A Grécia pode precisar de mais 50 mil milhões de euros em ajuda externa ao longo dos próximos três anos,
alertou quinta-feira o Fundo Monetário Internacional
(FMI). No relatório, o FMI admite que venha a ser necessário um alívio
da dívida [ perdão de dívida ] para permitir que a economia recuperasse,
recomendando aos credores que ofereçam à Grécia taxas de juro com
desconto.
De acordo com a instituição, mesmo que as políticas
económicas gregas voltassem a cumprir as recomendações externas, a
dívida não seria sustentável a não ser que os empréstimos europeus
fossem prolongados - outras concessões seriam necessárias, como
extensões dos prazos de devolução de prestações. O FMI reconhece mesmo
que pode haver necessidade de uma redução da dívida em 30 por cento do
PIB para que esta se torne sustentável.
O FMI diz ainda que a
Grécia deveria ter direito a um período de carência de 20 anos antes de
começar a fazer pagamentos aos credores estrangeiros, sendo que as
dívidas não ficariam saldadas antes de 2055.
O FMI acrescenta, de
acordo com o jornal Guardian, que só considerará novas propostas para um
terceiro resgate à Grécia se estas incluírem um compromisso de reformar
a economia grega e um projeto de alívio da dívida. O primeiro-ministro
Alexis Tsipras já tem pedido que a dívida grega seja alvo de uma redução
ou haircut desse tipo, tendo dito que só assim estaria disposto a
introduzir novas medidas de austeridade.
Tsipras já não aceita cortar da Defesa
O
primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, sublinhou hoje que o seu
Governo não aceitará cortes na despesa da Defesa, num recuo em relação
ao que já tinha aceitado nas negociações com os credores internacionais.
"Nem
eu, nem o ministro da Defesa vamos aceitar cortes [na Defesa], reduções
que estão concebidas para criar novas desigualdades dentro da sociedade
e, em particular, não aceitaremos reduções das retribuições do pessoal
das Forças Armadas", declarou hoje Tsipras perante oficiais do exército.
O
chefe do executivo grego argumentou que se trata de questões que afetam
"a essência da soberania nacional" e acrescentou: "Apesar de estarmos
numa situação de dificuldade económica sem precedentes, devemos manter
este núcleo da nossa soberania".
O líder do Syriza frisou ainda que será o Governo a decidir onde está disposto a fazer os cortes orçamentais.
Tsipras
fez estas declarações na presença do ministro da Defesa e líder do
partido nacionalista Gregos Independentes, Panos Kamenos, que, noticiou
hoje a imprensa local, o terá pressionado para recuar na cedência feita
às instituições da 'troika' (Comissão Europeia, Banco Centra Europeu,
Fundo Monetário Internacional) de cortar em 200 milhões de euros o
orçamento da Defesa em 2016 e em 400 milhões no ano seguinte.
Numa
carta endereçada na terça-feira aos dirigentes dessas instituições,
Tsipras aceitava a maioria das suas últimas propostas e cedia em algumas
das medidas, entre as quais os cortes na Defesa.
Os credores
internacionais exigem que a Grécia corte 400 milhões de euros na despesa
de Defesa a partir de 2016 e, ao princípio, o Governo de Atenas
propunha cortar 200 milhões.
Varoufakis prefere "cortar o braço" a assinar acordo mau
O
ministro das Finanças grego já tinha dito esta quinta-feira que prefere
"cortar o braço" a assinar um acordo com os credores "que não inclua a
reestruturação da dívida". Em
entrevista à televisão da Bloomberg,
Yanis Varoufakis disse ainda que se demite do governo em caso de
vitória do "sim" no referendo do próximo domingo, mas sublinhou que está
confiante de que os gregos vão votar "não".
À pergunta "se o
'sim' ganhar, na segunda-feira não será mais ministro das Finanças?",
Varoufakis respondeu: "Não serei", referindo-se ao referendo sobre as
últimas propostas de financiamento dos credores da Grécia, que o Governo
liderado pelo Syriza pede aos gregos para rejeitarem.
Varoufakis
insistiu também, tal como o primeiro-ministro Alexis Tsipras já tinha
feito ontem, que um "não" no referendo não significa a saída do euro.
"Nós queremos desesperadamente ficar no euro, mesmo criticando o seu
quadro institucional", disse. E tal como tinha feito ontem em entrevista
à televisão grega Varoufakis disse que os credores estão dispostos a
negociar e que o acordo será rápido, depois do referendo.
Questionado
sobre se acha que Angela Merkel está à espera de um "sim" no referendo e
de um novo governo grego, Varoufakis respondeu ao jornalista citando
uma personagem da trilogia da BBC
House of Cards (e do seu
remake
norte-americano): "You may very well say that, I couldn't possibly
comment", que pode ser traduzido como "Pode muito bem achar isso, eu não
posso comentar".
No referendo do próximo domingo, os gregos vão
ser consultados sobre se aceitam ou não os termos propostos pelos
credores (Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Central
Europeu) para manter o financiamento ao país.
Varoufakis tem-se desdobrado em declarações nas últimas horas: publicou
no seu blogue
um apelo ao Não no referendo grego, com seis argumentos, esteve na
televisão grega ontem à noite, e já esta manhã deu uma entrevista à
rádio pública australiana ABC e depois à Bloomberg.
Nem Juncker nem Comissão vão fazer "campanha" no referendo
A
posição oficial da Comissão Europeia foi confirmada esta manhã pelo
porta-voz da presidência. Mas, o presidente não esquece os gregos. Estão
no "seu pensamento".
"O presidente Juncker tem o povo grego no
seu pensamento e apoia a determinação deles para serem parte da Europa e
de continuarem na zona euro", afirmou o porta-voz, Margaritis Schinas,
garantindo que a sala de imprensa da Comissão Europeia "não será palco
de campanha".
A afirmação do porta-voz causou surpresa, já que na
segunda-feira, Jean-Claude Juncker esteve na sala de imprensa, tendo
apelado aos gregos para votarem a favor da proposta dos credores,
considerando que "independentemente da pergunta" que for colocada no
referendo, o que está em causa é dizer se Grécia permanece na União
Europeia ou se se distancia.
"Dizer não, no referendo,
significaria que a Grécia disse não à União Europeia", afirmou o
presidente do executivo comunitário, numa conferência de Imprensa, em
Bruxelas, considerando que isso é "independente" da pergunta que for
colocada no domingo.
Por agora "não haverá mais conversações antes
do referendo", E, a Comissão Europeia "esperará simplesmente pelo
referendo de domingo e terá em conta o resultado desse referendo", disse
Margaritis Schinas, acrescentando que "agora é o momento dos povo grego
escolher o futuro".
Sobre as contradições entre o que Alexis
Tsipras diz em Atenas e aquilo que Jean-Claude Juncker propõem em
Bruxelas, o porta-voz lembrou que a comissão publicou as propostas e que
não "é apenas dinheiro que está em causa, mas também reformas e a
capacidade do governo para executar essas reformas".
"As propostas
do presidente estão todas transcritas e publicadas para que todos as
vejam. Não estamos em campanha e não vamos utilizar a sala de imprensa
da comissão europeia para entrar em diálogo com as autoridades
helénicas", afirmou o porta-voz.
Os avisos do Eurogrupo
O
presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, disse hoje que
a situação da crise grega "está a degradar-se" e arrisca-se a ser ainda
mais difícil se os gregos votarem 'não' no referendo de domingo.
"A
situação está a degradar-se devido ao comportamento do Governo grego",
declarou Jeroen Dijsselbloem, ministro das Finanças da Holanda, durante
um debate no Parlamento holandês.
Segundo o presidente do
Eurogrupo, Atenas sugere aos seus cidadãos que um 'não' no referendo de
domingo permitirá beneficiar de um pacote de reformas e medidas
orçamentais menos duras. "Isto não é verdade", insistiu Dijsselbloem.
"Em
caso de 'não' (...), isso tornar-se-á extremamente difícil para a
Grécia", adiantou, afirmando que "os problemas económicos não serão
senão mais graves e um (novo) programa de ajuda mais difícil de ser
adotado".
copiado http://www.dn.pt/inicio/globo/
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