Opinião Janio de Freitas: Novo ministro da Justiça é deplorável e patético Azevedo: Chefe da PF é cargo vitalício? Franco: Esperança para investigados

Deplorável é a palavra mais branda a aplicar-se a Torquato Jardim


Diego Padgurschi/Folhapress
O presidente Michel Temer (PMDB) dá posse ao novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, no Palácio de Planalto, em Brasília
O presidente Michel Temer (PMDB) dá posse ao novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, no Palácio de Planalto, em Brasília
Os Irmãos Marx eram três. Três são os Patetas. Os irmãos Metralha são três. Sucessos sugestivos, entre tantos possíveis, de que o número tem boas relações com o patético e o cômico. Talvez esteja aí a explicação para o sucedido aos selecionados de Michel Temer para ministros. No caso, os sucessivos no Ministério da Justiça, que se não chegam a ser um trio são, ao menos, uma trinca.
Secretário de Segurança do governo Alckmin, Alexandre de Moraes vivia seus dias opacos em tranquilidade. Oferecida pela atenção intermitente e ligeira dada no Estado ao êxito, interno e além divisas e fronteiras, do paulista PCC. Apesar da boa vida, topou passar por ministro da Justiça em uma composição ministerial já mal conceituada.
Era exposição demais para os fundos de Moraes. Logo a pretendida reputação de constitucionalista estava rebaixada à condição de plagiário, com a revelação pública de que se apropriou de texto alheio. Em retribuição a suas providências, quando secretário, para defender a imagem de recato de Marcela Temer, ganhou um lugar no Supremo Tribunal Federal. Sem que a toga encubra, jamais, o efeito da revelação de sua indevida coautoria.
Osmar Serraglio surgiu como relator na chamada CPI do mensalão. Não aproveitou o bom conceito feito então, voltando a ser um deputado federal sem aplausos e sem críticas. Pescado por Temer para substituir Alexandre de Moraes, Serraglio foi em geral identificado com aquele relator. Por pouco tempo.
Quem apareceu com a nomeação foi o Serraglio de ligação sorrateira com interesses ruralistas de más finalidades, como a ação contra índios para apropriações de terras.
Em complemento à nova imagem, uma gravação conectou-o à corrompida fiscalização de frigoríficos no Paraná. Se a própria voz lhe foi infiel, não foi mais cordial o seu "amigo de 30 anos" Michel Temer, que lhe pespegou alguma coisa nas costas. Parece que muito dolorosa, porque Serraglio nem foi à posse do sucessor. Como também não se mostrará no Ministério da Transparência, que poderia ser um raio-X.
Sabia-se pouco sobre Torquato Jardim, o que justifica ignorar-se ser pessoa apressada. Genro do professor Leitão de Abreu, que governou o país para encobrir a inabilitação absoluta de Médici e, em substituição a Golbery, de Figueiredo, não consta que tenha se aproveitado da relação familiar –uma raridade em Brasília daqueles e de todos os tempos.
Seus anos no Tribunal Superior Eleitoral ampliaram-lhe a imagem de sério e competente. Ministro da Transparência de um governo emparedado, Torquato Jardim irrompeu para a Justiça, em substituição a Serraglio, de modo repentino e abrutalhado. Michel Temer não perde oportunidades de errar. Mas o seguimento foi do novo escolhido.
Torquato Jardim não esperou ser ministro da Justiça de fato e de direito para devastar a sua imagem. Na primeira entrevista depois de escolhido, para Daniela Lima na Folha, exalou disposições subservientes. Não bastando a fuga às indagações, mesmo as mais simples, fez afirmações que entraram pelo grotesco e saíram na indicação de que trouxe um risco à continuidade de investigações importantes. A começar das que se apliquem a comprometimentos de Michel Temer.
Deplorável é a palavra mais branda a aplicar-se ao Torquato Jardim que emerge do cargo de ministro da Justiça de Temer. Mas a palavra merece companhia: deplorável e patético.
Integrantes da Lava Jato enfim estarão certos, e sem paranoias, se deduzirem que as investigações agora estão sob ameaça real de cerceamento.
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