Christian numa manifestação em 2017, em Lisboa
| ARQUIVO GLOBAL IMAGENS /GERARDO SANTOS
Neste ano, associação de venezuelanos em Portugal Venexos já enviou dois mil quilos de medicamentos para a Venezuela. Mas precisa de mais.
Christian Höhn, de ascendência alemã, deixou a Venezuela em 1999. Tinha 22 anos e estudava Psicologia numa universidade onde havia um movimento anti-Chávez. Quando o chavismo ganhou as presidenciais e os amigos começaram a ser "caçados", vendeu o que conseguiu e veio para Portugal, onde já passara férias. "Achava que a Venezuela não podia piorar mais, mas pode. É a realidade que tenho visto todos os dias à distância", disse ao DN. Christian lidera a associação Venexos que tem enviado medicamentos que faltam nos hospitais venezuelanos. Só neste ano já seguiram dois mil quilos. Mas são precisos mais.
"A realidade é que a nível político está tudo muito parado, não houve concentrações, marchas, as pessoas têm muito medo e sabem que o circuito eleitoral está viciado. Independentemente de se votar por A ou B, vai ganhar A. Para muitos, hoje não é dia de mudança, é dia de formação da ditadura", contou. E por muito que a comunidade internacional diga que não vai reconhecer as eleições, "dentro da Venezuela isso não importa" ao presidente Nicolás Maduro, alega.
Da parte do governo português, Christian - que tem dupla nacionalidade - pede o fim de todos os negócios com o governo venezuelano. O Ministério dos Negócios Estrangeiros português não respondeu à pergunta do DN sobre se planeia ou não reconhecer o resultado. "Durante muitos anos defendíamos que tinha de haver eleições, que tinha de ser a Venezuela a resolver a situação internamente. Mas já perdemos a esperança. No último ano apelámos a uma intervenção internacional", contou Christian.
A Venexos recebe todos os dias 30 a 40 pedidos de ajuda. Depois de terem alcançado já neste mês a meta de envios de medicamentos que tinham estabelecido no jantar de Natal, dois mil quilos, o objetivo é agora chegar aos cinco mil até ao final do ano. Recentemente, também enviaram comida para crianças que são entregues a orfanatos, à Caritas e outras associações. Pessoalmente, envia encomendas para a mãe, de 82 anos, que ainda vive numa quinta isolada. "Há um ano ainda conseguia sair e comprar alguma coisa e agora não consegue. A cada 45 dias envio um contentor com 50 ou 70 quilos de comida, medicamentos, produtos de higiene", explicou.
"A Venezuela nunca foi um país de emigrantes. Os venezuelanos saíam para estudar, mas voltavam. Nos últimos cinco anos, somos o país com a maior percentagem de emigrantes do mundo. Perdemos três milhões de pessoas, não porque elas querem melhorar de vida, mas porque não têm o que comer, não têm como comprar medicamentos. Têm a sua vida em perigo", afirmou. O responsável da Venexos teme uma "escalada de saídas" após as eleições. "Muitas pessoas aguentaram mas estabeleceram um limite. O dia de hoje. Mesmo sabendo que ele [Nicolás Maduro] vai ganhar, têm uma pequena esperança. Mas se ele ganhar, vão-se embora."
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