabalho", explica.
Figueiredo Basto é o advogado que tem como clientes vários delatores de destaque na Lava Jato: o doleiro Alberto Yousseff, o ex-senador Delcídio do Amaral e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, entre outros. Ele ainda negocia com o MPF a delação Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, atualmente preso.

Juiz linha dura

Outro dado importante para o avanço da Lava Jato no Rio é a atuação do juiz federal Marcelo Bretas, considerado por muitos ainda mais "linha dura" do que Sergio Moro, responsável por julgar as ações penais da operação em primeira instância na 13ª Vara Federal de Curitiba.
Tido como sério, severo e discreto, Bretas decretou as prisões de Cabral e Eike e outros acusados. Em outro processo ligado à Lava Jato, Bretas condenou o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, a 43 anos de prisão - uma pena muito mais dura que as de Moro, que condenou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a 23 anos de cadeia.
copiado  http://www1.folha.uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Ao Planalto, deputados criticam proposta de Guedes e veem drible no teto com mudança no Fundeb Governo quer que parte do aumento na participação da União no Fundeb seja destinada à transferência direta de renda para famílias pobres

Para ajudar a educação, Políticos e quem recebe salários altos irão doar 30% do soldo que recebem mensalmente, até o Governo Federal ter f...