Médicos sofrem perseguição de Maduro na visita da ONU à Venezuela
AFP/Arquivos / Cristian HERNANDEZPessoal de saúde protesta do lado de fora do hospital Miguel Pérez Carreño, em Caracas, em 11 de março de 2019
Os médicos venezuelanos estão na mira do governo de Nicolás Maduro por terem tentado alertar a missão da ONU, atualmente em visita ao país, sobre a grave escassez de equipamentos e de remédios nos hospitais.
O governo venezuelano afirma que as sanções dos Estados Unidos, que congelaram 30 bilhões em ativos do país, impedem-no de importar artigos de primeira necessidade, incluindo remédios.
"Esta manhã, tiraram à força a presidente da escola de remédios do hospital de Maracay (ao oeste de Caracas) e, desde então, não sabemos onde está", disse ontem à AFP Jaime Lorenzo, diretor-executivo da ONG Médicos Unidos, sem especificar quem poderia estar por trás desse episódio.
"Estava protestando contra a repressão do pessoal de saúde e dos que denunciam a falta de medicamentos e o mau funcionamento dos hospitais", acrescentou.
O deputado opositor pelo estado de Vargas José Manuel Olivares, que é oncologista e radioterapeuta, denunciou no Twitter que se trata do "terceiro médico em duas semanas que é perseguido por denunciar a situação que se vive nos hospitais".
No domingo, houve incidentes entre o pessoal do hospital de Barquisimeto (noroeste) e um grupo de partidários do governo venezuelano, que jogaram pedras enquanto esperavam a chegada dos enviados da alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.
Segundo a Médicos Unidos, a repressão aumentou nas últimas duas semanas.
"Chamamos a atenção para nossos pacientes, que morrem pela falta de insumos e de profissionais. Os médicos foram detidos sem qualquer justificativa", acusou Lorenzo.
A missão da ONU está na Venezuela em uma "missão técnica preliminar" para preparar uma possível visita de Bachelet. Ela foi convidada oficialmente pelo governo venezuelano em novembro.
Em Barquisimeto, os enviados das Nações Unidas visitaram o hospital escoltados por médicos e pelas autoridades locais.
- Operação de 'maquiagem' -
Várias ONGs, como a Provea, denunciam que o governo montou uma operação de "maquiagem" nos hospitais e presídios visitados pelos representantes da ONU para esconder sua precariedade.
"Em Valencia e em Barquisimeto, vimos caminhões que levaram médicos e insumos para o hospital, onde se esperava a visita da missão", relatou Jaime Lorenzo.
Nos hospitais públicos, faltam 90% dos produtos médicos necessários, e quase todos os laboratórios públicos fecharam, segundo uma pesquisa nacional feita pela ONG Médicos pela Saúde junto com o Parlamento, única instituição controlada pela oposição.
Há três anos, o governo não divulga números oficiais nesse sentido.
A situação se vê agravada pela saída de muitos médicos. Segundo a Federação Venezuelana de Médicos, 22.800 médicos optaram pelo exílio nos últimos anos. "Para nós, esses números são maiores", disse Lorenzo.
Ao todo, 3,4 milhões de venezuelanos abandonaram o país, incluindo 2,7 milhões desde 2015, conforme o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
O apagão de 7 de março, que deixou o país na escuridão por quase uma semana, agravou ainda mais a situação.
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