Governantes no inferno
- 24/11/2016 00h15
Quando pequeno, no tempo em que crianças
liam livros, eu tinha uma coleção da época, com histórias de
míticos heróis. Era empolgante ler cada conto ou novela
da série que, acredito, se chamava “O livro das grandes
aventuras”,
ou algo parecido, não importa a exatidão, perdida no passar dos
anos. O que nunca me saiu da memória foi o cheiro das páginas,
como as do “Tesouro da juventude”, outra clássica coleção
daquele tempo. Recentemente, acompanhando os comportamentos
erráticos de nossos governantes nestes tempos turbulentos, veio-me
à memória uma daquelas narrativas. Era de um herói, talvez um
rei, que se vê perdido em meio a um combate e que, cego pelo sangue
e pelo furor da batalha, gira sua espada desesperadamente, ferindo e
matando em círculos, não só inimigos, como companheiros de
batalha. O final deve ter sido trágico, mas também a história se
perdeu como narração, apenas restando o exemplo cruel daquele
momento do combate. A lembrança deste triste herói remete ao que
assistimos hoje, diariamente. A ação desesperada dos responsáveis
pelo governo das coisas e das pessoas de nosso país, agindo como
que cegos pelo desenrolar da batalha financeira,
administrativa e moral que travam para retomar, corretamente, os
rumos da sensatez. Eles estão a ferir de morte iniciativas exitosas
em todos os setores da vida brasileira. Isso sem o menor cuidado
com o patrimônio acumulado nos últimos anos em experiências que
custaram não só esforços, como vidas, e que estão sendo
sacrificadas junto com fracassos onerosos — baseados em concepções
idiotamente utópicas, e que foram a causa real do desastre
brasileiro do século XXI, do retrocesso de que o país foi vítima,
graças à ação de aventureiros de uma estranha ideologia de
poder. Continuam cegos. Não veem direito as causas da debacle,
insistindo em rodar a espada e destruir instituições devidamente
testadas e comprovadamente eficazes em seus resultados
em todas as áreas de importância para o Brasil. Ferem de morte os
avanços obtidos em educação, saúde, segurança
e o que mais for. Além do Disque-Denúncia, outros programas
socialmente importantes estão sendo atingidos, indiscriminadamente,
numa inversão da punição, onde a vítima é condenada. Seria um
bom começo, e um bom exemplo, cortar privilégios e benefícios do
andar de cima, eliminando as causas, e não os sintomas. Alguns
governantes de nosso tempo irão pagar no inferno pelo que fizeram.
Pelo que deixaram de fazer, todos estarão lá um dia. Zeca Borges é
coordenador do Disque-Denúncia
copiado http://oglobo.globo.com/
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