O general da repressão é Sérgio Moro
Escrevi aqui que ontem poderia ser considerado o dia da fundação do Estado Policial Brasileiro mas, desde já, tal como se trocou em 1964 o “Primeiro de Abril” pela “redentora Revolução de 31 de Março”, sugere-se que fique a data como sendo a de hoje: o Dia de Finados, pelo simbolismo em relação à morte dos direitos à privacidade, à presunção de inocência e à segurança no exercício de nossas liberdades.
A nomeação de Sérgio Moro não é apenas uma ‘jogada de marketing” do presidente eleito. Não acho sequer que esta decisão tenha sido ‘de agora’ ou que possa ter sido tomada sem a participação do “núcleo militar” do bolsonarismo.
Afinal, Moro será posto a comandar uma máquina sinistra, encarregada de promover a onda de perseguição política destinada a fazer aquilo que Bolsonaro prometeu no seu tristemente famoso discurso aos seus apoiadores da Avenida Paulista: “fazer uma limpeza nunca vista na história deste país” e dirigir uma polícia com “retaguarda para jurídica para fazer valer a lei no lombo de vocês”.
Para isso, não vai contar com pouco.
Terá o controle da Polícia Federal e, com ela, a capacidade de bisbilhotar, informalmente, todas as comunicações telefônicas e telemáticas.
Terá o controle do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, e com ele a capacidade de xeretar todas as movimentações financeiras de pessoas físicas e jurídicas do país.
Terá o controle do que já foi a Controladoria Geral da União, a CGU, e com ele a capacidade de conhecer cada detalhe dos atos dos gestores públicos, exceto nas áreas onde alguma “voz amiga” diga que ali “não vem ao caso”.
Moro será o general da repressão da neoditadura.
Muitos ainda estão pensando dentro da lógica do estado democrático e das funções institucionais de um Ministério da Justiça, mesmo numa versão avantajada.
Lamento dizer que não é este o caso.
É por isso que não houve, nem de Moro e nem de Bolsonaro, preocupação com o desgaste em questão de legitimidade e da imagem de isenção do Governo em relação à Justiça ou do que que ela fez para instituir este governo.
Legitimidade e isenção são bobagens que devem ser desconsideradas diante da “Cruzada Anticorrupção”, em nome da qual se promoverão os “pogrons” antiliberdades.
Infelizmente, nossos “republicanos” continuam querendo medir perdas e ganhos políticos de um jogo democrático.
Vamos entrar num regime de força e muitos ainda não o percebem.
Por onde vão começar
Existem coisas evidentes na montagem da estrutura de poder autoritário que se faz sob a égide de Jair Bolsonaro que, tenho insistido aqui, não têm sido devidamente percebidas, olhadas como se fossem movimentos políticos naturais na montagem de um governo dentro dos limites de um estado democrático, algo que não é, em hipótese alguma, o caso deste.
Vejam: embora precise, desesperadamente, da construção de uma maioria suficiente para emendar a Constituição, não existe, senão por algumas conversas mantidas em absoluto sigilo, nenhuma articulação com bancadas partidárias no Congresso com este fim.
O pouco que aparece é indicativo mais de bajulação do que de articulação. A nomeação, por exemplo, do General Juarez Aparecido de Paula Cunha para a presidência dos Correios é, senão uma ordem, um mimo ao General Hamílton Mourão, seu colega na turma de 1975 da Academia das Agulhas Negras e seu par constante ao longo de anos de serviço.
Já os acenos de Rodrigo Maia para fazer votar antes do fim do ano o afrouxamento das regras para a compra de armas foram solenemente ignorados.
Bolsonaro não quer que se perca a identificação pessoal que deve conter o cardápio de repressão e força que é o prato central do início de seu governo.
Quase todo o resto serão fait-divers, destinados a produzir medidas fátuas e espetaculares, sem guardar relação com o eixo de sua ação.
Neste momento, fuçam-se os escaninhos da Polícia Federal em busca de personagens que possam ser simbólicos para criar o “acompanhamento” com que será servido ao Congresso o pacote de ações autoritárias das “Novas Medidas contra a Corrupção”.
O método de formação da maioria não será apenas o da simples e tradicional cooptação com cargos no governo, mas o da intimidação.
Haverá judeus.
copiado http://www.tijolaco.net/b
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