O Twitter de Temer comprova: ele ainda é presidente!
Ricardo Miranda
Reprodução/Presidência.
Enquanto a economia vai de mal a pior e as eleições pegam fogo – o Centrão teve uma paixão magnética por Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro ensaiou um tango com Janaína Paschoal, Ciro Gomes se viu barrado no baile da direita e a esquerda segue dividida entre se unir agora ou esperar por Lula -, o país se pergunta: Michel Temer ainda é presidente? Ou teria tirado férias sabáticas até que o mandato tomado de Dilma Rousseff termine e ele possa voltar a ser um cidadão comum, sem preocupações a não ser o fato de não ter mais foro privilegiado? Como ver Temer em público tornou-se algo raro e não se tem notícia de nada que ele esteja fazendo de relevante para o país – ouve-se com mais frequência o paquidérmico Marun, que vem defendendo coisas prosaicas como SUS pago e anistia ao caixa 2 -, decidimos fazer a prova dos nove. Invadir o Twitter do Temer para ver o que sua assessoria anda teclando por ali. A boa notícia é que ele está vivo e segue empregado – ao contrário da maioria dos brasileiros.
Temer deu check in em Puerto Vallarta, no México, onde tenta se fazer notar, como se percebe pelas fotos, em um encontro entre chefes de Estado do Mercosul e da Aliança do Pacífico.
Mas mais importante do que as fotos posadas com um presidente aqui, outro ali, foi a alegria de ver Temer usando uma guayabera tipicamente caribenha, bolivariana, também conhecidas em países latinos como “chacabanas”, camisa branca, decorada com pregas verticais, duas fileiras de pregas no peito e três nas costas, encimado por pequenos botões. Não vou mentir, eu me emocionei. Teve até um “encontro reservado” – escondido? – com o recém-eleito Andres Manuel Lopez Obrador. Algo me diz que o esquerdista Obrador, que tem falado em retomar o petróleo para os mexicanos, e Temer, não vão falar de pré-sal, até porque não há representantes da ExxonMobil, Chevron e Shell na comitiva brasileira.
Rebobinando o Twitter. No fim de semana, dia 21 de julho, Temer postou uma foto participando da Convenção Internacional da Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno (não tente pronunciar a sigla ADHONEP), no Rio de Janeiro.
Pulando retroativamente alguns tweets, vê-se que Temer deu check in em Cabo Verde, onde foi ao encontro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A cena mais hilária é um vídeo absolutamente minimalista, de 16 segundos, em que desce as escadas do avião presidencial. Histórico dia 17 de julho. Qual era a ideia? Provar que ele foi? Inscrever a peça em um festival de curtíssimas metragens. “Cheguei agora em Cabo Verde”, comemorou, com a fleuma que lhe é característica. Em três posts, a assessoria de Temer repete que ele foi discutir “integração em áreas como educação, cultura, defesa, agricultura, segurança alimentar e saúde”. Nunca há multidões em volta de Temer. Suas peregrinações parecem um tour por gabinetes, aviões e gabinetes.
Vamos voltar mais alguns dias. Temer expressa pesar pelo falecimento do ex-deputado federal e senador Rubens Moreira Mendes Filho, “grande defensor das causas de Rondônia”. Ele foi citado em uma das delações da Odebrecht por supostamente ter recebido R$ 100 mil em 2010, durante a campanha eleitoral para a Câmara dos Deputados. Mais cenas de gabinetes. Temer dá posse a Caio Vieira de Mello no Ministério do Trabalho, o que, diz Temer, “mostra a prioridade do meu governo com a necessidade maior do brasileiro, que é o emprego”. Entre 2015 e 2017, o Brasil registrou a fechamento de 2,88 milhões de postos de trabalho. O Brasil possui 27 milhões de pessoas desempregadas ou desocupadas. Em junho, 13,3% dos brasileiros queimaram reservas financeiras para bancar as contas do dia a dia, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV. Não, esses números não estão no tweet de Temer.
“Foi um alívio saber que mergulhadores e bombeiros salvaram as 12 crianças e o treinador presos na caverna na Tailândia. Foram dias angustiantes, mas que terminaram com um final feliz para esses jovens. Recebam a solidariedade de todo o povo brasileiro”, twittou no dia 10 de julho. Nada sobre as crianças brasileiras, filhas de imigrantes, separadas dos pais pela política imigratória do governo Trump.
Durante a Copa, Temer postou algumas fotos torcendo. Torcendo é força de expressão. Ele aparece em pé, ao lado de Alexandre Padilha, e alguns aspones, todos de terno, no gabinete presidencial no Palácio do Planalto, em frente a uma big TV de LCD.
Se estivesse passando um episódio da série “O Mecanismo”, no Netflix, não faria diferença. No dia da eliminação do Brasil, no dia 6 de julho, Temer evitou fotos. “A Seleção jogou com raça. Honrou as cores do Brasil. Um abraço aos jogadores. Vamos em frente”, escreveu. Em frente pra onde, Temer?, poderia se perguntar. Parei. Conclusão. Temer é uma máquina de trabalhar. Nós é que somos todos uns insensíveis.
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