Petróleo nos EUA atinge máxima de 3 anos e meio por receios sobre sanções ao Irã Ibovespa fecha em alta sustentado por ganhos de bancos Dólar fecha em queda de 0,51%, a R$ 3,856, após duas altas seguidas

Petróleo nos EUA atinge máxima de 3 anos e meio por receios sobre sanções ao Irã

Os contratos futuros do petróleo dos EUA (WTI) subiram 0,69 dólar, quase 1 por cento, para 73,45 dólares o barril. Durante a sessão, a commodity atingiu 74,03 dólares, a máxima desde 26 de novembro de 2014.
O petróleo Brent fechou em alta de 0,23 dólar, a 77,85 dólares por barril.
Os EUA exigiram nesta semana que aliados parassem de importar petróleo iraniano a partir de novembro, uma posição dura que a administração Trump espera que corte o financiamento de Teerã.
Nesta quinta-feira, autoridades disseram que trabalhariam com os países em modelo caso a caso. A China, maior importador do óleo do Irã, não se comprometeu com a posição norte-americana.
"As sanções tentam isolar o Irã um pouco mais, e que isso potencialmente corte mais petróleo da arena global como um todo", disse Mark Watkins, um estrategista de investimentos regional no U.S. Bank Wealth Management.
"Se você tira o óleo iraniano do mercado, então você têm uma diminuição na oferta e de todas as maneiras, isso colocará mais pressão para que o preço suba."
(Por Stephanie Kelly; Reportagem adicional por Christopher Johnson e Henning Gloystein)

Ibovespa fecha em alta sustentado por ganhos de bancos

Com base em dados preliminares, o Ibovespa fechou em alta de 1,63 por cento, a 71.762 pontos. O giro financeiro era de 7,51 bilhões de reais.
(Por Flavia Bohone) 

Dólar fecha em queda de 0,51%, a R$ 3,856, após duas altas seguidas

Do UOL, em São Paulo

O dólar comercial fechou esta quinta-feira (28) em queda de 0,51%, cotado a R$ 3,856 na venda, após duas altas consecutivas. Na véspera, a moeda norte-americana avançou 2,04%
O dólar caiu em relação a outras moedas emergentes após os Estados Unidos revisarem para baixo o crescimento de sua economia no primeiro trimestre deste ano, de 2,2% para 2%.
No Brasil, investidores seguiam atentos ao cenário político. Pesquisa Ibope mostrou que o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) estão tecnicamente empatados na liderança da corrida presidencial no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O mercado teme que um candidato menos comprometido com o controle dos gastos público vença a disputa.
Após atuar com mais intensidade na véspera, o Banco Central não fez novas intervenções no mercado nesta sessão. Apesar disso, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, voltou a afirmar que a entidade acompanha os mercados e usará os instrumentos necessários para conter uma possível disparada do dólar.
(Com Reuters)
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O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello determinou em decisão liminar (provisória) a revogação da prisão preventiva do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) decretada pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte. Ministro do STF concede habeas corpus a Cunha, mas ex-deputado continua preso

Ministro do STF concede habeas corpus a Cunha, mas ex-deputado continua preso

Felipe Amorim
Do UOL, em Brasília
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello determinou em decisão liminar (provisória) a revogação da prisão preventiva do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) decretada pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte.
O ex-deputado, no entanto, deverá permanecer preso por ser alvo de ordens de prisão preventiva em outros processos.
Na decisão, Marco Aurélio afirma que Cunha deverá ser solto apenas "caso o paciente não esteja recolhido por motivo diverso".
Leia mais:
No processo a que se refere a decisão de Marco Aurélio, Cunha foi denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) junto com o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (MDB-RN) por suspeitas de participação em um esquema de propina investigado pela Operação Manus, derivada da Operação Lava Jato.
Também foram denunciados quatro empresários ligados a empreiteiras suspeitas de integrar o esquema.
Cunha teve a prisão preventiva decretada nesse processo, medida agora revogada pelo ministro do STF.

Entenda as acusações contra Cunha

O político teve o mandato de deputado federal cassado em setembro de 2016. Com a perda do foro privilegiado, o STF autorizou a remessa de dois processos contra Cunha à Justiça Federal do Paraná.
Eduardo Cunha está preso desde outubro de 2016 por ordem do juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba.
Em Curitiba, no processo da Lava Jato, Cunha foi condenado sob a acusação de ter recebido R$ 4,7 milhões de propina para viabilizar a compra de um campo de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.
Quando a Justiça Federal do Rio Grande do Norte decretou a prisão de Cunha, em junho de 2017, ele já estava preso por determinação de Moro.
O ex-deputado ainda é réu em uma segunda ação criminal e também em um processo por improbidade administrativa, ambos ligados às investigações da Lava Jato.
segunda ação criminal acusa o ex-deputado de ter recebido propina ligada a contratos de navios-sonda da Petrobras. Esse caso está sob a responsabilidade do TRF2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região, sediado no Rio de Janeiro). Porém, o MPF (Ministério Público Federal) já se manifestou favoravelmente pelo envio do processo à 13ª Vara Federal de Curitiba, que é presidida pelo juiz Sérgio Moro. O TRF2 ainda não decidiu sobre o caso.
terceira ação penal corre na 10ª Vara Federal de Brasília. Em junho, o juiz Vallisney de Souza Oliveira condenou Cunha nesse processo a 24 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e violação de sigilo funcional. Cunha também teve a prisão preventiva decretada nesse processo.
As acusações versam sobre um suposto esquema de propina relacionado a empréstimos do FI-FGTS (Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.
quarta ação na qual Cunha é réu está na 6ª Vara Federal de Curitiba. O ex-deputado foi denunciado pela força-tarefa da Lava Jato por improbidade administrativa, numa ação que pede uma indenização de R$ 10 milhões por supostos prejuízos causados à Petrobras pelo envolvimento dele no esquema de propina na estatal.
A ação por improbidade, por não ser uma ação criminal, não foi distribuída ao juiz Sergio Moro, que cuida dos processos da Lava Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba.

VEJA A TRAJETÓRIA POLÍTICA DO EX-DEPUTADO FEDERAL EDUARDO CUNHA

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Há 70 menores sozinhos no navio Lifeline, diz Eduardo Cabrita Ministro da Administração Interna diz que Lisboa está em contacto permanente com Malta.


Um dos menores a ser desembarcado do navio Lifeline DARRIN ZAMMIT LUPI/REUTERS


Há 70 menores sozinhos no navio Lifeline, diz Eduardo Cabrita

Ministro da Administração Interna diz que Lisboa está em contacto permanente com Malta.


Há 70 menores não acompanhados a bordo do navio da ONG alemã Lifeline, revelou o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Nos próximos dias, uma equipa técnica do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) viajará para Malta, onde o navio aportou quarta-feira, depois de dias no mar com 233 migrantes salvos no Mediterrâneo.

“A última informação que temos do Governo de Malta é que as nacionalidades estão identificadas e que as da Eritreia, Sudão, Mali, Togo são as mais presentes no navio”, adiantou Eduardo Cabrita no briefing do Conselho de Ministros.
Segundo o ministro da Administração Interna, tal como farão os restantes países que vão participar solidariamente no processo de acolhimento com o Governo de Malta, Portugal enviará em breve uma equipa técnica do SEF a Malta, que vai “tratar dos procedimentos necessários” para se definir quantos migrantes irá Portugal acolher.
“O que há é uma manifestação de abertura. Tudo depende do número de países envolvidos. Não lhe posso dizer exactamente quantos e de que nacionalidades virão para Portugal”, ressalvou o ministro. Mas Portugal poderá estar aberto para receber até 30 migrantes, tinha apurado o PÚBLICO.
“Na quarta-feira, quando o barco atracou em Malta, foi feita uma triagem médica a bordo, foram evacuadas algumas pessoas que necessitavam de ter imediatamente assistência hospitalar”, detalhou. O Governo português está “em contacto quase permanente” com as autoridades de Malta.
Também a Noruega se juntou esta quinta-feira aos oito países da União Europeia que manifestaram disponibilidade para acolher os 233 migrantes que desembarcaram m Malta depois de passarem seis dias no navio Lifeline.
O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro maltês, Joseh Muscat, na sua conta de Twitter, alargando para nove o número de países dispostos a receber uma quota de refugiados do Lifeline: Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal, Malta, França, Bélgica, Holanda e, agora, Noruega, país escandinavo que não é membro da União Europeia, mas faz parte do Espaço Económico Europeu.
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Pesquisa encontra 'rios perdidos' e malha hidrográfica do planeta deve ser 44% maior


  • Mapa mostra método que chegou ao mês ideal do ano para medir cada um dos rios
    Mapa mostra método que chegou ao mês ideal do ano para medir cada um dos rios

Pesquisa encontra 'rios perdidos' e malha hidrográfica do planeta deve ser 44% maior

Edison Veiga
Da BBC Brasil, em Milão
Um estudo publicado na revista 'Science' nesta quinta-feira conseguiu mostrar, graças a novas tecnologias, que a área coberta por rios no mundo é, no mínimo, 44% maior do que se acreditava.
No total, a superfície de rios e riachos - dos caudalosos aos mais ínfimos, excetuando-se apenas aqueles congelados - é de 773 mil quilômetros quadrados, segundo pesquisa realizada pelo Departamento de Pesquisas Geológicas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
"As superfícies turbulentas dos rios e riachos são pontos naturais de intercâmbio biogeoquímico com a atmosfera. Em escala global, o fluxo de gases entre rios e atmosfera, gases como o dióxido de carbono, depende diretamente da proporção da superfície coberta pelos rios", contextualiza o geógrafo George Allen, da Universidade Texas A&M.
"Para chegar aos resultados, utilizamos um banco de dados global de hidromorfologia e uma abordagem estatística. Mostramos que a área global da superfície dos rios é de 773 mil quilômetros quadrados, até 44% maior do que estimativas espaciais anteriores", explica o geógrafo Tamlin Pavelsky, professor de hidrologia global da Universidade da Carolina do Norte.

Mais do que descobrir água doce de forma mais abundante, a importância científica da descoberta é outra: o estudo mostra que a rede fluvial desempenha um papel maior no controle ambiental da Terra, justamente por serem essas superfícies pontos primordiais nas trocas de carbono com a atmosfera.
Por conta de reações denominadas "de equilíbrio", a água que corre pelos rios interage com o ar em uma série de processos biogeoquímicos. São trocas de massa e energia. Para se ter uma ideia, a liberação de gases pelos rios na atmosfera equivalem a um quinto do total das emissões combinadas da queima de combustíveis fósseis e da produção de cimento do globo.
Os rios, portanto, têm um notório papel controlador do calor terrestre.

Conta-gotas

Divulgação/Science
Imagem mostra como o software da pesquisa trabalha; esta imagem é o mapeamento de trecho do Rio Amazonas
Um parâmetro muito utilizado para determinar a importância dos rios é o volume de água que eles despejam nos oceanos. Antes, apenas dois estudos tentaram estimar a superfície total da malha fluvial na Terra.
Em 2012, o professor de Ecologia da Universidade de Iowa John Downing e sua equipe publicaram uma levantamento que chegou a duas estimativas. A mais conservadora afirmava serem 485 mil quilômetros quadrados de superfície. Na outra, o número foi de 682 mil quilômetros quadrados.
Downing realizou cálculos a partir de uma situação hipotética em que todos os rios do mundo pertenceriam a uma única rede fluvial de ramificação. Então, um software de computador pôde fazer as contas a partir de uma escala entre largura e comprimento desse suposto rio gigante. Como modelo, a pesquisa utilizou o tronco principal do Rio Amazonas.
No ano seguinte, a equipe do químico ambiental Peter Raymond, professor de Ecossistemas Ecológicos da Universidade de Yale, publicou o único estudo a estimar a variabilidade espacial da superfície dos rios. Sua estimativa foi de uma área de 536 mil quilômetros quadrados.
"Ambos os estudos anteriores são limitados pela falta de observações diretas da superfície total dos rios, pelas incertezas estatísticas dos métodos aplicados e por conta da variabilidade regional da geometria hidráulica", aponta Allen.
No estudo publicado nesta quinta, por outro lado, foram utilizados dados de observação por satélite dos rios, com uma abordagem estatística capaz de produzir uma estimativa mais precisa da cobertura dos mesmos na superfície terrestre.
"Construímos um banco de dados chamado Global River Widths from Landsat (GRWL), que é a primeira compilação global da geometria planificada do rio a uma descarga de frequência constante", diz Pavelsky. Para tanto, foi utilizado um banco de dados de 3.693 estações que medem variações de volumes de rios pelo mundo.
Com isto, os pesquisadores excluíram os meses com maior variabilidade positiva ou negativa do nível desses rios, principalmente no caso dos mais sujeitos à sazonalidade - e o estudo se deteve nas vazões médias.
"Adquirimos 7.376 imagens de satélite, capturadas durante esses meses da média. Aplicamos técnicas de processamento de imagens para classificar os rios e medir a localização e a largura", explica o pesquisador.
No total, o banco de dados acumulou mais de 58 milhões de medições, sendo 2,1 milhões de quilômetros lineares de rios com pelo menos 30 metros de largura em sua vazão média anual. Na conta também entraram 7,6 milhões de lagos, reservatório ou canais conectados à rede fluvial.
Para ter certeza da viabilidade do método, os pesquisadores validaram os dados do sistema realizando algumas medições in loco em rios americanos e canadenses.
"Como descobrimos que os dados são mais precisos quanto maior a largura dos rios, na criação do modelo estatístico do software consideramos apenas os dados colhidos em rios de largura superior a 90 metros, o que significa cerca de 3 pixels das imagens de satélite", afirma Pavelsky.

Sede

Ao compilarem os dados, os pesquisadores chegaram a uma conclusão alarmente: regiões mais desenvolvidas do globo, como os Estados Unidos e a Europa, são as que apresentam menor superfície fluvial disponível. "Isso pode ser em decorrência da retirada dessa água para uso, além de sua canalização", observa o cientista.
O efeito pode já ser grande no descontrole ambiental, justamente pela redução das possibilidades de trocas gasosas. Mas tais hipóteses ainda precisam ser validadas em estudos subsequentes.
Com a valorização de questões ambientais e uma maior consciência ecológica, a descoberta de novos rios deve aumentar pelo mundo. E, espera-se, a população pode forçar o poder público a promover o renascimento de muitos deles.
Em São Paulo, por exemplo, o Mapa Hidrográfico do Município mostra que existem, oficialmente reconhecidos pela Prefeitura, 287 cursos d'água. Mas estimativas do geógrafo Luiz de Campos Júnior e do urbanista José Bueno, que com o projeto Rios e Ruas fazem expedições a nascentes desde 2010, são de que essa malha hidrográfica seja pelo menos o dobro.

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OPINIÃO Angela Merkel: a grande desestabilizadora da União Europeia O pior de preservar, a todo o custo, uma construção europeia deficiente, foi ter alimentado uma engrenagem desestabilizadora da própria União Europeia

7. Angela Merkel não é certamente culpada de todos males da União Europeia, nem da Alemanha. (Ver “Deutschland unter alles They can’t blame this one on ‘Mutti.’” in Politico, 27/06/2018). Para os seus adeptos é uma heroína. É, tudo indica, uma europeísta convicta. Herdou, como já notado, uma construção europeia desequilibrada por decisões dos anos 1990. Mas as suas políticas de preservação, a qualquer custo, dessa construção europeia mal concebida, sobretudo na Zona Euro e no Espaço Schengen, geraram um sentimento de ressentimento. Acabaram por tornar grande parte do Sul e do Leste europeu anti-europeístas e anti-germânicos, de forma aberta ou latente. Instalou-se o sentimento de que a Alemanha retira os maiores ganhos da construção europeia. E de que a União Europeia é um instrumento de dominação germânica. Ao mesmo tempo, internamente, ......

OPINIÃO

Angela Merkel: a grande desestabilizadora da União Europeia

O pior de preservar, a todo o custo, uma construção europeia deficiente, foi ter alimentado uma engrenagem desestabilizadora da própria União Europeia

1. Ao longo dos últimos anos Angela Merkel transformou-se numa líder quase mítica para o europeísmo de centro-direita, e, de forma mais surpreendente, tendo em conta a sua área política, também para o europeísmo de centro-esquerda. Defendeu o Euro e a estabilidade monetária na União Europeia no seu período mais crítico, após a crise desencadeada em 2008 nos EUA que alastrou rapidamente para a Zona Euro. Emergiu como uma autoridade e reserva moral na questão dos migrantes/refugiados, após a sua decisão de abertura das fronteiras alemãs em 2015. É vista como o maior bastião da construção europeia contra as derivas populista e eurocéptica, quer no interior da União, quer no outro pilar do Ocidente, os EUA, sob o efeito isolacionista e anti-liberal de Donald Trump. Para os seus defensores, os múltiplos ataques de que Angela Merkel tem sido alvo só alicerçam a convicção de que é preciso cerrar fileiras em torno desta e apoiar as suas ideias para a Europa e o mundo. Mas o legado político de Angela Merkel pode ter uma leitura bem mais crítica, pelos múltiplos impactos das suas políticas, quer internamente, quer em vários Estados-membros da União Europeia, sobretudo a Sul e a Leste.
2. Paradoxalmente, a obsessão de Angela Merkel pela estabilidade europeia tornou-se desestabilizadora. À custa de tanto querer preservar a construção europeia na lógica actualmente instituída — e o papel central da Alemanha nesta —, acabou por provocar e libertar forças poderosas que a desestabilizaram, e continuam a desestabilizar, em sucessivas crises. As actuais fracturas europeias, em torno da política de asilo e migrações, evidenciam o problema. Num primeiro olhar, estamos perante uma crise totalmente artificial, provocada por políticos populistas e outros radicais. Nesta altura, os fluxos migratórios para a União Europeia são bem mais baixos do que em 2015, ou até em 2017. É verdade. Mas essa é apenas a superficialidade do problema, como explicarei melhor. Nas profundezas da questão estão os avanços, pouco consistentes, da União Europeia, para uma união económica e monetária e para o Espaço Schengen, a partir do final dos anos 1980 e anos 1990. Não são, importa deixar isso claro, responsabilidade directa de Angela Merkel, mas dos políticos da época. Em qualquer caso, ambos se tornaram, ao longo do tempo, aspectos centrais de uma União Europeia mais integrada e a caminho de uma união política. O problema é que a arquitectura de ambos — a da Zona Euro e a do Espaço Schengen — foi mal concebida em aspectos cruciais do seu funcionamento. Não previu soluções adequadas, a nível europeu, para crises graves. Na prática, ambas favorecem uns Estados em detrimento de outros, como mostra a experiência da última década. E aí começam as sementes da contestação e da instabilidade.
3. Ao preservar uma construção europeia desequilibrada que herdou, na realidade Angela Merkel fez muito mais do que isso: manteve intocado um sistema que, na prática, favorece uns Estados a favor de outros e a centralidade da Alemanha. Isso é bastante evidente na Zona Euro. Com esta actuação, Angela Merkel criou, assim, uma poderosa engrenagem externa de ressentimento contra si em vários Estados-membros, no Sul e Centro e Leste europeu. Ironicamente, há também uma dimensão interna desse ressentimento que não é irrelevante: no pior cenário, até poderá derrubar o seu governo, se perder o apoio da CSU, os democratas-cristãos da Baviera. O contraste é flagrante com o passado. Quando chegou ao poder, em finais de 2005, a Alemanha tinha um sistema partidário muito estável, herdado da fundação da República Federal da Alemanha em 1949, após o colapso da Alemanha nazi na II Guerra Mundial. A rotatividade entre o centro-direita (CDU-CSU) e centro-esquerda (SPD) era uma realidade consistente da política alemã. Agora, em 2018, a Alemanha tem um governo frágil da CDU/CSU / SPD, assente num centro político cada vez mais a estreitar-se (com o SPD a arriscar-se a uma crescente irrelevância política) e com os extremos em alta, especialmente à direita a Alternativa para a Alemanha (AfD). Pela primeira vez na história do pós-guerra, a aliança política que estabilizava o centro-direita CDU/CSU está em risco de colapso. Há uma observação inegável: a grande coligação liderada por Angela Merkel, entre a CDU/CSU e o SPD, ao desguarnecer os extremos, está a destruir as bases da estabilidade política alemã tal como a conhecíamos.
4. No plano externo, a engrenagem do ressentimento contra Angela Merkel e a Alemanha surgiu, primeiro, ligada à crise Zona Euro. Esta atingiu o seu ponto crítico nos primeiros meses do ano de 2015, com o problema da imensa dívida grega. O que se verificou, especialmente entre 2010 e 2015, foi um contínuo acumular de desequilíbrios na Zona Euro. Independentemente de outras causas — e das responsabilidades nacionais que obviamente também existiram, como é muito evidente na Grécia —, o sistema potenciou um aumento contínuo da dívida pública no Estados do Sul da União, um acumular de superavits comerciais e um afluxo de capitais à Alemanha, que intensificou a sua primazia económica na União. Ao defender intransigentemente a arquitectura do Euro — uma réplica europeia do modelo monetário alemão —, Angela Merkel conseguiu, de facto, preservar o sistema. Mas esse sucesso teve um preço muito político elevado: libertou uma poderosa engrenagem de ressentimento. Basta lembrarmo-nos das imagens do nazismo e das guerras da Alemanha na Europa que ressurgiram em força, na Grécia e nos Estados mais afectados pela crise e pelas políticas de austeridade. Ao contrário do que muitos pensam, esse ressentimento não desapareceu, apenas se tornou latente. Ficou à espera de uma nova conjugação de circunstâncias negativas para explodir. Aqui entram os populismos que encontraram o terreno perfeito para crescer e funcionam agora como detonadores.
5. A engrenagem do ressentimento tem um outro lado crítico na crise dos refugiados/migrantes do Verão de 2015. Um elemento eminentemente político da construção europeia está no cerne do problema: o Espaço Schengen. Tal como a Zona Euro, não foi pensado para crises de alguma gravidade, ligadas a pressões migratórias de massa de refugiados / migrantes económicos nas suas fronteiras externas. O quadro legislativo europeu — “os regulamentos de Dublin” — colocou uma sobrecarga desproporcionada nos Estados com fronteiras externas a Sul, dado os fluxos migratórios virem do Mediterrâneo. São estes que têm de lidar, em primeira linha, com as chegadas em massa no seu território e tratar a generalidade dos pedidos de asilo. (Ver Comissão Europeia, “Country responsible for asylum application (Dublin)”). Mas sendo este um sistema europeu, pressupõe uma actuação comum europeia. Todavia, em 2015, quando Angela Merkel, decidiu abrir as suas fronteiras, fê-lo unilateralmente. (Ver “Merkel's Refugee Policy Divides Europe” in Der Spiegel, 21/09/2015). Podemos debater, interminavelmente, se o fez por genuíno sentimento humanitário e liderança moral da União Europeia — como sustentam os seus defensores; ou se o fez por frio calculismo político, para melhorar a imagem negativa ligada à insensibilidade ao sofrimento dos povos do Sul da Europa duramente afectados pelas políticas de austeridade — como sustentam os seus detractores. Seja qual for a interpretação mais próxima da realidade, abriu uma segunda área de ressentimento. Foi no Centro e Leste europeu onde esta ganhou mais terreno. 
6. A Itália, originalmente muito europeísta, é hoje o Estado onde as sequelas da actuação de Angela Merkel em defesa da Zona Euro e do Espaço Schengen — ambos, como vimos, com falhas de concepção que geram, na prática, acentuados desequilíbrios entre os Estados-membros — maior desestabilização acabaram por criar no sistema político. É uma ironia da construção europeia. Certamente que não há apenas causas externas para o problema de Itália. Há grandes responsabilidades dos políticos que governaram o país nas últimas décadas e o amplificaram. A realidade é que em muitos italianos se instalou o sentimento de que o Euro lhe fez perder bem-estar, levando, ao mesmo tempo, a ganhos injustos da Alemanha à sua custa. E que a Itália ficou (quase) sozinha, com um grave problema migratório europeu — devido ao Espaço Schengen e à lógica desproporcional da legislação europeia sobre o asilo —, mais uma vez favorecendo a Alemanha e os Estados do Norte que estão longe do Mediterrâneo. Foi esse terreno político onde cresceram o Movimento Cinco Estrelas (M5S) e a Liga, actualmente no poder. É tentador ver o M5S e a Liga como causas do actual problema italiano. Tudo estaria bem se não fossem estes populistas e extremistas. Mas é uma visão superficial e errada. Na realidade, estes são mais sintomas e consequências de um mal-estar acumulado ao longo dos últimos anos, que tem causas internas e externas.
7. Angela Merkel não é certamente culpada de todos males da União Europeia, nem da Alemanha. (Ver “Deutschland unter alles They can’t blame this one on ‘Mutti.’” in Politico, 27/06/2018). Para os seus adeptos é uma heroína. É, tudo indica, uma europeísta convicta. Herdou, como já notado, uma construção europeia desequilibrada por decisões dos anos 1990. Mas as suas políticas de preservação, a qualquer custo, dessa construção europeia mal concebida, sobretudo na Zona Euro e no Espaço Schengen, geraram um sentimento de ressentimento. Acabaram por tornar grande parte do Sul e do Leste europeu anti-europeístas e anti-germânicos, de forma aberta ou latente. Instalou-se o sentimento de que a Alemanha retira os maiores ganhos da construção europeia. E de que a União Europeia é um instrumento de dominação germânica. Ao mesmo tempo, internamente, Angela Merkel afastou eleitorado tradicional e abriu, sem querer, o caminho aos extremos, sobretudo à direita. Mas o pior de preservar, a todo o custo, esta construção europeia deficiente, ignorando ou não resolvendo os seus problemas mais profundos, foi ter alimentado uma engrenagem desestabilizadora da própria União Europeia. A actual crise migratória “ao retardador” — explorada politicamente pela (extrema)direita populista e outros contestatários —, mostra como as consequências podem surgir anos mais tarde. No Conselho Europeu de 28 e 29 de Junho, Angela Merkel tem um teste crítico à sua longa carreira política. Resta saber se, com tantos ressentimentos e fracturas, é ainda possível reconfigurar políticas que, para além das intenções europeístas, desestabilizaram a União Europeia nos seus delicados equilíbrios entre o Norte e o Sul, o Ocidente e o Leste.

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