O
deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), exonerado de cargo
ministro da Justiça, escreveu nesta quarta-feira (31) uma carta de
despedida, publicada no site da pasta (leia
a íntegra ao final desta reportagem),
na qual afirma que o presidente da República, Michel Temer, sofreu
pressões de “trôpegos estrategistas”.
O ex-ministro não especificou de onde vieram as
supostas pressões nem nomeou os estrategistas.
Serraglio
deixou o comando do ministério no domingo (28),
substituído por Torquato Jardim, que até então ocupava o
Ministério da Transparência. A pasta
da Transparência foi oferecida ao deputado, que recusou.
Nos bastidores, Serraglio foi alvo de críticas
pela falta de controle da Polícia Federal por aliados do governo
investigados pela Operação Lava Jato.
“Não
posso concluir esta quadra de minha história sem agradecer ao
presidente Michel Temer, pela confiança que em mim depositou e
porque sei das pressões que sofreu de trôpegos estrategistas”,
escreveu em um dos trechos do documento.
Ele também agradeceu ao ministro Eliseu Padilha
(Casa Civil), “que sempre me apoiou, compreendendo as dificuldades
em que eu navegava”.
O ex-ministro contestou críticas de que esteve
ausente durante a manifestação contra o governo Temer em Brasília
na quarta-feira passada (24). O protesto terminou em conflito entre
manifestantes e policiais e com oito ministérios depredados.
“Enquanto
eu estaria ausente da última manifestação na Esplanada, não
arredei um centímetro do Palácio da Justiça, acompanhando os
trabalhos comandados pelo general Santos Cruz e as ações da Força
Nacional”, escreveu.
Serraglio também diz que participou das
negociações do governo com índios que ocuparam o Ministério da
Justiça pedindo a saída dele da pasta. O ex-ministro também
menciona reuniões para colaborar com ações de segurança no Rio de
Janeiro.
Carta
Leia a íntegra da carta de Osmar Serraglio
publicada no site do Ministério da Justiça:
“Rien
est petit, quand le coeur est grand” – Victor Hugo. Tive o
privilégio, embora muito breve, de conviver com a grandiosidade que
representa este Ministério. Foi com essa lembrança do imortal
Victor Hugo que assumi as enormes responsabilidades que se enfeixam
nas competências deste Ministério.
“Rien
est petit, quand le coeur est grand”. Percebi que o eventual
sucesso de minha gestão dependeria de me cercar de pessoas
competentes, atribuindo-lhes a máxima responsabilidade. Pratiquei a
mais absoluta descentralização. Ao mesmo tempo, valorizei a
coalizão de apoio ao Governo, prestigiando o leque de partidos que a
compõem, num momento crucial de apoio às importantes reformas
iniciadas pelo presidente Temer.
É
assim que me orgulho dos secretários que, cada um em sua área,
evidenciou sua eficiência: o deputado Edinho Bez, o Dr. Astério, o
Dr. Rollo, o Dr. Humberto e o derradeiro, Gal. Santos Cruz, com sua
história, liderança e humildade, coroou a finalização das
nomeações para as Secretarias.
Com
eles, nosso secretário executivo, Dr. Levi, os Drs. Daielo e Renato
da PF e da PRF, Cel Joviano, da FN, a Embaixadora Márcia, Dr.
Cassiano, Cel. Severo, o Davi, o Marlo da Ascom, o pessoal do meu
Gabinete, Dr. Anderson, Izaías dos Santos, Dr. Rodinei, Dr. Paulo,
Dr. Helder, Dr. João, Ingrid, os Diretores, as secretárias, os
servidores, enfim, tantos que me ajudaram na caminhada.
Nesses
poucos meses, iniciava o trabalho às oito da manhã, para findá-los
prestes à madrugada. Foram dias felizes, em que mantive contato com
pessoas as mais variadas possíveis.
Realizei
347 audiências, reuni-me com 444 representantes políticos, dentre
os quais 11 governadores, 35 senadores, 245 deputados federais de 16
partidos, 93 prefeitos municipais, assim como inúmeros caciques
indígenas.
Enquanto
se dizia que não recebia índios, eles eram presença constante em
meu gabinete.
Enquanto
eu estaria ausente da última manifestação na Esplanada, não
arredei um centímetro do Palácio da Justiça, acompanhando os
trabalhos comandados pelo general Santos Cruz e as ações da Força
Nacional.
Na
invasão do Ministério, ali estava presente, colaborando com o
Governo, para o sucesso de suas reformas.
Na
organização da Operação Rio, recebi, em várias audiências, o
governador do Estado, deputados federais e da Assembleia Legislativa,
representantes de sindicatos, de entidades e empresas.
Visitei
os sistemas de segurança de cinco Estados.
Aprendi
muito.
Encaminhei
para solução grande parte das demandas recebidas.
Entre
os assuntos discutidos com representantes de todos os estados
brasileiros, figuraram a segurança pública nos estados e
municípios, segurança nas fronteiras, reforço no sistema
prisional, apoio à Polícia Federal, à Polícia Rodoviária
Federal, à Força Nacional, às guardas municipais, conflitos
envolvendo questões indígenas, etc.
Para
concretizar o Plano Nacional de Segurança Pública, conseguimos do
Presidente Michel Temer o reconhecimento de urgência para a
contratação da execução das obras de 25 penitenciárias estaduais
e 5 federais de segurança máxima, para as quais os recursos já
estão disponibilizados.
Definimos
dezenas de municípios que serão contemplados com veículos e
equipamentos, inclusive com câmeras de monitoramento para melhorar
os serviços de suas guardas municipais.
Ainda
nas questões relativas ao sistema prisional, demos um passo
importante para o fortalecimento e a ampliação da política de
reinserção social, buscando a implementação de Centrais
Integradas de Alternativas Penais. O modelo previsto é o das
Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (APACs), de
Minas Gerais, entidades civis de direito privado que promovem a
humanização das prisões com o propósito de evitar a reincidência
no crime. Para isso, o Presidente Michel Temer inseriu previsão em
Medida Provisória.
Para
agilizar os processos de demarcação de terras indígenas no âmbito
do Ministério, criamos um mutirão de trabalho. A previsão era de
que os impasses relativos a esse assunto fossem destravados e
seguissem para um desfecho com a brevidade que a importância do
assunto requer, respeitando o processo legal, a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal e o que preconiza a Constituição Federal.
Julgo
que plantamos boas sementes que, certamente, se converterão em
árvores frondosas, sob o comando do nosso novo Ministro, ilustre
jurista Torquato Jardim.
Não
posso concluir esta quadra de minha história sem agradecer ao
presidente Michel Temer, pela confiança que em mim depositou e
porque sei das pressões que sofreu de trôpegos estrategistas; ao
ministro Eliseu Padilha, que sempre me apoiou, compreendendo as
dificuldades em que eu navegava; ao meu partido, o PMDB, sob a
liderança de Baleia Rossi, cujos companheiros tanto me prestigiaram;
aos amigos das Frentes Parlamentares da Agropecuária e do
Cooperativismo, em relação aos quais, fico sinceramente sentido,
por pouco ter sido possível concretizar em tão breve tempo.
Tínhamos muitas esperanças.
Lembro
a esses amigos o famoso discurso de Martin Luther King: “... eu
tenho um sonho, que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os
filhos de ex-escravos e os filhos de ex-senhores de escravos possam
se sentar juntos à mesa da fraternidade”.
Este
é grande sonho que nos une: o de pacificar o campo, para que, na
mesa da fraternidade, possam os índios e os não-índios,
compartilhar a alegria de vivermos neste grande País.
Muito
obrigado a todos.
copiado http://g1.globo.com/
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