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Atualizado
Caos no MEC:
Gestão é marcada por recuos, demissões e pedidos de desculpa
Ministério teve mais de 10 baixas no
primeiro escalão em menos de 3 meses; "O cargo é um abacaxi do tamanho de
um bonde”, disse Vélez.
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UESLEI MARCELINO / REUTERSVélez:
“Se é fraqueza pedir
desculpa, tenho essa fraqueza, mas fiz isso duas vezes.”
Prioridade declarada pelo governo Bolsonaro, a educação está
atada. Desde o início do ano, o ministro da Educação, Ricardo Vélez,
exonerou mais de 10 funcionários do primeiro escalão e, hoje, a pasta está com
os 2 principais cargos auxiliares ao ministro vagos.
Desde 13 de março, o ministro está sem
titular na Secretaria-Executiva, que é o posto considerado número 2 do MEC, e
desde terça-feira (26) está sem chefia no Inep, autarquia responsável pelo Enem
e pela produção de estatísticas que subsidiam políticas públicas.
Na noite de quarta-feira (27), o Inep
informou mais uma baixa: Paulo César Teixeira, diretor de Avaliação da Educação
Básica, responsável pela realização do Enem, pediu demissão.
A instabilidade no primeiro
escalão e as idas e vindas em decisões do ministério expõem o
“desajuste” interno da pasta. Em audiência na Câmara dos Deputados na quarta, o
ministro minimizou os atritos e as queixas que tem recebido.
“Muitos pediram para eu sair, mas não
vou sair. Por que é um passeio às ilhas gregas? Não. O cargo é um abacaxi do
tamanho de um bonde. Mas topei o convite porque quero devolver ao meu País o
que ele fez por mim”, afirmou.
Muitos pediram para eu sair, mas não vou sair. Por que é
um passeio às ilhas gregas? Não. O cargo é um abacaxi do tamanho de um bondeRicardo Vélez, ministro da
Educação
Horas depois, em entrevista à TV Bandeirantes, o presidente Jair Bolsonaro disse que as
coisas “não estão dando certo na educação”.
“Temos que resolver a questão da
educação. Realmente não estão dando certo as coisas lá, é um ministério muito
importante. Na minha volta da viagem de Israel eu vou conversar com o Vélez”,
disse Bolsonaro.
Na Câmara, Vélez se esquivou de responder sobre as confusões
em relação aos cargos e se limitou a dizer que Marcus Vinicius Rodrigues havia
sido demitido do Inep no dia anterior à audiência porque “puxou o tapete”.
“A última demissão no MEC ocorreu
porque o diretor-presidente do Inep puxou o tapete. Ele mudou de forma abrupta
o entendimento que já tinha sido feito para a preservação da Base Nacional
Curricular”, afirmou.
Rodrigues foi demitido após ter discutido com o ministro
sobre o vai e vem de uma portaria que suspendia a avaliação do nível de
alfabetização das crianças ao 7 anos. Depois da repercussão negativa
da portaria, o ministro recuou e a revogou.
Rodrigues, no entanto, diz que a
interrupção na avaliação só foi decidida após pedido formal da Secretaria de
Alfabetização do ministério. Vélez, no entanto, diz que foi surpreendido pelo
ato.
O bate cabeça do MEC com o Inep culminou com disparos de
Rodrigues contra o ministro. “Quem está puxando o tapete é o próprio
ministro diante da sua limitação em gestão”, disse à Folha.
Militares, Olavistas e o MEC no meio
À imprensa, Rodrigues também afirmou que Vélez não tem competência para ocupar
o cargo e que há pressão para que cargos sejam ocupados por
profissionais com viés ideológico. Rodrigues é ligado à ala militar do governo
e Veléz à ala próxima a Olavo de Carvalho.
ANDRE SOUSA/MEC"Quem está puxando o tapete é o
próprio ministro diante da sua limitação em gestão", diz Marcus Vinicius
Carvalho, ex-presidente do Inep.
Em meados de março, Luiz Antônio Tozi
foi demitido do cargo de secretário-executivo e outros 6 funcionários foram
exonerados, após pressão do guru ideológico dos Bolsonaro.
Tozi, que é desafeto de Olavo, era
considerado representante da ala técnica do ministério. Dias antes de sua
exoneração, Olavo pediu aos seus alunos que deixassem cargos que ocupam no
governo.
“O presente governo está repleto de inimigos do
presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom
para quem seja como eles”, afirmou Olavo.
É um governo é que simplesmente alheio às pautas da
educação. Realmente não tem conhecimento. Por isso para tomar decisões é um
Deus nos acudaRenato
Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação
Depois da saída de Tozi, o ministro chegou a indicar Rubens
Barreto da Silva para o cargo. Dois dias depois, indicou Iolene Lima. Nenhum
deles chegou a ser oficializado. Uma semana depois de ter sido convidada para o
cargo, Iolene anunciou no Twitter que
havia sido “demitida” e ressaltou que existe um “quadro bastante confuso” na
pasta.
Nos primeiros dias de sua gestão, Vélez
exonerou 11 pessoas e enfrentou outro contratempo com contratações. Nomeou
Murilo Resende Ferreira para a Direção de Avaliação da Educação Básica do Inep.
Dois dias depois o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, cancelou a nomeação.
‘Deus nos acuda’
Para o ex-ministro da Educação, Renato
Janine Ribeiro, o atual titular da pasta se atém a questões ideológicas e está
alheio às pautas da área.
“Nos últimos 25 anos foi construído um
consenso da prioridade da educação básica e da necessidade da educação pública.
Da direita à esquerda, o pensamento civilizado concorda com isso. Você pode
encontrar discordâncias no formato do ensino técnico. (…) Mas o governo atual é
contra essa convergência. Considera isso errado porque para eles não há
diferença entre o PT, DEM, PSDB. É tudo visto como ‘nocivo’”, disse o
ex-ministro ao HuffPost.
“Então, é um governo é que simplesmente
alheio às pautas da educação. Realmente não tem conhecimento. Por isso para
tomar decisões é um Deus nos acuda.”
Segundo o ex-ministro, a educação não é
vista como promessa do País, mas ameaça à moralidade pública, e isso se reflete
nas ações do MEC. “Você tentar fazer uma escola ideológica, que volte 50 anos
no tempo em respeito aos costumes, como o presidente quer, não vai resolver o nosso
problema.”
Você tentar fazer uma escola ideológica, que volte 50 anos
no tempo em respeito aos costumes, como o presidente quer, não vai resolver o
nosso problemaRenato
Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação
Recuos
Além das exonerações, os 3 primeiros meses de Vélez foram
marcados por recuos. Logo no início de sua gestão, o MEC autorizou a compra de
livros didáticos com erros ou propagandas. O edital foi anulado 7 dias
depois.
Em fevereiro, o ministro enviou um ofício às escolas pedindo
uma gravação dos estudantes cantando o Hino Nacional e a
leitura de uma carta que continha o slogan de campanha de Bolsonaro. Em 3 dias,
o MEC enviou outros 2 comunicados às escolas, primeiro pediu para que os alunos
não fossem gravados sem autorização e depois outro com a desistência do pedido de
vídeo.
Segundo o ministro foi uma falha. “E
toda falha a gente corrige na hora. Causou repercussão negativa e me traria
problemas jurídicos, retifiquei imediatamente”, explicou.
Vélez pediu desculpas pelo ato.
Aproveitou e pediu desculpas também por ter afirmado que “o brasileiro viajando
é um canibal”. “Se é fraqueza pedir desculpa, tenho essa fraqueza, mas fiz isso
duas vezes.”
copiado https://www.huffpostbrasil.com/e