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Tribunal do Crime: chefes do PCC acompanham em tempo real assassinatos pelo país
Direto das Ruas7 de outubro de 2017: Policiais encontram corpo de vítima do PCC em Campo Grande
7 de outubro de 2017: Policiais encontram corpo de vítima do PCC em Campo Grande
"Picotar é o de praxe, meu mano, se caso der. Se não der, só arranca a cabeça ali, tá tranquilo."
A ordem acima foi emitida no dia 7 de outubro de 2017 durante uma conferência por celular na qual participaram chefes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Eles decidiam na ocasião o destino de um integrante da organização rival, Comando Vermelho, capturado em Campo Grande (MS).
Interceptada durante as investigações da Operação Echelon, a conferência mostra o funcionamento de um "tribunal do crime" no qual inimigos do PCC acabam torturados e sentenciados à morte por líderes da facção, que acompanham os assassinatos em tempo real.
Na denúncia do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) constam diversos flagrantes das "sessões de julgamento" do PCC realizadas por todo o país. Há casos relatados também no Ceará, Roraima, Amapá e Mato Grosso, por exemplo.
Do outro lado da linha, os chefes da facção comandam as ações, apesar de alguns deles estarem detidos em presídios com bloqueadores de celulares, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo.
Tortura precede assassinato
Os alvos preferenciais dos julgamentos descritos na denúncia da Operação Echelon são membros do Comando Vermelho.
Desde o segundo semestre de 2016, as duas maiores facções criminosas entraram em guerra pelo domínio das principais rotas de tráfico de drogas e armas e da massa carcerária do país.
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Os chefes do PCC ordenam que os adversários sejam torturados nos interrogatórios. Após matá-los, os "soldados" do PCC devem enviar-lhes fotos e vídeos dos corpos, de preferência com as cabeças arrancadas.
O "sentenciado" no caso descrito no começo desta reportagem chamava-se Rudnei da Silva Rocha, 22, conhecido como Babidi. Ele foi torturado durante duas horas para que passasse informações sobre seus comparsas.
"Ou você oculta e deixa eles vivos e você morre, ou você abre o coração, sai vivo, e nois vai arregaça todos eles (sic)", disse um membro do PCC.
Policiais encontraram o corpo de Babidi, na noite seguinte, em um matagal na região oeste da capital sul-mato-grossense. Enrolado em um colchão, o cadáver apresentava marcas de tortura e estava decapitado.
Tentativa de assassinato foi transmitida por celular
Em outro caso, os chefes do PCC acompanharam "ao vivo" a tentativa de assassinato de um desafeto da facção.
Enquanto atiradores entravam na casa de Rene Fernandes do Advento para matá-lo, outro membro falava ao celular com um dos líderes da facção e lhe informava sobre a "operação".
"Gatilha então, põe o radinho no bolso, mete marcha... acerta na cabeça, irmão, chega daquele jeito", disse um dos membros do PCC.
A tentativa de homicídio aconteceu na cidade de Naviraí (MS) no dia 15 de novembro de 2017.
De acordo com a transcrição feita pelos investigadores da Operação Echelon, "é possível ouvir disparos de arma de fogo e gritos de criança". O alvo sobreviveu, apesar de ter recebido três tiros. Quinze dias antes ele já havia escapado de um primeiro atentado. Na ocasião, foi atingido sete vezes.
Secretaria pede isolamento de líderes do PCC
Autor da denúncia, o promotor de Justiça Lincoln Gakyia afirmou ao UOL que a Polícia Civil paulista compartilhou com as autoridades de outros estados as provas de participação de membros do PCC nos casos de assassinatos flagrados pela investigação.
Por sua vez, a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) de São Paulo afirmou, em nota, que pediu à Justiça a internação de alguns denunciados da Operação Echelon no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), o mais rigoroso das prisões brasileiras. Ou seja, eles ficarão em isolamento por no mínimo um ano, caso a Justiça autorize.
"A investigação ainda em curso já descobriu dezenas de outros crimes cometidos por eles, o que pode gerar outras condenações posteriormente", diz a nota.
A punição para os envolvidos cabe agora ao trabalho da polícia e do MP nos estados em que as mortes aconteceram.
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