Apoiadores levantam seus chapéus durante um comício do presidente Donald Trump em 15 de março de 2017, em Nashville, Tennessee.
 
Foto: Andrea Morales/Getty Images
O PRESIDENTE DONALD TRUMP é uma ameaça à segurança nacional.
Ele prega o ódio. Ele incita a violência. Ele inspira ataques.
Todos sabíamos disso antes da prisão de Cesar Sayoc, na sexta-feira, acusado por uma série de crimes ligados a dezenas de bombas enviadas aos políticos Democratas mais proeminentes da nação, entre outros. Como meu colega Trevor Aaronson escreveu, Sayoc é “um fervoroso apoiador de Trump”. Veja sua vanseus posts nas redes sociais ou ainda os depoimentos de seus colegas.
Eu não tenho dúvidas de que Trump ajudou a radicalizar Sayoc. Ainda assim, os defensores de Trump tentam distanciar seu herói deste vilão em particular. Assim como, é claro, o próprio presidente. “Nós vimos um esforço recente da mídia em utilizar as terríveis ações de um indivíduo para marcar pontos políticos contra mim”, disse Trump em um comício na sexta à noite.
“Um indivíduo”? Quem ele está tentando enganar? Sayoc pode ser a figura mais recente a combinar seu amor por Trump com um amor pela violência contra os oponentes de Trump, mas ele está longe de ser o primeiro a fazer isso. Na verdade, houve diversas ameaças violentas, ataques e mortes associadas a apoiadores de Trump nos últimos anos – alguns dos quais dominaram as manchetes da mesma forma que ocorreu com a tentativa de Sayoc de assassinar democratas de alto escalão, incluindo dois ex-presidentes dos EUA.
Desde o verão de 2015, um conjunto de apoiadores, fãs e simpatizantes de Trump tem agredido, baleado, esfaqueado, atropelado e jogado bombas em outros americanos. Eles tomaram vidas inocentes enquanto imitavam a violenta retórica do presidente, ecoando suas teorias conspiratórias racistas e, no caso de Sayoc, tendo como alvo exatamente as mesmas pessoas e organizações que Trump repetidamente alveja em alto e bom som em seus comícios e no Twitter: muçulmanos, refugiados, imigrantes, os Clinton, a CNN e manifestantes da esquerda, entre outros.
Não podemos permitir que os defensores de Trump na Fox News e no Congresso finjam que este foi um caso único; que as acusações contra Sayoc não são parte de uma onda crescente e preocupante de crimes violentos contra minorias e a mídia cometidos pela extrema-direita, por figuras pró-Trump e por milícias.
Assim, aqui está uma lista (parcial) de apoiadores de Trump que foram acusados de cometerem ataques horríveis nos últimos anos – alguns deles aparentemente inspirados pelo próprio presidente.
Scott Leader e Steve Leader, agosto de 2015
Em 19 de agosto de 2015, Scott Leader, 38 anos, e seu irmão, Steve Leader, de 30 anos, atacaram um morador de rua em Boston que eles erroneamente pensaram ser um imigrante irregular no país.
“Donald Trump estava certo”, eles disseram à polícia, após agredirem o homem com um cano de metal e urinarem nele. “Todos esses ilegais têm de ser deportados.”
A resposta de Trump? Ele acabou por dizer que o incidente teria sido “terrível”, mas apenas após uma prévia declaração a repórteres em que o então candidato referiu-se a tais apoiadores como “muito apaixonados. Eles amam esse país. Eles querem que esse país seja grande de novo. Mas eles são muito apaixonados. Pode-se dizer isso.”
Curtis Allen, Gavin Wright e Patrick Eugene Stein, outubro de 2016
Em 14 de outubro de 2016, o FBI prendeu três homens – Patrick Eugene Stein, Curtis Allen e Gavin Wright – por planejarem uma série de ataques a bomba contra a comunidade somali-americana de Garden City, no estado do Kansas. Ao se autodenominarem “the Crusaders” (os Cruzados), eles planejavam colocar em ação, no dia após a eleição presidencial em novembro de 2016, o que o jornal The Guardian disse que “poderia ter sido o ataque terrorista doméstico mais mortal desde o atentado a bomba de Oklahoma em 1995”.
Dois destes três homens eram apoiadores declarados de Trump e eram obcecados por teorias conspiratórias contra muçulmanos e refugiados. Para Stein, conforme um perfil na revista New York, Trump era “o Cara”. Allen escreveu no Facebook: “Eu apóio pessoalmente Donald Trump”. O trio ainda pediu que um juiz federal aumentasse o número de jurados pró-Trump em seu julgamento (no qual eles foram considerados culpados por conspirar a utilizar uma arma de destruição em massa e por conspirar contra direitos).
A resposta de Trump? O presidente, que em certa ocasião sugeriu que os americanos já teriam “sofrido o bastante” com a chegada de refugiados somali, nunca foi questionado sobre os três homens e nunca condenou seus planos.
Alexandre Bissonnette, janeiro de 2017
Na noite de 29 de janeiro de 2017, Alexandre Bissonnette abriu fogo contra fiéis no Islamic Cultural Center na cidade de Quebec, no Canadá, matando seis deles e ferindo 19.
Bissonnette, de 27 anos, era obcecado por Trump: ele buscou o presidente no Twitter, Facebook, Google e YouTube mais de 800 vezes entre 1º de janeiro de 2017 e o dia dos disparos. Um antigo colega de faculdade disse ao Toronto Globe and Mail que ele “frequentemente discutia” com Bissonette por conta do apoio deste a Trump.
No vídeo do interrogatório feito pela polícia, Bissonnette pode ser ouvido dizendo aos policiais que ele decidiu atacar a mesquita depois de o Primeiro Ministro canadense, Justin Trudeau, tuitar uma mensagem de boas vindas a refugiados após a proibição de viajar emitida pelo presidente americano – que foi decretada dois dias antes do ataque à mesquita.
A resposta de Trump? O presidente pode ter expressado suas condolências ao premiê canadense em privado, mas ele nunca mencionou publicamente os disparos, o assassino ou os seis muçulmanos mortos.
Michael Hari, Michael McWhorter e Joe Morris, Agosto de 2017
Em março de 2018, três supostos membros de uma milícia de extrema-direita, Michael Hari, Michael McWhorter e Joe Morris – foram acusadospor sua conexão com o atentado a bomba ao Dar Al-Farooq Islamic Centerem Bloomington, no estado de Minnesota, em 5 de agosto de 2017. McWhorter teria dito a um agente do FBI que o ataque era uma tentativa de “assustar” muçulmanos “para fora do país”.
Ainda em 2017, Hari, que é dono de uma empresa de segurança, enviou uma proposta de 10 bilhões de dólares para construir o muro de Trump ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México. “Nós veríamos o muro não apenas como uma fronteira física à imigração mas também um símbolo da determinação americana em defender nossa cultura, nossa língua e nosso legado de quaisquer estrangeiros”, disse Hari. Parece familiar?
Hari também seria o líder de um grupo chamado “White Rabbit Militia – Illinois Patriot Freedom Fighters, Three Percent”, que postou mensagens on-line sobre “atividades do Deep State” (o  “estado profundo” seriam os setores do governo que agem independentemente dos presidentes do momento, por vezes para sabotá-los) e “a tentativa do FBI de grampear a campanha de Trump e interferir nas eleições”.
A resposta de Trump? Até hoje, o presidente nunca se referiu publicamente, e muito menos condenou, o atentado a bomba à mesquita em Minnesota. Seu então conselheiro, Sebastian Gorka, sugeriu que o incidente poderia “ter sido propagado pela esquerda”.
James Alex Fields Jr., agosto de 2017
Em 12 de agosto de 2017, um carro colidiu com uma multidão de pessoasprotestando contra uma manifestação neonazista em Charlottesville, no estado da Virgínia, matando Heather Heyer, de 32 anos. O suposto motorista do carro, James Alex Fields Jr., foi acusado por, entre outros crimes, atropelamento e fuga sem prestar socorro e assassinato em primeiro grau.
Fields, de acordo com um ex-colega de colégio, gostava de desenhar suásticas e falava sobre “amar Hitler”. Ele era um membro registrado do Partido Republicano e, conforme um ex-professor, também adorava Trump. Em entrevista à Associated Press, o professor “disse que Fields era um grande apoiador de Trump por aquilo que ele acreditava serem as visões de Trump sobre raça. A proposta de Trump de construir um muro na fronteira com o México era particularmente atrativa para Fields.”
A resposta de Trump? O presidente chamou os neonazistas em Chalottesville “pessoas muito boas” apenas três dias depois de Fields ter matado Heyer.
Brandon Griesemer, janeiro de 2018
Nos dias 9 e 10 de janeiro de 2018, o jovem Brandon Griesemer, de 19 anos, teria feito 22 chamadas à CNN. De acordo com um depoimento federal juramentado, em quatro dessas chamadas, Griesemer, um caixa de supermercado de Novi, no Michigan, ameaçou matar funcionários na sede da emissora em Atlanta.
“Fake news. Eu estou indo para atirar em todos vocês”, ele disse a um operador da CNN. De novo, parece familiar? Trump passou seu mandato inteiro criticando a CNN como “fake news”, marcando a emissora com críticas e abusos. De acordo com o Washington Post, um colega de colégio de Griesemer o descreveu como um apoiador de Trump que “chegou após a eleição e estava muito feliz”. O colega, dizia a matéria, “comparou a reação de Griesemer com a de um torcedor cujo time havia ganho um jogo importante.”
A reação de Trump? Na manhã do dia 23 de janeiro, o dia após as ameaças de Griesemer contra a CNN serem noticiadas, o presidente usou o Twitter para zombar … sim, você adivinhou… “a CNN fake news”.
Nikolas Cruz, fevereiro de 2018
Na tarde do dia 14 de fevereiro de 2018, o atirador Nikolas Cruz, de 19 anos, baleou e matou 17 estudantes e funcionários na Marjory Stoneman Douglas High School em Parkland, na Flórida.
De acordo com uma investigação da CNN, Cruz fazia parte de um grupo privado no Instagram em que ele “repetidamente apoiava visões racistas, homofóbicas e antissemíticas” e “se gabava por ter escrito uma carta ao presidente Donald Trump – e ter recebido uma resposta.”
Cruz também postou uma foto sua no Instagram vestindo o conhecido boné vermelho de Trump com os dizeres “Make America Great Again” e com uma bandana da bandeira americana cobrindo a metade de baixo de seu rosto. Ex-colegas confirmaram que ele também usava o boné vermelho de Trump na escola.
A resposta de Trump? A Casa Branca nunca confirmou ou negou ter recebido, ou respondido, uma carta de Cruz.
EU PODERIA CONTINUAR sem parar. Eu poderia falar sobre Jeremy Christian, que esfaqueou duas pessoas até a morte em um trem em Portland, no estado de Oregon, e escreveu “Se Donald Trump é o próximo Hitler, então eu estou me juntando à SS dele”; ou sobre James Jackson, que confessou esfaquear um morador de rua negro em Nova York e se inscreveu em canais do YouTube de extrema direita que apoiam Trump; ou sobre Sean Urbanski, que esfaqueou um tenente negro do exército americano até a morte e “curtia memes sobre Donald Trump”; ou sobre Dimitrios Pagourtzis, que matou 10 pessoas na Santa Fe High School no Texas e que seguia apenas 13 perfis no Instagram, incluindo os perfis oficiais da Casa Branca, de Donald Trump, de Ivanka Trump e de Melania Trump.
A verdade é que o quanto antes nós reconhecermos que o presidente dos Estados Unidos está ajudando a radicalizar uma nova geração de homens de extrema-direita raivosos, melhor.
Seria errado, é claro, culpar apenas Trump por esses ataques. Muitos desses agressores têm problemas mentais; vários deles também eram homens violentos, intolerantes e fanáticos muito antes de Trump lançar sua carreira política.
No entanto, fingir que o presidente não tem nada a ver com esses criminosos violentos ou seus crimes é absurdo. Comparar o enorme número de apoiadores de Trump que foram acusados ou julgados por ataques e tentativas de ataques a muçulmanos, hispânicos ou jornalistas com o único apoiador de Bernie Sanders que atirou no deputado republicano Steve Scalise em junho de 2017 é desonesto. Ignorar a forma em que Trump compôs um tom violento e criou um clima tóxico é lamentável.
“Está na hora de reconhecermos que a presença particular de Trump nas redes sociais é uma arma de radicalização”, escreveu o estrategista republicano e crítico de Trump Rick Wilson na sexta. “Ninguém mais na esfera política dos Estados Unidos alimenta os rancores, medos e preconceitos da base dele com igual poder.”
O presidente pode não estar apertando o gatilho ou plantando a bomba, mas ele está abrindo caminho para grande parte do ódio por trás desses atos. Ele está dando ajuda e conforto a homens brancos raivosos ao oferecer-lhes alvos claros – e, depois, ao falhar em denunciar sua violência. Ainda há dúvida, então, de que crimes de ódio estão crescendo? O que, como um estudo descobriu, “um em cada cinco agressores de incidentes por crime de ódio referenciaram o presidente Trump, a política de Trump ou um slogan da campanha de Trump” entre novembro de 2016 e novembro de 2017?
Cesar Sayoc não foi o primeiro apoiador de Trump que tentou matar e mutilar quem está no outro lado da retórica demonizante de Trump. E, infelizmente, ele não será o último.
Atualização: 27 de outubro de 2018, às 17h30
Minutos após esta matéria ser publicada na versão em inglês, notícias confirmaram que diversas pessoas foram mortas por um atirador em uma sinagoga em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia. O atirador detido foi associado a posts contra judeus e imigrantes nas redes sociais. Pelo menos 11 pessoas foram mortas e seis feridas na Sinagoga Tree of Life (Árvore da Vida).
Tradução: Maíra Santos
COPIADO https://theintercept.com/2018