Problema de Sergio Moro é Bolsonaro, não Maia
Prestes a completar três meses na capital da República, Sergio Moro começa a se dar conta de que Millôr Fernandes é que estava certo: "Em Brasília, o vento que passa, os perfumes que chegam com a primavera, a própria prima Vera, tudo o que se vê, se sente e se respira, conspira." Pouco afeito às mumunhas do Executivo, Moro não consegue farejar a própria execução.
Moro trocou a 13ª Vara Federal de Curitiba pelo Ministério da Justiça porque estava "cansado de tomar bolas nas costas". Achava que seu trabalho na Lava Jato "era relevante, mas tudo aquilo poderia se perder se não impulsionasse reformas maiores, que não poderia fazer como juiz." As bolas continuam pingando no seu costado. E começou a levar caneladas.
No planeta da Lava Jato, Sergio Moro era o magistrado todo-poderoso. E Rodrigo Maia, o "Botafogo" da planilha da Odebrecht. No universo brasiliense, Moro é o patrono de projetos anticrime e anticorrupção. Maia, o dono da pauta da Câmara. Em Curitiba, Moro mandava prender. Em Brasília, ele é aprisionado no labirinto legislativo.
Até outro dia, Moro divulgava conversas alheias para atear fogo no circo. Hoje, libera autogravações para tentar evitar que o façam de palhaço. Na madrugada de quarta-feira, enviou áudio para o celular de Maia pedindo pressa na votação dos seus projetos. Ele está "trocando as bolas", ironizou Maia, antes de chamar o ex-super-juiz de "funcionário do presidente Bolsonaro".
Maia deu de ombros para Moro: "Ele conversa com o presidente Bolsonaro e, se o presidente Bolsonaro quiser, ele conversa comigo. Eu fiz aquilo que eu acho correto. O projeto [de Moro] é importante. Aliás, ele está copiando o projeto direto do ministro Alexandre de Moraes [do STF]. É um copia e cola. Não tem nenhuma novidade, poucas novidades no projeto dele."
Na noite de quarta, Moro levou os lábios ao trombone em novo áudio, dessa vez dirigido às arquibancadas. Nele, insinuou que Maia conspira contra o interesse público e pediu respeito à sua figura e aos seus projetos. Mesmo quem não entende nada de política consegue enxergar as politicagens que escapam à perspicácia de Moro.
O nome do problema de Sergio Moro é Jair Bolsonaro, não Rodrigo Maia. Daí a frase: "Ele conversa com o presidente e, se o presidente quiser, ele conversa comigo." O pacote de Moro migrou da vitrine para os fundões da loja porque Maia e os líderes partidários querem. Mas o movimento não ocorreria com tamanha facilidade sem o aval tácito de Bolsonaro. Tudo em nome da reforma da Previdência.
Os fantasmas só aparecem para quem se apavora com eles. Antes de engrossar a voz no áudio sobre Maia, Moro tremeu duas vezes. Numa, concordou em transferir a criminalização do caixa dois do pacote principal para um projeto anexo, mais fácil de ser esquecido. Noutra, dobrou os joelhos diante da exigência de Bolsonaro para que desnomeasse Ilona Szabó.
Ficou entendido o seguinte: aquele ministro sem forças para nomear uma conselheira gabaritada para um conselho reles da pasta da Justiça não era o velho Moro, mas um ex-Moro. Em política, tem gente que faz, tem gente que manda fazer e tem gente como o ex-Moro, que apenas pergunta: "O que está acontecendo?"
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