Generais rejeitam trégua com guru do clã Bolsonaro
Depois de pedir aos Olavettes para saírem do governo, Olavo de Carvalho recua após demissão de neo desafeto no MEC . Seu problema é que sua turma continua sob a mira dos militares
No domingo à noite, o ideólogo Olavo de Carvalho avaliava ter bons motivos para comemorar. Dois dias depois de ter pedido, em uma sequência de posts entremeados de ataques aos generais do governo, que seus ex-alunos deixassem os cargos na administração Bolsonaro, ele assegurava a permanência da turma como se nada tivesse acontecido. “Com exceção de um só, que pediu dispensa por motivos pessoais, nenhum Olavette saiu do MEC. Os primorosos analistas do fim do olavismo federal erraram em mil por cento das suas ideias de jerico”.
O que motivou essa brusca mudança de ânimo foi o aparente sucesso de uma operação nos bastidores, com o aval do clã Bolsonaro, para acertar uma trégua. Na manhã deste domingo, Jair Bolsonaro chamou o ministro da Educação, Veléz Rodriguéz, ao Palácio da Alvorada e mandou demitir o coronel aviador Ricardo Roquetti, eminência parda no ministério, alvo durante todo o fim de semana de intenso bombardeio dos seguidores de Olavo nas redes sociais. Atribuíam a interesses escusos do coronel a caça aos Olavettes no MEC: “Quem saiu, exoneradíssimo, foi o gostosão que os estava perseguindo e boicotando. Aguardem detalhes”, postou o guru Olavo.
Apesar da patente, Ricardo Roquetti não chegou ao ministério com o aval dos generais do governo. Pelo contrário. Ele não fazia parte da equipe que cuidou dos projetos para a Educação que, desde o começo da campanha eleitoral, foi chefiada pelo general Ribeiro Souto e coordenada pelo tenente-coronel dos Bombeiros Paulo Roberto, hoje na Casa Civil. Roquetti só apareceu depois de a Comissão de Transição ter sido formalmente instalada e se apresentou como um ex-aluno de Olavo de Carvalho que chegava para colaborar por indicação da deputada eleita Bia Kicis (PSL-DF). Em um de seus inúmeros posts no domingo, Olavo se diz arrependido de ter apresentado Roquetti a Bia Kicis.
Depois de vários impasses, idas e vindas, Bolsonaro optou por Vélez Rodriguéz, apadrinhado de Olavo de Carvalho, para ministro da Educação. Vélez, então, entrou em contato com a equipe transição, passou a ser ciceroneado em Brasília pelo tenente-coronel Paulo Roberto e acatou a indicação do cientista político Antonio Flávio Testa para a Secretaria Executiva. Daí a surpresa quando Vélez trocou a carona no carro particular de Paulo Roberto por um veículo oficial da Aeronáutica e foi se hospedar em um hotel dentro da Base Aérea de Brasília. Foi aí que o coronel aviador Ricardo Roquetti se credenciou para se tornar o homem forte no MEC, com o aval dos Olavettes que foram contemplados com cargos-chave no ministério.
Quem não gostou foram os generais que chefiaram a elaboração do programa de governo e a transição. Eles não tinham um nome fechado para comandar o MEC. O consultor Stavros Xanthopoylos, que montou um grupo no Rio de Janeiro para colaborar no programa de Bolsonaro para a Educação, chegou a ser cogitado, mas os militares o consideraram muito próximo de interesses privados na área. O general Augusto Heleno, hoje ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, sempre foi favorável à escolha de um nome para a Educação com conhecimento técnico e comprovada capacidade de gestão. Chegou a convidar para uma exposição a equipe de transição a ex-presidente do Inep, Maria Inês Fini.
Mesmo não gostando da opção de Bolsonaro, os generais preferiram não comprar briga. Agora é diferente. Os militares não engoliram os xingamentos de Olavo de Carvalho que os chamou de “trapaceiros e covardes”. Para eles não importa se o guru Olavo vai baixar o facho, dar-se por satisfeito com a queda do neo desafeto Roquetti, e esperar uma possível reconciliação na festa que o estrategista conservador Steve Bannon vai oferecer semana que vem a Bolsonaro durante sua viagem oficial aos Estados Unidos. Trata-se de uma viagem preparada a seis mãos pelo chanceler Ernesto Araújo, pelo filho Eduardo Bolsonaro e o diplomata Nelson Foster, cotado para ser o novo embaixador do Brasil em Washington — os três são ligados a Olavo de Carvalho. Ainda é dúvida se o general Heleno participará da comitiva.
O que parece certo pela intensa troca de mensagens no fim de semana é que, independente do desejo do clã Bolsonaro, os militares vão ampliar a pressão para afastar os Olavettes do governo. Os alvos principais são o Itamaraty e o Ministério da Educação.
A conferir.
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