Otimismo precoce com a economia de Bolsonaro
Letargia
A verdade é que em 2018 o ritmo de retomada do nível de atividade da economia brasileira desacelerou intensamente, revelando o grau de dificuldade de darmos partida a um novo de ciclo de crescimento vigoroso que permita a elevação expressiva da renda e do emprego. Enquanto entre 2016 e 2017 saímos de uma retração de 3,3% do PIB para um incremento de 1,1%, registrando, portanto, um ganho de 4,4 pontos percentuais no ritmo de crescimento, entre esse último ano e 2018 o PIB agregou apenas 0,3 pp na taxa de incremento, para se situar em torno de 1,4%, se tanto. Ou seja, quando consideramos o ritmo de retomada da economia depois da recessão, andamos de lado ao longo de 2018. É pouco, muito pouco diante da devastação econômica e social dos últimos anos.
Cabe não esquecer que iniciamos o ano de 2018 com a expectativa de que o PIB apresentaria incremento de 2,7%, taxa que, se não é espetacular, indicaria possibilidades de retomada substantiva do crescimento econômico.
Muito do que se apresenta hoje como indicadores econômicos favoráveis, como a inflação comportada, juros básicos rebaixados e o saldo favorável da balança comercial, são na verdade reflexos irrefutáveis de como a economia brasileira permanece letárgica. Adicione-se que a recuperação anêmica do nível de atividade tem sido muito desigual em termos regionais: enquanto o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) apresentou incremento de 1,4%, na comparação entre os dez primeiros meses de 2018 e o mesmo período de 2017, no caso da região Nordeste o crescimento do Índice de Atividade Econômica Regional (IBC-R) no período se limitou a 0,2%.
Perspectivas
Os dados duros a respeito da atividade econômica em 2018 não escondem o fato de que o crescimento do PIB deverá acelerar em 2019. As projeções podem variar entre 2,4%, do Relatório de Inflação do Banco Central, de dezembro de 2018, até 2,8%, de instituições financeiras mais otimistas. Sabemos, todavia, que, nos últimos anos, as expectativas formuladas de recuperação mais vigorosa têm se revelado seguidamente frustradas, por fatores de diversas naturezas.
A principal força que deverá impulsionar o crescimento do PIB em 2019, pouco se fala disso, tem um caráter quase que “automático”, no sentido de que desde o 1º trimestre de 2017 a economia superou a etapa declinante do ciclo econômico e iniciou a de retomada e, ainda que a recuperação venha se revelando muito vacilante, os mecanismos cíclicos da atividade econômica devem continuar impulsionando alguma aceleração de crescimento.
A melhoria da confiança empresarial, em vários segmentos econômicos, e das famílias, associada ao resultado eleitoral e às expectativas em relação à implementação das reformas prometidas, pode sim constituir fator favorável à aceleração do crescimento, mas o impacto, a duração e os desdobramentos que terá são muito incertos e seus efeitos devem ser cotejados com as limitações e as incertezas persistentes, no cenário interno e no quadro internacional.
O ponto central, determinante para a intensidade da retomada do crescimento, é que não estão claras as forças de demanda que o impulsionarão em 2019 e anos seguintes. Por mais que os fatores relacionados à melhoria da confiança dos chamados agentes econômicos (empresas e famílias) possam atuar favoravelmente persistem fortes restrições ao incremento dos gastos empresariais e do consumo das famílias, sem falar nas limitações fiscais e legais para a expansão dos gastos públicos.
A situação do mercado de trabalho é ainda muito precária e o grau de endividamento das famílias permanece muito elevado para se contar com uma retomada firme da demanda por consumo, enquanto o grau de endividamento das empresas, a elevada ociosidade de recursos nos diversos segmentos produtivos e, sobretudo, a falta de um equacionamento para a crise da construção civil, não autorizam expectativas muito otimistas para a retomada dos investimentos.
* Ricardo Lacerda é professor de economia da Universidade Federal de Sergipe
Enquanto presidente, Bolsonaro é um ótimo comunicador de redes
Enquanto presidente da República, Jair Bolsonaro tem sido um excelente comunicador de redes sociais. Nesses tempos conectados, a comunicação é de fato importantíssima. Governar, porém, é algo muito mais complexo, e há um abismo entre o que um deputado pode dizer sem compromisso nas redes e a comunicação de um presidente – que, por sinal, tem que ir muito além de falar para a torcida. Tem, sobretudo, que fazer.
Palavra de presidente da República tem que valer, no mínimo expressando a verdade e a exatidão. Dizer que aumentou o IOF quando não aumentou o IOF e ser desmentido pelo secretário da Receita e pelo chefe da Casa Civil é um deslize. Mais constragedor no mesmo dia em que o presidente anuncia uma redução da alíquota mais alta do IR, também negada. Pior ainda quando isso ocorre no dia seguinte ao anúncio de uma suposta idade mínima para aposentadoria, a ser incluída na reforma da Previdência, mas desconhecida da equipe que está elaborando essa reforma.
Jair Bolsonaro não é Chacrinha e não pode chegar para confundir. Tem que chegar para esclarecer, decidir como a reforma da Previdência – ou qualquer outro assunto – vai ser, anunciar e tocar as ações necessárias para viabilizá-la. Governar é isso.
Se Bolsonaro não encontrar um anteparo para protegê-lo, inclusive de suas próprias palavras, correrá o risco de botar a perder as boas condições que tem hoje de aprovar a Previdência e outras pautas da agenda econômica no Congresso. Precisa urgentemente de um ministro ou assessor para se expor em seu lugar. Tem também que sair um pouco do lero-lero das redes sociais, ler as propostas de reforma da Previdência, ouvir quem precisar e escolher a sua.
Deputados costumam sobreviver quando são pegos na mentira ou perdem a credibilidade. Presidentes, nem sempre.
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