A embaixada do Brasil em Israel na cidade de Tel Aviv Foto: JACK GUEZ / AFP
Transferência por Bolsonaro de embaixada a Jerusalém seria 'provocação', diz representante palestina
Já Israel chamou eventual medida de 'passo histórico'
RIO — Uma representante daOrganização para a Libertação da Palestina (OLP) chamou nesta sexta-feira a intenção do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro , de trasferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv a Jerusalém de "provocação" e "ilegal".
No que seria uma guinada sem precedentes na política externa brasileira, Bolsonaro declarara a um jornal israelense e no Twitter na quinta-feira que pretende transferir a embaixada, como já havia cogitado durante a campanha eleitoral. Em entrevista a TVs algumas horas depois, no entanto, ele deixou uma fresta para mudar de ideia, afirmando que “não é uma questão de vida ou morte”.
— É uma medida de provocação, que é ilegal em virtude do direito internacional e que apenas desestabiliza a região — disse Hanan Ashrawi, palestina que é membro do Comitê Executivo da OLP, à agência AFP. — É realmente uma pena que o Brasil tenha se unido a esta aliança contrária ao Direito Internacional.
Já o premier de Israel, Benjamin Netahyahu, celebrou na quinta-feira a confirmação da promessa de campanha: “Felicito meu amigo o presidente eleito do Brasil Jair Bolsonaro pela intenção de deslocar a embaixada brasileira para Jerusalém, um passo histórico, justo e emocionante.”
Bolsonaro também anunciou que pretende mudar a localização da embaixada palestina em Brasília, alegando que ela fica muito perto do Palácio do Planalto e que a segurança do governo está em “primeiro lugar”. A representação fica no Setor de Embaixadas Norte, ao lado de outras missões estrangeiras.
Se transferir a embaixada para Jerusalém, o Brasil se tornará o terceiro país, depois dos Estados Unidos e da Guatemala, a tomar a decisão, que contraria resoluções da ONU segundo as quais o status da cidade sagrada para as três religiões monoteístas deve ser decidido em negociações com os palestinos.
A posição de Bolsonaro segue a tomada pelo presidente americano Donald Trump, que em 2017 reconheceu Jerusalém como a capital de Israel e depois transferiu sua embaixada para lá. A medida levou o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, a interromper negociações com Israel mediadas por Washington.
No Twitter e nas entrevistas, Bolsonaro apresentou o mesmo argumento para a transferência: que Israel, como país soberano, é que deve decidir a localização da sua capital.
— Cabe a vocês decidirem qual é a capital de Israel, não a outras nações — declarou Bolsonaro ao jornal “Israel Hayom”, que apoia o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. — Se o Brasil mudar a capital para o Rio, mudou.
Na entrevista que concedeu a TVs mais tarde, o presidente eleito hesitou em fechar sua posição. Primeiro, disse que não via “clima pesado” em transferir. Depois, ponderou que tem “todo respeito com o povo de Israel e com o povo árabe” e que deseja “fazer comércio com todo mundo”, sem “criar problemas com ninguém”.
Risco de isolamento
Diplomatas e analistas têm advertido que a mudança deixaria o Brasil diplomaticamente isolado e romperia uma tradição de equilíbrio entre os dois lados que o país mantém há mais de 70 anos — desde que o então chanceler Oswaldo Aranha presidiu a sessão da Assembleia Geral da ONU que em 1947 aprovou a Partilha da Palestina, com a criação de um Estado judeu e outro árabe. Afirmam também que poderia provocar retaliações comerciais de países árabes.
Israel, que ocupou o setor oriental de Jerusalém na Guerra dos Seis Dias, em 1967, considera a cidade sua capital “única e indivisível”, mas a anexação do lado árabe não é reconhecida internacionalmente, e os palestinos o reivindicam como capital de seu futuro Estado.
Netanyahu já indicou que comparecerá à posse de Bolsonaro, e o presidente eleito contou ao “Israel Hayom” que o embaixador israelense em Brasília, Yossi Shelly, o visitou duas vezes esta semana. Disse que Israel “pode contar” com o voto brasileiro na ONU e afirmou que “a Palestina precisa ser um Estado para ter direito a uma embaixada”.
Em 2010, o governo Lula reconheceu o Estado palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967. O mesmo reconhecimento foi dado por mais 136 dos 193 países-membros da ONU, como forma de pressionar Israel a avançar nas negociações para a criação do novo país, nos territórios da Cisjordânia e de Gaza.
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