López Obrador promete 'transformação pacífica' no México
AFP / RONALDO SCHEMIDTO candidato Andrés Manuel López Obrador encerra a campanha presidencial na Cidade do México, em 27 de junho de 2018.
O candidato de esquerda à Presidência do México Andrés Manuel López Obrador prometeu uma "transformação pacífica e ordenada", no encerramento de sua campanha para a eleição deste domingo, na qual aparece como favorito.
"Estamos a ponto de realizar uma transformação sem derramamento de sangue", disse López Obrador nesta quarta-feira no emblemático Estádio Azteca, no comício de encerramento da campanha.
"O principal problema do México é a corrupção. Esta é a principal causa de desigualdade econômica, a corrupção desatou a insegurança", declarou o candidato sob aplausos.
Em um ambiente festivo, a palavra que mais se ouviu foi "mudança", e os mexicanos se preparam para votar com entusiasmo redobrado, após a classificação - nesta quarta-feira - para as oitavas de final da Copa da Rússia.
López Obrador já havia prometido erradicar a corrupção no país nesta quarta-feira, em um comício em Chiapas, no sul do país.
"Não vou trair a confiança que milhões de mexicanos depositaram em mim", disse, com ar vitorioso, para milhares de simpatizantes em Chiapas.
"Estamos cansados dos governos neoliberais, pretendemos que este governo volte atrás em todas as reformas estruturais que Peña Nieto conseguiu impulsionar", disse Josue Jordan, comerciante de 39 anos, que desde cedo fazia fila junto com outros milhares de seguidores de AMLO, como é conhecido, para entrar no estádio Azteca, da capital mexicana, onde o candidato encerrou a campanha com pompa.
López Obrador, de 64 anos, parece capitalizar bem este cansaço em sua terceira tentativa de chegar à Presidência mexicana com uma coalizão liderada por seu Movimento Regeneração Nacional (Morena).
Segundo as últimas pesquisas, ele tem uma vantagem confortável, superior a 30 pontos, sobre Ricardo Anaya, impulsionado por uma coalizão de direita e esquerda (formada por PAN, PRD e Movimento Cidadão), enquanto José Antonio Meade, do governista PRI, aparece em terceiro.
- "Lixeira da História" -
"O que aumentou foi a corrupção, a pobreza, a insegurança e a violência; por isso, esta política econômica que estão impondo vai entrar para a História, para a lixeira da História", disse López Obrador em Chiapas.
AFP/Arquivos / JOHAN ORDONEZPropaganda do candidato presidencial mexicano José Antonio Meade vista na Cidade do México em 26 de junho de 2018
O sexênio de Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou ininterruptamente de 1929 a 2000, esteve marcado por reformas de grande porte (não isentas de polêmica) e vários escândalos de corrupção e denúncias de violações dos direitos humanos.
Se os prognósticos se cumprirem, os desafios de López Obrador serão gigantescos: além de combater a corrupção, deverá cumprir sua promessa de "pôr no seu lugar" o presidente americano, Donald Trump, que ameaçou romper o Tratado de Livre Comércio com o México por considerar que o país latino-americano não é suficientemente duro com a imigração ilegal.
"O México tem sido um fracasso econômico nas últimas quatro décadas (...) O salário real está abaixo do que foi em 1980, a pobreza está pior do que há 25 anos. Então, se AMLO pode fazer avanços nestas frentes, já será uma melhora significativa", argumentou Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisa em Economia e Política (CEPR) em Washington.
- "Nos roubaram" -
Todos os candidatos mexicanos encerram suas campanhas nesta quarta-feira, no mesmo dia em que a seleção mexicana perdeu de goleada para a Suécia (3-0) em Ekaterimburgo, mas mesmo assim conseguiu se classificar, devido à vitória da Coreia do Sul para a Alemanha (2-0), que parte humilhada do Mundial da Rússia-2018.
AFP / Anella RETAO México de Enrique Peña Nieto
"Isso que dizem que vai governar mal e quem sabe quantas coisas mais não importa, os outros têm experiência, falam quem sabe quantos idiomas e de que nos serviram? Nos roubaram, são corruptos", lamentou-se Teresa Rivera, de 68 anos, empregada doméstica que desde as 5 da manhã aguardava na fila em frente ao estádio da capital mexicana.
Seus adversários e críticos advertem que um governo de AMLO seria "populista como o de Hugo Chávez" na Venezuela. Nas últimas semanas, López Obrador e seus assessores tentaram se descolar de propostas radicais em temas-chave para a economia.
Como prova de suas intenções, o esquerdista prometeu que receberá "a metade do salário" de Peña Nieto, e assegurou que não vai morar na residência Los Pinos, nem viajará no avião presidencial.
Seu estilo contrasta com o perfil tecnocrático de Meade e Anaya, destacam analistas.
Uma vitória de AMLO promete mudar por completo o tabuleiro político mexicano, que desde 1988 gira em torno de três formações: o PRI, o PAN, como principal opositor do centro direita e o Partido da Revolução Democrática (PRD), que conseguiu aglutinar apoios na centro esquerda.
O México encerra esta semana sua campanha eleitoral "mais violenta" dos últimos anos, segundo um informe da consultoria Etellekt, antes das eleições nas quais o país elege presidente, deputados federais e mais de 18.000 postos locais.
Desde setembro, quando começou a pré-campanha, houve 124 políticos assassinados, entre eles 29 pré-candidatos e 18 candidatos, segundo balanço da empresa e de veículos locais.
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