Disputa pela liderança de bancada provoca racha entre evangélicos na Câmara Bloco é um dos mais coesos na defesa de pautas conservadoras e do governo Jair Bolsonaro Para ler a reportagem da Folha na íntegra, clique aqui. /


Foto: Saulo Cruz/Agência Câmara

Disputa pela liderança de bancada provoca racha entre evangélicos na Câmara

Bloco é um dos mais coesos na defesa de pautas conservadoras e do governo Jair Bolsonaro

Jornal GGN – A bancada evangélica, fundamental na eleição de Jair Bolsonaro à presidência da República, está brigando internamente pela disputa do novo líder da frente. É o que revela matéria publicada nesta segunda-feira (11), na Folha de S.Paulo.
“Deputados dessa frente reconhecem que a disputa em 2019 vem passando longe da cordialidade e do consenso visto em anos anteriores”, escreve a jornalista Anna Virginia Balloussier pontuando, em seguida, que assessores no Congresso chamam a disputa nos bastidores de “barraco evangélico” a base de “tiro, porrada e bomba”. “​O que antes acontecia ‘na paz de Deus’ agora virou um ‘Deus nos acuda'”, ironiza Balloussier.
Mas, apesar do quadro nos bastidores, o grupo continua coeso em torno de pautas conservadoras, funcionando como um dos principais pontos de influência do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

O país vem assistindo, nos últimos anos, o aumento de grupos religiosos representados por parlamentares em Brasília, e a briga pela liderança da bancada evangélica envolve uma as maiores igrejas evangélicas no território: a Assembleia de Deus.A disputa
A atual bancada evangélica não existe ainda no papel, e passa pela fase de assinaturas e escolha de uma liderança. A cada novo o Congresso renova as bancadas. Para formá-las, os parlamentares precisam recolher, no mínimo, 171 assinaturas para regularizar o bloco.
Os candidatos que circulam na Câmara para a disputa na liderança da bancada evangélica são de Cezinha de Madureira (PSD-SP) e Paulo Freire (PR-SP). O segundo, é filho do pastor Wellington Bezerra da Costa, líder do Ministério Belém e já foi líder da bancada em 2013 e 2014. Cezinha, por sua vez, é afilhado político do bispo Samuel Ferreira do Ministério Madureira. O pai Samuel, Manuel Ferreira, é ex-deputado e presidiu a bancada evangélica de 2008 a 2009.
As duas denominações – Ministério Madureira e Ministério Belém -, são galhos da maior religião evangélica do país, a Assembleia de Deus.
Além de Cezinha e Paulo Freire, a disputa pela liderança da frente é divida com o pastor Eurico (Patriota-PE) e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), protegido do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
“Um deputado antes visto como natural para a liderança, João Campos (PRB-GO), que esteve à frente da bancada entre 2015 e 2016 e é da mesma Madureira do recém-chegado Cezinha, tem dito que, por ora, desistiu da corrida. Sua lógica: se é pra ter briga, melhor nem entrar. Mas ainda é tido como um nome forte, caso os colegas cheguem a um entendimento”, completa Virginia Balloussier.
Apesar da briga nos bastidores, os parlamentares da bancada evangélica estão adotando um discurso de cautela, como o presidente interino do bloco Lincoln Portela (PR-MG). Em entrevista à Folha, o parlamentar disse que todos do grupo estão trabalhando para chegar em um consenso.
“O que a gente quer é exatamente isso, que não haja eleição, que haja, como sempre houve, o consenso.”
Entretanto, nos bastidores há quem diga que Portela está entre os mais ofendido com o debate pela mudança de direção, porque ele mesmo teria intenção de se manter à frente do bloco. Portela tinha um acordo com o antecessor do cargo, o ex-deputado Hidekazu Takayama (PSC-PR) para ficar na liderança, mas foi traído.
O único parlamentar do grupo que tem feito campanha aberta para assumir o cargo é Sóstenes. Mas sua “candidatura” entre os colegas evangélicos vem sendo minada. O deputado é chamado nos bastidores como um garoto de recados e Malafaia, e isso preocupa outras denominações representadas na Casa.
“Talvez isso provoque incômodo em alguns, por [Malafaia] ser um pastor de reconhecimento internacional inclusive. Mas isso é natural em toda relação humana”, respondeu à Folha logo após dizer que “como em todo segmento, existem pessoas recalcadas”.
“Lógico”, continua Sóstenes, “que sou pastor auxiliar da igreja dele, falo com ele no mínimo uma vez por semana. Mas, apesar de Malafaia ser um dos grandes responsáveis por eu ter um mandato, ele não fica ligando para dar orientações”.
Outro candidato, o Pastor Eurico tenta transmitir a imagem de consenso da bancada, afirmando que o problema da nova legislatura é que entrou “muita gente nova” e que o grupo “sempre foi um colegiado de amizade”.
A Folha lembra de um levantamento feito por ela, em outubro passado, mostrando que a clamor por renovação no Congresso não poupou a bancada evangélica na última eleição. “Entre os 82 dos chamados “membros ativos” da última composição da frente, 42 não se reelegeram”, pontua a jornalista Virginia Balloussier.
Marcos Feliciano (Pode-SP) disse ao jornal que “com um governo conservador, é natural que muitos queiram presidir” o bloco evangélico na Casa e que a briga pelo comando da frente não deve afetar o principal objetivo do grupo: “defender princípios” da Bíblia”.
“[Quanto a esses princípios] não desviamos um milímetro”, disse o pastor. “Nossas prioridades são as mesmas”, completou Pastor Eurico. Entre as pautas defendidas pelos evangélicos na Casa estão o projeto Escola sem Partido (para combater a suposta doutrinação ideológica nas escolas), o Estatuto do Nascituro e o Estatuto da Família, sobretudo no ponto que reconhece a família apenas como a união “entre um homem e uma mulher”. Para ler a reportagem da Folha na íntegra, clique aqui.
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