Paraguai diante do desafio das facções criminosas do Brasil
AFP / NORBERTO DUARTEMarcelo Fernando Pinheiro Veiga, conhecido como "Marcelo Piloto", após ser detido no Paraguai acusado de assassinato, tráfico de armas e drogas para o Comando Vermelho, em 14 de dezembro de 2017, em Assunção
Roubos espetaculares, execuções, tiroteios, um suposto carro-bomba detonado pela Polícia, prisões de traficantes que, mesmo presos, desafiam as autoridades e as acusam de corruptas: o Paraguai se vê sacudido pelas facções criminosas do Brasil.
Tradicional rota de fuga de Brasil e Argentina, países com os quais divide fronteiras extremamente permeáveis, o Paraguai aguçou esta semana seu alerta pela presença cada vez mais ativa de integrantes de duas poderosas facções: o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro.
"Temos informação da Inteligência brasileira sobre um plano de fuga em massa dos principais líderes do Comando Vermelho e do PCC para o Paraguai. É possível que o resultado das eleições no Brasil nos obrigue a redobrar o controle", disse à AFP o promotor Hugo Volpe, ameaçado de morte por ter prendido vários "chefões" do crime.
"Presume-se", explicou, "que eles estejam com medo do que possa acontecer em seu país" depois da vitória de Jair Bolsonaro, eleito com a promessa de combater com mão de ferro o crime e a violência.
A imprensa local divulgou na semana passada um vídeo com o selo do Comando Vermelho, no qual homens encapuzados, falando em português, ameaçam de morte a procuradora-geral, Sandra Quiñónez.
A funcionária admitiu que o filme estava em poder da Polícia desde 24 de outubro e que foi apreendido em uma operação nas imediações da tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina). No local foram mortos três brasileiros, supostos membros do CV.
- Potencial destrutivo -
SENAD/SRF/AFP / HOArmas que seriam do PCC apreendidas pela polícia paraguaia em Pedro Juan Caballero, localidade perto da fronteira com o Brasil
Na operação foram apreendidas armas, dinheiro, drogas e, o que chamou mais atenção: um carro com 80 quilos de dinamite em gel. Os investigadores concluíram que se pretendia usar o explosivo no Grupamento de Polícia Especializada em Assunção para facilitar a fuga do chefe da quadrilha, Marcelo Pinheiro, aliás "Marcelo Piloto".
O potencial destrutivo destas facções já é conhecida no Paraguai.
Em 24 de abril de 2017, integrantes do PCC paralisaram Ciudad del Este, a segunda metrópole mais populosa do país, na tríplice fronteira com Foz do Iguaçu (Brasil) e Puerto Iguazú (Argentina).
Como manobra dissuasiva, detonaram vários carros com bomba incendiária em locais estratégicos da cidade, ao mesmo tempo em que explodiram a sede de uma transportadora de valores.
No assalto, levaram 12 milhões de dólares e mataram um policial. Nenhum dos 50 integrantes do comando foi capturado. No entanto, cinco deles morreram em sua fuga no território brasileiro.
"Eu não sou terrorista. Nós temos códigos. Eu sou comerciante de armas e drogas. Não sou terrorista", disse na terça-feira em uma incomum coletiva de imprensa "Marcelo Piloto", falando de seu local de reclusão.
Ele acusou a Polícia de corrupção. "O Paraguai é o país da impunidade e da corrupção", afirmou, após acusar o chefe de Investigações Policiais, Abel Cañete, de tê-lo extorquido em 200.000 dólares para protegê-lo da Polícia Federal brasileira.
Para o ministro do Interior, Juan Villamayor, o bandido brasileiro tenta forçar uma acusação criminal no Paraguai para evitar sua extradição.
- Plataforma continental -
Para o ex-ministro do Interior, Francisco de Vargas, ex-chefe antidrogas e ex-promotor, a corrupção na Polícia é inegável, embora esclareça que "não é institucional".
"Os controles internos para melhorar a luta contra essas facções brasileiras têm que ser fortalecidos", destacou à AFP.
"O Paraguai é uma espécie de plataforma continental de armas, drogas que vêm da Colômbia, Peru e Bolívia para sua distribuição no Brasil e sua reexportação a outros países", explicou.
Vargas participou de operações bem sucedidas captura no Paraguai de importantes chefões brasileiros como Jarvis Chimenes Pavão, Pingo Soligo e Iván Méndez Mesquita, entre outros.
Este último, considerado o "czar da cocaína", foi extraditado para os Estados Unidos.
- "Mais soldados que a Polícia" -
AFP / NORBERTO DUARTEA procuradora-geral do Paraguai, Sandra Quiñonez, em entrevista coletiva, em 7 de novembro de 2018 em Assunção
O Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho são as maiores organizações criminosas do Brasil. O PCC "teria mais soldados ou integrantes que nossa Polícia Nacional", afirmou De Vargas.
"Escolhem o Paraguai pelas facilidades que que encontram para se dedicar às suas atividades criminosas", afirmou.
O ex-promotor, ex-senador e atual ministro antidrogas, Arnaldo Giuzzio, coincide em que o Paraguai "tem organismos de segurança frágeis, devido à pouca institucionalidade, que faz permear a corrupção".
"Nossa missão é identificar, neutralizar e expulsar" os delinquentes, afirma.
Para o analista político-militar Horacio Galeano há 800 membros de quadrilhas brasileiras morando no Paraguai.
O deputado Márcio Tadeu de Lemos, do Partido Social Liberal (PSL), sugeriu ao presidente eleito Bolsonaro a construção de um muro na fronteira para deter os traficantes e os contrabandistas.
"Sem entrar na parte doutrinária, que a gente o ame ou o odeie, o novo presidente brasileiro promete ser duro. É a agenda que ele recebeu e pela qual chegou à Presidência", afirmou o analista Galeano.
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