Sem-teto viram heróis após atentado em Manchester


AFP / Ben Stansall(23 mai) Homenagem em Manchester às vítimas do ataque terrorista
Stephen Jones dormia em uma rua vizinha à Manchester Arena quando a explosão o acordou. Chris Parker mendigava nas redondezas. Os dois viraram heróis da tragédia após ajudarem vítimas nos primeiros minutos depois do atentado.
"Eram crianças, muitas crianças cheias de sangue que gritavam e choravam", explicou nesta terça-feira à emissora de televisão ITV Stephen Jones, um homem de rosto abatido que mora na rua há mais de um ano.
"Tivemos que retirar os pregos dos braços, inclusive do rosto de uma menina", acrescentou.
"O fato de ser um sem-teto não significa que não tenha coração", afirmou. "É puro instinto ir ajudar", sentenciou.
Chris Parker, de 33 anos, contou à agência britânica Press Association que a força da explosão o derrubou no chão.
"Primeiro fui jogado no chão e depois me levantei e, ao invés de fugir, meu instinto me empurrou a correr e tentar ajudar", disse com lágrimas nos olhos.
Quando chegou, o local estava repleto de gente caída no chão.
"Vi uma menina pequena (...) Tinha perdido as pernas. Eu a enrolei em uma camiseta e perguntei: 'Onde estão o papai e a mamãe?", lembrou. A menina respondeu que o pai estava no trabalho e a mãe, na sala acima.
"Morreu nos meus braços"
Chris Parker costuma circular perto da casa de shows para pedir dinheiro aos pedestres.
Muito abalado, ele contou ter tentado reconfortar uma mulher, que acabou morrendo em seus braços.
"Ela morreu nos meus braços. Tinha uns 60 anos e me disse que tinha vindo com a família".
"O chão estava cheio de porcas e parafusos. Algumas pessoas tinham buracos nas costas", descreveu. Parker contou que as memórias mais vívidas são os gritos e o cheiro.
"São gritos que não consigo esquecer e também o cheiro (...) Não quero dizer isso, mas sentia cheiro de carne queimada", emendou.
Stephen Jones contou que o que viu não o deixa dormir, sobretudo os corpos sem vida de crianças no chão e as mães chocadas ao seu lado.
A mais jovem das vítimas tinha oito anos.
O atentado suicida, reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico e que deixou 22 mortos e 59 feridos, ocorreu na noite de segunda-feira às 22H30 locais (18H30 de Brasília) na saída de um show da cantora americana Ariana Grande.
Na terça-feira, as arrecadações na internet tinham reunido cerca de 9.400 libras (10.890 euros, 12.182 dólares) para Stephen Jones e mais de 10.000 libras (11.600 euros, 13.000 dólares) para Chris.
Michael Johns, que lançou a iniciativa para Chris, sem conhecê-lo, explicou no portal que é necessário ajudar "a uma das pessoas mais vulneráveis" da sociedade, que mostrou muito "valor e altruísmo".

copiado https://www.afp.com/pt/

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