Esperança, amor e valores: histórias da imigração japonesa no Brasil Israel adota lei que o define como 'Estado-nação do povo judeu'

Esperança, amor e valores: histórias da imigração japonesa no Brasil

AFP / Miguel SCHINCARIOL O imigrante japonês Eiki Shimabukuro, 67, que tinha 8 anos quando partiu de barco do Japão para o Brasil com seus cinco irmãos
Eiki Shimabukuro tinha 8 anos quando partiu de barco do Japão para o Brasil com seus cinco irmãos.
As pessoas a bordo seguravam fitas cujo outro extremo era segurado por quem estava em terra. Eles mantinham essa ligação enquanto o navio se afastava e, por fim, a fita se rompia.
"Era o último vínculo, era muito emocionante", comenta Shimabukuro, agora com 67 anos, ao recordar a viagem que, em 1959, mudou sua vida.
Décadas antes, milhares de japoneses realizaram uma travessia similar, que durava quase dois meses, formando a maior comunidade nikkei (japoneses emigrados e descendentes) fora do arquipélago.
Em sua maioria eram camponeses expulsos de suas terras pela industrialização e as dívidas ou pela crise do pós-guerra.
No Brasil, progrediram e proliferaram e hoje são cerca de 1,9 milhão.
O fluxo começou exatamente em junho de 1908, quando o barco "Kasato Maru" atracou no porto de Santos, em São Paulo, com 781 migrantes que foram trabalhar nos cafezais.
Os 110 anos dessa primeira epopeia são comemorados esta semana com uma programação coroada com a visita ao Brasil da princesa Mako, neta do imperador Akihito, que percorrerá várias cidades onde os nikkei deixaram uma marca econômica e cultural que se misturou com a cultura local.
- Esperanças -
"Depois da guerra [em 1945], o Japão estava em uma situação difícil (...). Vim sozinho, com apenas 19 anos, cheio de esperança", conta Yoshiharu Kikuchi, oriundo de Iwate, no norte do arquipélago.
Kikuchi, que trabalhou na agricultura durante seus primeiros anos no Brasil, sorri até quando relata os momentos difíceis. "Aqui lutamos e conseguimos algo, aprendi muitas coisas", assegura.
A integração dos nikkei foi bem sucedida, mas o caminho foi áspero e havia muitos preconceitos, como as campanhas contra um suposto "perigo amarelo" durante os anos 30.
Kikuchi vive desde 1965 em São Paulo e participa como voluntário em vários projetos na área da saúde, desenvolvendo um trabalho inédito para pacientes com autismo. "A vida se abre quando ajudamos os outros", afirma.
Casado, com dois filhos e cinco netos, descarta voltar ao Japão. "Aqui há alegria, há minha família e as minhas grandes amizades, que têm valorizado minha vida".
- Amor -
A mãe de Rumi Kusumoto chegou ao Brasil com sua família na década de 1910. Ao terminar seus estudos, foi visitar sua avó no Japão com a intenção de voltar, mas começou a guerra e teve que ficar. Casou-se e teve quatro filhos na cidade de Fukuoka, sem deixar de sentir saudades do "país das diferenças", conta sua filha.
"Às vezes, mamãe fazia comidinhas diferentes", de influência brasileira, recorda.
Finalmente, ela voltou ao Brasil em 1962 com sua nova família. "Para mim, do barco até a chegada, não foi uma migração, e sim uma viagem de diversão", diz Rumi, sorrindo, sem querer falar de sua idade.
"Acho que nasci para morar fora do Japão. Não pensava em voltar ou que seria melhor estar lá e consegui levar como se fosse uma vida normal, não teve choque cultural", explica.
No entanto, voltou a sua terra por amor, nos anos 1970.
Graduada em Belas Artes, Kusumoto foi contratada como tradutora de um japonês em viagem de negócios. "No último dia, me convidou para jantar e me pediu em casamento. Ficamos nos correspondendo um tempo e depois fui para Tóquio e casamos".
Aí, sim, houve um choque cultural.
"Sentia falta da minha família e dos amigos. Chegava carta do Brasil e meu marido ficava segurando um lenço para eu chorar. Mamãe me enviava linguiças, carne seca, e eu fazia feijoada, grão de bico, dobradinha e convidava as amigas que tinham relação com o Brasil para matar a saudade", conta, rindo.
Apesar de sua vida agora estar entre o Japão, o Brasil e os Estados Unidos, onde vivem seus dois filhos, Kusumoto está baseada no Brasil.
"Eu me identifico com este lugar, foi o Brasil que abriu minhas portas".
- Valores -
"Quando cheguei no Brasil, tudo era curiosidade, nunca havia visto tantos estrangeiros", conta Eiki Shimabukuro, rindo ao recordar sua chegada em 1959.
Depois de anos trabalhando na agricultura, estudou engenharia e foi funcionário da Petrobras até se aposentar.
Em 1984 ganhou uma bolsa para estudar três meses no Japão.
"Apesar de ter nascido lá, foi um choque muito grande. Lá é tudo organizado e planejado, muito diferente daqui".
AFP / Miguel SCHINCARIOL A imigrante japonesa Rumi Kusumoto, cuja mãe chegou ao Brasil com a família na década de 1910
Anos depois, voltou ao Japão para trabalhar, um ano em Tóquio e dois em sua Okinawa natal. Mas acabou voltando para o Brasil.
Sua esposa, também japonesa, mas que emigrou com apenas um ano, "não via a hora de voltar", comenta Shimabukuro.
Agora não pensa em ir embora. "Seria muito difícil deixar familiares e amigos", explica, apesar de admitir que a estada em sua terra natal permitiu que ele incorporasse "coisas melhores" à sua vida.
"Há muito que precisamos aprender [no Brasil] sobre honestidade, ética e moral. Há coisas muito boas que poderiam ser introduzidas aqui", conclui.

Israel adota lei que o define como 'Estado-nação do povo judeu'

AFP/Arquivos / THOMAS COEX Parlamento israelense reunido
O Parlamento israelense adotou nesta quinta-feira (19) um projeto de lei que define Israel como um "Estado-nação do povo judeu", e que provocou acusações de racismo contra a minoria árabe.
Adotado por 62 votos contra 55, o texto estipula, entre outras coisas, que o hebreu se torna a única língua oficial de Israel, eliminando o árabe, e afirma que "os assentamentos judeus são de interesse nacional".
Proclama também que Jerusalém é a capital de Israel, excluindo a parte oriental da cidade anexada.
O texto define "o Estado de Israel como o Estado nacional do povo judeu, onde se aplica seu direito natural, cultural, religioso, histórico, assim como seu direito de autodeterminação".
O artigo mais controvertido - que mencionava a possibilidade de criar localidades exclusivamente reservadas para os judeus, o que excluía os cidadãos árabes israelenses - foi alvo de uma emenda.
Os árabes israelenses são descendentes dos palestinos que ficaram em suas terras depois da criação de Israel em 1948. Representam 17,5% da população do país, majoritariamente judia, e dizem ser vítimas de discriminação.
A emenda afirma que o "Estado considera o desenvolvimento das colônias judaicas de interesse nacional e que o Estado adotará as medidas necessárias para promover, avançar e servir a este interesse".
Desde a criação de Israel, em 1948, não se havia votado qualquer lei sobre línguas oficiais. O hebreu e o árabe eram consideradas línguas quase oficiais, utilizadas em todos os documentos do Estado.
Esta versão suscitou severas críticas, especialmente do presidente Reuven Rivlin, do procurador-geral, Avishai Mandelblit, e da delegação da União Europeia em Israel em razão de seu caráter discriminatório.
O novo texto entra na categoria de lei fundamental da Constituição de Israel.
O premier Benjamin Netanyahu comemorou o resultado: "é um momento decisivo na história do Estado de Israel, que inscreve no mármore nossa língua, nosso hino e nossa bandeira".
Mas o novo artigo, mais impreciso, recebeu fortes críticas da oposição. O deputado árabe Ayman Odeh falou na tribuna sobre "a morte de nossa democracia".
Outro deputado árabe, Yussef Jabareen, afirmou que esta lei incentiva "não apenas a discriminação como também o racismo e perpetua o estatuto de inferioridade dos árabes em Israel".
Já o deputado do Likud - o partido de Netanyahu -, Avi Dichter disse aos deputados árabes: "Vocês não estavam aqui antes de nós e não estarão aqui depois de nós. Aprovamos esta lei fundamental para impedir a mínima vontade, ou tentativa, de transformar o Estado de Israel em uma nação para todos seus cidadãos".

copiado    https://www.afp.com

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