Navios iraniano desaparecem dos radares para vender petróleo
AFP/Arquivos / ATTA KENARECargueiro iraniano em plataforma no Golfo, em 12 de março de 2017
De seus escritórios na Suécia, analistas de uma nova organização que supervisiona as entregas globais de petróleo ficaram chocados com os esforços iranianos para contornar as novas sanções dos Estados Unidos.
Desde o final de outubro, todos os navios iranianos desligam seus transponders para evitar os sistemas de rastreamento internacionais, algo sem precedentes desde que o TankerTrackers.com começou a operar em 2016.
Agora, os navios só podem ser rastreados manualmente usando imagens de satélite.
"Esta é a primeira vez que vejo um apagão geral", disse à AFP Samir Madani, cofundador da TankerTrackers.
Essa é uma das técnicas do Irã e de seus clientes para que o petróleo continue fluindo depois que as sanções dos Estados Unidos forem reativadas, a partir de segunda-feira.
"O Irã tem cerca de 30 navios na área do Golfo e os últimos 10 dias foram muito complicados, mas [...] continuamos a monitorá-los visualmente", diz a cofundadora Lisa Ward.
As melhorias dos últimos anos nas imagens de satélite permitem que empresas como a TankerTrackers observem os navios diariamente, enquanto antes as imagens chegavam apenas uma vez por semana, ou até mais.
O Irã espera que uma menor transparência permita que continue vendendo petróleo depois de 5 de novembro, quando os Estados Unidos vão reimpor a última rodada de sanções suspensas sob o acordo nuclear de 2015, do qual Washington se retirou em maio.
Mas de acordo com Joel Hancock, analista de Petróleo do grupo de serviços financeiros francês Natixis, isso não significa necessariamente que suas vendas continuarão altas.
"O principal problema com os rastreadores de cargueiros é que eles examinam as exportações, mas não as vendas", disse à AFP, explicando que as embarcações podem simplesmente estar transportando petróleo para ser armazenado na China ou em outro lugar.
Outro método - usado entre 2010 e 2015 - é manter o petróleo em grandes navios de carga ao largo da costa do Golfo.
De acordo com TankerTrackers, existem atualmente seis navios, com uma capacidade total de 11 milhões de barris, ancorados no mar como contêineres flutuantes, o que libera a capacidade no porto e permite fornecimento rápido.
- Redução das importações -
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Embora raramente haja dados precisos no mercado obscuro do petróleo, a maioria dos analistas afirma que as exportações do Irã caíram de 2,5 milhões de barris por dia em abril para 1,6 milhão em outubro.
Países que têm fortes laços de segurança e comerciais com os Estados Unidos foram rápidos em reduzir suas compras de petróleo iraniano.
A Coreia do Sul e o Japão reduziram a quase nada, e a Europa os acompanhou de perto.
Embora a União Europeia tenha prometido criar uma "entidade de propósito especial" (SPV) para proteger as empresas que compram petróleo, os analistas veem pouca probabilidade de que as companhias arrisquem punições americanas.
"Atualmente, o SPV está inoperante", adverte Henry Rome, especialista em sanções contra o Irã da consultoria Eurasia Group, com sede em Washington.
Os Estados Unidos isentaram oito países da proibição de comprar petróleo iraniano, com a condição de reduzirem substancialmente suas encomendas.
Mas os clientes mais prejudicados pela campanha americana são os maiores importadores de petróleo iraniano, a China e a Índia.
A China tem estado surpreendentemente disposta a cooperar com as sanções, em parte porque tem grandes preocupações com sua guerra comercial com Washington.
Durante o último período de sanções, a China canalizou quase todas as suas transações com o Irã pelo Banco Kunlun, controlado pelo grupo estatal de energia CNPC, que foi sancionado pelos Estados Unidos em 2012, mas protegeu o resto do setor das penalidades.
"Kunlun foi um bode expiatório, [...] mas os bancos chineses parecem ter percebido o enorme risco e são muito mais cautelosos", disse Rome.
Agora, a China poderia procurar novos caminhos para o petróleo continuar fluindo, aponta. "Parece que eles vão abrir outro canal, talvez outro banco", ressalta.
A Índia também busca mecanismos, como durante o último período de sanções.
"A diferença na outra ocasião é que as sanções vieram em etapas", lembra Rome. "Desta vez há um certo medo de que tenham que fazer reduções substanciais imediatamente".
Mesmo que o Irã continue escoando seu petróleo, será difícil colocar o dinheiro em suas contas.
"O Irã é um adversário fantástico, muito treinado em diferentes técnicas para continuar vendendo petróleo e enredar os dados, mas isso não é a panaceia para tudo", alerta Rome.
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