Israel e Hamas se enfrentam na maior escalada bélica em Gaza desde a guerra de 2014
Artilharia israelense bombardeia 150 posições palestinas em reação ao disparo de quase 400 foguetes
Jerusalém
O
Ministério de Saúde palestino confirmou a morte de pelo menos cinco
pessoas nas incursões. A tensão aumentou com o bombardeio da sede
do canal de televisão Al Aqsa, próximo do Hamas, na Cidade de Gaza
(as instalações haviam sido previamente desocupadas), e do hotel Al
Amal, utilizado também pelo Ministério do Interior da Faixa de
Gaza. Em outra ação da aviação, foi destruído em Al Farqan
(norte de Gaza) um edifício que era apontado pelo Estado-Maior
israelense como sede dos serviços de inteligência do Hamas. O
Exército afirma ter destruído, também em um ataque aéreo, um
edifício dos serviços de inteligência militares palestinos que
ocultava um arsenal, no centro da capital do território. O imóvel
fica perto de escolas, órgãos diplomáticos e de uma mesquita.
O
Exército mobilizou baterias do escudo antimísseis Cúpula de Ferro
que interceptaram mais de uma centena de projéteis. Os demais
foguetes caíram em sua maioria sobre zonas despovoadas. Um civil
palestino de 40 anos, oriundo da Cisjordânia,
foi achado morto entre os escombros de uma casa em Ashkelon,
destruída por um míssil. Uma mulher de 70 anos foi resgatada pelos
serviços de emergência no mesmo lugar. Dezenas de israelenses
ficaram feridos, em sua maioria por vidros e detritos desprendidos
depois das explosões. O eco das sirenes de alarme antiaéreo se
estendeu por povoados situados em torno da fronteira durante a
madrugada desta quarta-feira.
MAIS INFORMAÇÕES
A
aparente calma que reinava em Gaza nos últimos dias saltou pelos
ares na noite do domingo, 11, depois da operação encoberta do
Exército de Israel no sul da Faixa. As Forças Armadas confirmaram a
morte de um de seus soldados infiltrados, um tenente-coronel de
operações especiais de 41 anos, identificado apenas com a letra M,
cujo corpo pôde ser retirado do enclave. O incidente armado, o mais
grave registrado no último mês entre ambas as partes, parece ter
arruinado as negociações para um acordo
de trégua entre
Israel e o Hamas, mediado por Egito e Nações Unidas.
O
Exército alegou que a operação encoberta de suas forças especiais
na área de Khan Yunes, no sudoeste da Faixa de Gaza, se destinava
apenas a reunir informações de inteligência por trás das linhas
inimigas. As mesmas fontes militares negaram que tivessem participado
de um assassinato seletivo ou de uma tentativa de sequestro de um
chefe militar. “As ações do oficial israelense morto não podem
ser publicadas, mas merecem todo nosso reconhecimento”, assegurou
um porta-voz militar.
Comando infiltrado
Fontes
do Hamas deram uma versão bem diferente. A unidade de forças
especiais israelenses se infiltrou mais de três quilômetros em
território palestino num veículo civil. Em seguida abriu fogo
contra o grupo no qual se encontrava Nur Baraka, de 37 anos,
comandante de uma força de elite das Brigadas Izz ad-Din Al Qasam, o
braço armado do movimento islâmico que na prática governa Gaza
desde 2007.
Depois
da morte de seu chefe, milicianos do Hamas atacaram o comando
israelense, que precisou recuar sob uma intensa cobertura aérea.
Aviões e drones israelenses dispararam mais de 40 mísseis, que
causaram a morte de sete militantes islâmicos armados. Milhares de
cidadãos de Gaza clamaram vingança contra Israel nos concorridos
funerais dos falecidos.
As
Forças Armadas israelenses pediram à população das localidades
próximas que se mantenha perto dos refúgios antiaéreos. As
atividades escolares estão suspensas desde segunda-feira, assim como
o serviço de trens que circula pela região entre Ashkelon, Sderot e
Beersheba. O Exército confirmou uma forte mobilização de reforços
com carros de combate, infantaria, helicópteros e caças em torno de
Gaza. O Egito pediu a ambas as partes que refreiem as hostilidades e
se ofereceu para retomar a mediação. O enviado especial da ONU para
o Oriente Médio, Nickolay Mladenov, afirmou que estava trabalhando
com o Egito para tirar a Faixa de Gaza da “beira do abismo”. “A
escalada das últimas 24 horas é extremamente perigosa”, advertiu
através do Twitter.
O
primeiro-ministro Benjamim Netanyahu, que se encontrava em Paris
assistindo às celebrações pelo centenário do fim da Primeira
Guerra Mundial, antecipou no domingo sua volta a Israel. Na tarde de
segunda-feira, se reuniu com o Gabinete de Segurança, e esse órgão
do Governo que decide sobre operações militares e declarações de
guerra foi convocado novamente para a manhã desta terça.
A esperança de trégua se desvanece
A
esperança de um cessar-fogo permanente para pôr fim à violência
que campeia há mais de sete meses na fronteira de Gaza volta agora a
se desvanecer. Quase 230 palestinos, manifestantes em sua grande
maioria, morreram desde então por disparos israelenses. Enquanto
isso, só dois militares de Israel perderam a vida em ações na
Faixa.
Netanyahu
tinha declarado na capital francesa que seu Governo estava tentado
evitar “uma guerra desnecessária” ao autorizar a entrega de
ajuda externa a Gaza, num esforço para prevenir um “colapso
humanitário” em decorrência da volátil situação interna. “Não
há uma solução política para Gaza, assim com não há com quem
quer destruir Israel, como o Irã e o Estado Islâmico”, advertiu.
Com o aval israelense, o Qatar liberou no fim de semana 15 milhões
de dólares (52,7 milhões de reais) para o pagamento de salários
atrasados a dezenas de milhares de funcionários palestinos da
Administração do Hamas. As autoridades de Doha também enviaram
caminhões com combustível ao enclave para duplicar a capacidade de
fornecimento da única central elétrica do território. Mas agora o
Exército israelense adverte que o Hamas ultrapassou uma “linha
vermelha”. “O Hamas está levando a Faixa de Gaza para a
destruição, e seus líderes se esconderam”, afirmou um porta-voz
militar. As tropas palestinas reagiram em um comunicado conjunto
anunciando que ampliarão o alcance do lançamento de seus foguetes
até as principais cidades de Israel.
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