Cotado para relatar reforma da Previdência na comissão especial, Novo quer evitar “desidratação” da proposta
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) precisa focar na reforma da Previdência, virar seu principal garoto-propaganda e deixar de lado outras polêmicas. O conselho deve ser dado pelo Novo na próxima quarta-feira ao próprio presidente, em mais um encontro de Bolsonaro com lideranças partidárias. O partido, que reúne oito deputados, está cotado para assumir a relatoria da reforma da Previdência na comissão especial, próxima etapa após a análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde a proposta tramita hoje.
No que depender do partido, afirma o líder Marcel Van Hattem (RS), a reforma não sofrerá mudanças que possam reduzir seu impacto financeiro. Pelo contrário. "Estamos de acordo com o texto. Se mudar algo, vai ser para evitar uma nova reforma em curto espaço de tempo e para ela não ser desidratada. A reforma precisa ser equilibrada principalmente cortando privilégios. Ficamos até frustrados de ouvir o presidente dizer que a capitalização talvez não entre na reforma", afirma.
Se isso ocorrer, o partido poderá apresentar uma emenda, diz o líder. "Vamos avaliar como essa discussão poderá ser feita posteriormente ou se poderemos botar na PEC algo mais detalhado. Consideramos fundamental a liberdade das pessoas. Essa história de dizer que o sistema é ruim e perverso é uma falácia", considera.
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O deputado Vinicius Poit (Novo-SP) é, ao lado do também paulista Eduardo Cury (PSDB), o mais cotado para relatar a reforma na comissão especial. Ele tem feito campanha sistemática em favor das mudanças previdenciárias em vídeos que publica nas redes sociais. Dois deles já foram compartilhados pelo presidente Jair Bolsonaro.
A substituição do regime de repartição (no qual as receitas do sistema integram uma conta comum e os trabalhadores da ativa financiam os gastos com aposentados) pelo regime de capitalização (em que cada um contribui para sua própria aposentadoria por meio de contas individualizadas), citada pelo líder do Novo, é um dos pontos da reforma que, segundo os parlamentares mais influentes ouvidos pelo Painel do Poder, têm poucas chances de aprovação, como mostrou o Congresso em Foco.
Acessórios
Além de Van Hattem, também devem participar da conversa com Bolsonaro o presidente do Novo, o ex-candidato presidencial João Amoêdo, e outros dois vice-líderes da bancada na Câmara. O partido vai se reunir na véspera para definir o que dizer ao presidente. Mas, segundo o deputado gaúcho, a ideia é reforçar o apoio do Novo à reforma, avisar que a legenda continuará independente e alertar para possíveis ameaças à aprovação da proposta. Entre elas, comentários de Bolsonaro considerados desnecessários ou além do tom e sua desarticulação política.
"Vamos reforçar nossa posição de independentes, levar a ele até que ponto pode contar conosco e o que vem nos preocupando desde a posse dele. É algo que tem preocupado a sociedade como um todo. Ele foi eleito na onda da rejeição ao petismo e à corrupção. Começa com grande respaldo social para fazer esse combate à corrupção e superar mazelas deixadas pelos governos anteriores na área econômica, mas, para isso, precisa se concentrar nesses dois temas. Apesar dos ministros Paulo Guedes e Sérgio Moro, o presidente está tratando de temas acessórios, alguns importantes, outros nem tanto, que não têm tanta relevância quanto os que o levaram à Presidência", considera Van Hattem.
Para o líder, o presidente deve dialogar mais com os políticos. "Ele ficou quase 30 anos no Congresso para saber que é preciso, sim, mudar muita coisa na política. Mas existem políticos que são de valor e respeito no Congresso. O Novo defende práticas novas, mas entende que o diálogo é a melhor saída. Tem de haver uma demonização do tamanho do Estado, que tem milhares de cargos à disposição no país inteiro, muitos já ocupados desde governos anteriores. Parte tem de ser extinta, mas a máquina mastodôntica precisa ser ocupada por cargos qualificados, e muita gente que está na política conhece essas pessoas e pode ser ouvida. Não estou falando em quem entra para roubar", avalia.
Processo seletivo
Definindo-se como o partido mais liberal na economia, o Novo não se alinha à política conservadora de costumes que ajudou Bolsonaro a se eleger. Mas, segundo o seu líder, apoia integralmente as ações dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. A bancada do Novo fechou questão em torno da reforma da Previdência antes mesmo do PSL, do presidente da República.
Para Van Hattem, o partido de Bolsonaro recebeu muitos candidatos arregimentados no discurso antipetista e anticorrupção, mas falta unidade. Problema que, segundo ele, o Novo não enfrenta por conta de todo o processo que os filiados precisam passar para ter o direito de concorrer a um mandato.
"O Novo é um partido diferente pela proposta que tem de não usar dinheiro público para se financiar, por só ter ficha limpa e por organizar processo seletivo dos candidatos. Só passa um terço dos candidatos", explica. O processo de seleção inclui provas objetivas sobre valores e posicionamentos do partido, entrevistas com presidentes de diretórios estaduais de outros estados, a busca por novos filiados e até a gravação de um vídeo para falar sobre as ideias liberalizantes da legenda. "Isso nos permitiu eleger uma bancada alinhada e bastante comprometida com valores. O Congresso não é dado a essas práticas e isso fez com que a gente ficasse com bastante destaque nas últimas semanas", considera.
Em nome da reforma
Para o primeiro líder do Novo na Câmara, o governo Bolsonaro, que completa 100 dias nesta semana, só terá saldo positivo se aprovar a reforma da Previdência. "Ainda não temos nota para dar, depende da aprovação da reforma. Se passar, o saldo será positivo. Se não passar, será negativo. Depois temos de esperar outras votações importantes. Espero que a relação do governo com o Congresso melhore", afirma.
Após afirmar que governaria com o apoio de bancadas temáticas, como a ruralista, a evangélica e a da bala, o presidente Bolsonaro teve de se abrir aos partidos políticos na semana passada. Recebeu, entre outros, presidentes do MDB, Romero Jucá, do PSDB, Geraldo Alckmin, e do PP, Ciro Nogueira. De nenhum deles recebeu a promessa de integrar a base aliada ou aprovar integralmente a reforma enviada à Câmara. Mesmo aquelas legendas que declaram apoio à proposta querem mudanças. Nesta semana ele continua conversas com dirigentes partidários. Além do Novo, PR, PTB e o próprio PSL, entre outros, devem se encontrar com o presidente.
Na primeira participação do Novo em uma eleição, o ex-banqueiro e empresário João Amoêdo teve votação surpreendente. De desconhecido nacionalmente, terminou a disputa presidencial na quinta colocação com 2,6 milhões de votos (2,5% dos votos válidos no primeiro turno), à frente de nomes tradicionais como Marina Silva (Rede) e Alvaro Dias (Podemos). No segundo turno, ele não declarou apoio formal a Bolsonaro, mas disse que não votaria em seu adversário, o petista Fernando Haddad.
Brasil e Holanda
Marcel Van Hattem, de 33 anos, chegou à Câmara em fevereiro com a maior votação de toda a bancada gaúcha, com 350 mil votos, após ter exercido um mandato de deputado estadual e outro de vereador em Dois Irmãos (RS), sua cidade natal. No início de 2018 trocou o PP pelo Novo. Além da brasileira, ele tem cidadania holandesa. Na Holanda, onde seu pai nasceu, fez mestrado em Ciência Política pela Universidade de Leiden, depois de ter se graduado em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
É co-fundador e consultor da Argumento Consultoria para Líderes de Expressão, no Brasil, e diretor de sua divisão internacional, Argumento – Leadership Expression Consultants for International Relations, com sede em Utrecht, na Holanda. Trabalhou na Câmara como assessor especial para relações internacionais e economia, e em Haia, na Diretoria de Empreendimentos Internacionais do Ministério dos Assuntos Econômicos, Agricultura e Inovação do governo holandês.
copiado https://congressoemfoco.uol.com.b
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