Represálias comerciais visam aos estados favoráveis a Trump
AFP/Arquivos / MANDEL NGAN
Presidente dos EUA, Donald Trump, na base aérea Andrews Air Force Base em Maryland, em 13 de março de 2018
As possíveis represálias comerciais da China e da
Europa contra os produtos americanos podem representar um risco político
para Donald Trump diante das eleições de meio de mandato, pois podem
penalizar especialmente os estados agrícolas que votaram nele em 2016."Em qualquer caso, as represálias da China envolvem os estados mais vermelhos (republicanos) e agropecuários", resume Monica De Bolle, especialista em comércio internacional do Instituto Peterson de Economia Internacional (PIIE).
Estas medidas de represália respondem à ameaça de Trump de aplicar impostos adicionais de até 60 bilhões de dólares às importações chinesas.
Antes de Pequim, a União Europeia já tinha se preparado para responder à tarifação do aço e do alumínio pelos Estados Unidos. O bloco elaborou uma lista de impostos potenciais sobre dezenas de produtos americanos - como tabaco, bourbom, arroz, suco de laranja, manteiga de amendoim e motos Harley-Davidson -, que também miram estados politicamente sensíveis.
- Ameaça à soja -
Por ora, Washington está negociando com Pequim e Bruxelas. Mas, se os diálogos derem errado, "os chineses poderiam usar a artilharia pesada, colocando a soja em risco", observa De Bolle, lembrando que a China tem outras alternativas, como comprar soja do Brasil.
O gigante asiático é o principal destino da soja dos Estados Unidos, que fornece mais de um terço da leguminosa consumida na China.
Caso as represálias se concretizem, seria mais difícil para Trump angariar eleitores em dez estados - inclusive Illinois, Minnesota e Kansas - que dependem das exportações de soja para a China.
Em sua primeira reação, Pequim anunciou um possível imposto de 25% sobre as importações de carne suína dos Estados Unidos, um golpe para Iowa e um provável problema eleitoral em novembro. O estado ficou ao lado de Trump em 2016, depois de ter eleito o democrata Barack Obama nas duas eleições anteriores.
Os eleitores de Trump em 2016 poderiam simplesmente se abster de votar neste ano, alimentando a incerteza sobre o resultado das eleições de meio de mandato, que acontecerão em 6 de novembro.
Neste contexto, Edward Alden, especialista do Conselho de Relações Exteriores, argumenta que "Trump fará tudo que for possível para evitar" represálias chinesas e europeias.
Especialmente porque, no passado, a política de alvejar produtos de estados politicamente sensíveis já rendeu frutos.
- 'Postura popular' -
Em 2002, o presidente George W. Bush teve que retirar suas tarifas sobre o aço quando a União Europeia retaliou com medidas sobre as laranjas da Flórida - estado que lhe rendeu sua primeira eleição por poucas centenas de votos.
O republicano Chuck Grassley, senador de Iowa, citou outro exemplo do passado: o embargo do presidente Jimmy Carter às exportações de grãos dos EUA para a União Soviética resultou em "uma queda imediata de 10%" nas vendas de seu estado.
"Foi há 38 anos, mas ainda está na memória de todos os agricultores", disse ele ao representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Robert Lighthizer, na semana passada.
Para Trump, no entanto, o contexto é diferente, já que a imposição de tarifas aos produtos chineses, assim como ao aço e ao alumínio, é, em última instância, o cumprimento de uma de suas promessas eleitorais de atacar o comércio "injusto" de seus parceiros.
São justamente estas promessas que contribuíram para sua eleição em estados-chave, como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, onde são fabricadas as Harley-Davidson.
"Trump está apostando que os eleitores apreciem o fato de estar contra a China no comércio", disse Alden. "Ele adota uma postura dura, popular em muitas partes do país que foram duramente afetadas pelas importações chinesas".
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