Educação
Deputados, professores e diretores de escolas pedem medidas
Discurso de António Costa obriga o Governo a passar promessas à prática, avisam parceiros. Parlamento também pede medidas.
Discurso de António Costa obriga o Governo a passar promessas à prática, avisam parceiros. Parlamento também pede medidas.
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O
discurso de Natal de António Costa, assumindo que a Educação tem de ser
a "primeira das prioridades" do País, deixou os parceiros educativos
entusiasmados com o futuro. Mas também há quem confesse desconfiança,
face a um acumular de "promessas" que tardam em concretizar-se, uma
pressão reforçada pelo Parlamento. Ainda ontem, foram publicados em
Diário da República dois projetos de resolução, ambos propostos pelos
partidos mais à esquerda, ambos viabilizados pelo PS, defendendo a
adoção de medidas promotoras do sucesso escolar, desde logo a referida
redução do número de alunos por turma.
Manuel
António Pereira, presidente da Associação Nacional de Diretores
Escolares (ANDE), admite ter ficado "sensibilizado " com a intervenção
de António Costa. "Em muitos anos, foi a primeira vez que um
primeiro-ministro fez um discurso tão virado para a Educação: E isso,
por si só, já é positivo".
Filinto
Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas
Públicas (ANDAEP), subscreve o entusiasmo: "O primeiro ministro colocou
finalmente a educação, pelo menos nas palavras, no lugar que merece: na
agenda política deste governo, está lá à frente", diz.
Mas
a todo este entusiasmo, acrescenta, tem se seguir-se a materialização
desta aposta: "tem de haver medidas e logo a partir de janeiro", avisa
."Mais assistentes operacionais nas escolas, mais psicólogos, o número
de alunos por turma tem de ser reduzido", ilustra.
Irão
estas acontecer? Para estes representantes dos diretores nem passa pela
cabeça o contrário: "Não acredito que o primeiro-ministro faça um
discurso destes, numa altura tão importante, sem ter alguma coisa
prevista", considera Filinto Lima. "Não alinho no discurso dos que dizem
que as intenções são boas mas não há dinheiro", reforça Manuel António
Pereira.
Entre o deve e o haver
Os
projetos de resolução ontem publicados - por coincidência, até porque
os documentos em causa tinham sido aprovados no início de outubro -
visam a redução do número de alunos por turma. Uma medida que até era um
compromisso do Governo. Mas desde então, de concreto, pouco se sabe
sobre a sua passagem à prática.
Em
novembro, numa resposta enviada ao DN, o Ministério da Educação - ainda
que reiterando o compromisso - assumiu que o tema seria tratado com
cautela, por ter "um impacto financeiro significativo e cujas mais
valias, em termos de qualidade e equidade, dependem, em grande medida,
do modelo adotado para a sua implementação". Na altura, o Ministério
remeteu para um "estudo independente" as decisões a tomar, com as
conclusões do mesmo a serem remetidas para data incerta, "no primeiro
semestre de 2017".
Para Lucinda Manuela
Dâmaso, da Federação Nacional de Educação, este acaba por ser um
exemplo de promessas que "faltam sem dúvida" passar à prática. "Já nos
disseram que seria agora, já ouvimos o ministro a dizer que, afinal, já
não será para o próximo ano mas para o seguinte", lamenta. "A esperança é
a última coisa a morrer. mas temos tido muitas promessas que não
tiveram expressão", lamenta.
Não é a
única: o anunciado combate à precariedade na administração pública foi
acolhido com entusiasmo pelos representantes dos professores, dado o
elevado número de docentes nessa situação - cerca de 20 mil. Mas quando
começaram as negociações sobre concursos e carreiras, as propostas da
tutela deixaram perplexos os sindicatos. A começar pela vinculação
extraordinária, apenas, dos professores com mais de 20 anos de serviço,
todos cumpridos como profissionalizados, o que na prática se traduziria
numa centena de entradas nos quadros a curto prazo.
O
desconforto com a lenta tradução prática das intenções já é também
evidente na reação do líder da Fenprof, Mário Nogueira, às declarações
de Costa : "No que respeita à Escola Pública, ainda que seja importante,
não basta o discurso de reconhecimento da sua importância. São
necessárias medidas", avisou. E mesmo o Bloco de Esquerda, através da
eurodeputada Marisa Matias, já deixou o aviso , logo no domingo: "boa
vontade" não chega.
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