Polícia encontra móveis de jovem desaparecido no Acre e prende amigo dele
Bruno Borges sumiu em 27 de março e deixou vários livros escritos e símbolos desenhados no quarto. Delegado vê indícios de que desaparecimento foi planejado pelo jovem para divulgar as obras.
Por
Aline Nascimento, G1 AC, Rio Branco
31/05/2017
13h52 Atualizado há menos de 1 minuto
Marcelo
Ferreira foi preso na manhã desta quarta-feira (31) em Rio Branco
(Foto: Aline Nascimento/G1)
A
Polícia Civil do Acre encontrou móveis do estudante de psicologia
Bruno Borges, desaparecido
desde 27
de março,
e prendeu um amigo dele, Marcelo Ferreira, de 25 anos, por falso
testemunho. Segundo a polícia, Ferreira deve ser liberado ainda na
tarde desta quarta-feira (31) após depoimento.
Antes
de sumir, Bruno deixou no seu quarto apenas uma
estátua de 2 metros, mensagens nas paredes e 14 livros
criptografados.
A polícia descobriu agora que os móveis – um rack e uma cama –
estavam na
casa de Mário Gaiote, outro amigo de Bruno.
O
delegado Alcino Júnior afirmou ao G1 que
cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa de Marcelo Ferreira.
Lá, encontrou contratos deixados por Bruno destinando parte da venda
dos livros para Ferreira, Gaiote e um primo de Bruno, Eduardo Borges.
Por ter omitido essa informação em depoimento anterior, o delegado
decidiu prender Ferreira e interrogá-lo. Ele pode ser solto após
prestar esclarecimentos.
"Ele
[Marcelo Ferreira] mentiu e omitiu informações na primeira vez que
foi ouvido a respeito do caso do desaparecimento do Bruno. Inclusive,
ele foi responsável por retirar a cama e o rack do quarto do Bruno.
Ele foi conduzido até a delegacia para ser ouvido novamente, mas, no
momento, ele está preso”, disse Alcino Júnior.
Com
Ferreira, a polícia também encontrou uma porção de maconha. Por
essa infração, ele terá que assinar um termo circunstanciado de
ocorrência.
'Plano de afastamento'
O
delegado afirmou que o objetivo dos mandados judiciais era
identificar indícios da localização de Bruno e também documentos
que pudessem provar que o desaparecimento foi um plano bolado pelo
estudante.
"No
dia que o Bruno some, ele foi no cartório e registra o contrato.
Então, para nós fica muito contundente que não foi um
desaparecimento qualquer, na verdade, foi um plano consciente de
afastamento, e o contrato mostra que há prazo para divulgação
desses livros, prazo para publicação, destinação de porcentagem
para quem o ajudou, no caso, essas três pessoas que o ajudaram de
imediato. Para nós, está muito claro isso", disse Alcino
Júnior.
Segundo
o delegado, os contratos garantiam cerca de 15% do dinheiro da venda
e publicação dos livros para Marcelo Ferreira, outros 15% para
Eduardo Borges e 5% para Márcio Gaiote.
Resposta da irmã
Gabriela
Borges, irmã de Bruno, escreveu no Facebook nesta quarta que a
família já sabia do contrato sobre direitos dos livros.
"Desde
o dia do desaparecimento soubemos do contrato, e isso nunca nos disse
muita coisa a respeito. Até porque, para que os planos do Bruno deem
certo, ele precisa de dinheiro. Afinal, não dá pra construir
hospitais e ajudar quem precisa só com amor no coração. Então nem
comecem com nhenhenhe!!!", disse ela.
Segundo
ela, estão querendo denegrir a imagem do irmão. "Qual o
problema ele fazer um contrato para ajudar amigos que o ajudaram?
[...] Quem conhece o Bruno sabe exatamente do que passa em seu
coração e qual sua verdadeira intenção com a publicação da sua
obra, que por sinal, é muito interessante."
Gabriela
afirmou ainda que em breve a família fará o lançamento do primeiro
livro.
Relembre a história
A
última vez que os parentes viram Bruno foi durante um almoço em
casa. Após a refeição, todos saíram, menos Bruno. Horas depois, o
pai dele retornou e não o encontrou mais na residência.
No
quarto do rapaz, a família achou uma estátua do filósofo Giordano
Bruno (1548-1600), vários escritos pelas paredes e 14 livros
criptografados, dos quais – segundo a família – cinco
já foram decodificados.
Não havia nenhum móvel ou objeto pessoal de Bruno.
A
retirada dos móveis, as inscrições na parede, assim como a chegada
da estátua, ocorreram em um período de pouco mais de 20 dias,
período em que o quarto ficou trancado e os pais viajavam de férias.
O
artista plástico Jorge Rivasplata, autor da estátua, afirmou que
entregou o objeto ao jovem no dia 16 de março. Pelo artefato, o
artista disse que recebeu inicialmente R$ 7 mil e, em seguida, mais
R$ 3 mil. Quem custeou a obra foi o primo de Bruno, o médico
oftalmologista Eduardo Borges de Velloso Viana. Ele relatou que
transferiu R$ 20 mil para conta de Bruno, mesmo sem saber detalhes do
projeto ao qual o jovem se dedicava.
Livros criptografados
Segundo
a família, os livros tratam de ciência, filosofia, ocultismo e
física quântica. O estudante teria recebido uma “missão” para
começar a escrever os 14 livros, segundo o amigo de infância Thales
Vasconcelos, de 24 anos, que o ajudou em um dos exemplares. Apesar de
não ter se envolvido na obra inteira, o amigo contou que trabalhou
no livro 13 – intitulado “Ensaio sobre as perguntas sem
resposta”.
Nessa
obra, conforme Vasconcelos, Bruno aborda questões normalmente feitas
durante a infância: “Quem sou eu? Qual o sentido da vida? Há um
Deus?”. O amigo afirmou que Bruno falava em projeção astral, ou
seja, que conseguia se concentrar e fazer com que o espírito se
separasse do corpo, podendo “viajar” em outras dimensões.
Um áudio
obtido pelo Fantástico confirmou
as declarações de Bruno.
Outro
amigo que disse ter ajudado Bruno com o projeto foi Márcio Gaiote.
Segundo ele, o estudantede
psicologia tinha o desejo de ficar isolado e viver em uma caverna.
Bruno fazia jejum e meditação para conseguir acessar o mundo das
ideias, relatou Gaiote em entrevista ao G1,
em 11 de abril. “O Bruno emagreceu muito nos últimos dias para
concluir o projeto. Mas, ele não me deu nenhuma outra informação
para que eu possa dizer o que era o projeto."
A
família ainda não divulgou nenhum trecho escrito pelo acreano. O
delegado Fabrizzio Sobreira afirmou em 10 de abril que os amigos
que ajudaram Bruno teriam feito um pacto de sigilo para que objetivo
real do projeto não fosse revelado.
"Pelo
que nós entendemos na investigação, existia entre eles um pacto de
não revelar o projeto de Bruno. Então, nós também não podemos
forçar as pessoas que passam pela delegacia a falarem aquilo que não
querem, mesmo sob pena de cometer crime de falso testemunho. Mas,
eles não são obrigados a expor o pacto que possivelmente existiu",
afirmou à época.
copiado http://g1.globo.com/ac/
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