Base Aérea vira "setentona", com ares de modernidade

 

Roberto Lucena - repórter

A Base Aérea de Natal está completando, nesta sexta-feira, 70 anos de criação. Instalada em março de 1942, por decreto do então presidente da república Getúlio Vargas, ela foi uma das duas iniciativas mais visíveis do governo getulista para se engajar no esforço de guerra dos aliados contra os nazistas, em luta na Europa e Norte da África. Tanto que a edição de 3 de março de 1942 do jornal "A Republica" trazia, em destaque,  a notícia sobre a criação da "Base", como  passou a ser conhecida para os natalenses a partir daquela época.

DivulgaçãoNos anos 40, a Base foi uma das iniciativas de Getúlio Vargas para se engajar no esforço de guerra dos aliados contra os nazistas.Nos anos 40, a Base foi uma das iniciativas de Getúlio Vargas para se engajar no esforço de guerra dos aliados contra os nazistas.


Hoje, quem visita a Base tem a oportunidade de fazer uma viagem no tempo. A área com mais de nove milhões de metros quadrados - contando com o destacamento de Maxaranguape - abriga parte da história de Parnamirim. No local, há prédios construídos pelos norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial ainda em perfeito estado de conservação. Um deslumbre para os saudosistas. Por outro lado, a modernidade se faz presente nos hangares que abrigam aviões-caças e helicópteros da Força Aérea Brasileira (FAB).

Com um efetivo de dois mil militares e mais de 200 civis, a Base tem características que a fazem parecer com uma cidade. Apoiar as unidades aéreas em geral, da FAB e ser centro de formação de pilotos é, atualmente, a principal função da Bant.

No comando dessa cidade que conta com bancos, hospital, escola, igreja e até mesmo uma lagoa, está o Coronel Aviador João Campos Ferreira Filho. O militar assumiu o posto no dia 6 de janeiro passado. No currículo do comandante que está na FAB desde 1985, consta o comando de uma unidade aérea. Até dezembro de 2013, será o coronel o responsável pela administração da Bant.  O mandato é de dois anos. "São dois anos porque a finalidade é promover a rotatividade de pessoas e de idéias. Minha expectativa é conseguir fazer com que meus assessores tragam boas ideias para realizarmos uma boa administração dessa que é a maior base da Aeronáutica", disse.

Situada em uma área de grande especulação imobiliária, a Bant não tem expectativa de crescimento. "É difícil falar em projeto de expansão quando já somos a  maior do Brasil. As construções ao redor são mais de condomínios horizontais. Isso não nos preocupa. Nossa preocupação é com o gabarito de altura, por causa da pista, explicou o coronel. "A especulação imobiliária já tomou conta do entorno, mas não temos problemas com invasão, por exemplo", completou.

Dentro da Bant, há 180 residências destinadas aos oficiais da FAB. As ruas são largas, limpas e o espaço é bem arborizado. A brisa é constante e a lagoa completa o cenário. Aviões utilizados na Segunda Guerra Mundial jazem em alguns canteiros e dão um aspecto de grande museu à céu aberto ao local. Na vila dos oficiais, quase não se ouve o barulho das turbinas dos aviões que pousam e decolam do Aeroporto Internacional Augusto Severo.

Cenário um pouco diferente, pelo menos com mais barulho, encontra os aspirantes à oficial voador. Por ano, mais de cem jovens oriundos da Academia Militar chegam a Bant para participar dos cursos de piloto de caça ou helicóptero. "Aqui, existe o Grupo de Instrução Técnica Especializada (Gite) onde os aspirantes participam do primeiro curso de tática. Só depois desse curso eles estão aptos a realizarem outras atividades", explicou Coronel Campos.

Parnamirim Field: a maior base dos EUA

Os militares norte-americanos começaram a chegar a Natal antes mesmo da formalização do acordo Brasil-Estados Unidos (outubro de 1941) e da declaração de guerra do governo Vargas aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Segundo o historiador Lenine Pinto, no dia 26 de junho de 1941 passaram pelo campo de Parnamirim os primeiros aviões-bombardeiros da U.S Air Force, disfarçados de cargueiros comerciais, no vôo para a ilha de Ascenção. O destino final estava na África. Um mês depois da passagem dos bombardeiros, o governo brasileiro autorizou a Panair do Brasil - subsidiária da matriz de aviação civil norteamericana - a "construir, melhorar e aparelhar os aeroportos" entre o Amapá e Salvador, "com o fim de permitir a sua utilização por aeronaves de grande porte".

Começaram, então, a desembarcar em Natal as equipes técnicas da Airport Division (ADP). Eram, na verdade, militares americanos que chegavam para a construção de Parnamirim Field, o maior campo de aviação e base de operações militares que os Estados Unidos viria a ter, durante a II Guerra, fora do seu território.

O financiamento e a direção do projeto ficaram totalmente a cargo do governo norte-americano. Para as obras foram contratados seis mil operários, na época um exército de migrantes do interior do Estado que se movimentava dia e noite sob as ordens do capataz José Aguinaldo de Barros. Os trabalhos começaram em novembro de 1941, mas acelerados em março de 1942. A Base Leste dos norte-americanos custou 9,5 milhões de dólares.

Foram construídas duas novas pistas de pouso asfaltadas, com capacidade para operação de aviões-bombardeiros de porte médio, mais seis pistas secundárias de rolagem, doze áreas de estacionamento pavimentadas, dez hangares e todo o equipamento de auxílio à navegação área, comunicação, iluminação, depósitos de combustíveis e de água, um "pipe line" entre o bairro natalense de Santos Reis e as instalações militares.

Parnamirim Field tinha 600 edificações, a maioria barracões com paredes de alvenaria e teto de zinco, que permitiam alojar 1.800 oficiais e 2.700 praças. Para transportar até a base as cargas que chegavam em navios desembarcadas no Porto de Natal, os norte-americanos construíram uma nova estrada para Parnamirim, aberta e pavimentada em seis semanas.  Pedaços do velho asfalto ainda podem ser vistos, ao lado da duplicação da BR 101. (C.P.)

Começo foi marcado por dificuldades

Carlos Peixoto - diretor de Redação

O início da Base Aérea de Natal confunde-se com a história de Parnamirim Field, construída e operada pelos norte-americanos na parte leste do terreno (leia texto nesta página). A "Base" ocupava a parte oeste, onde funcionou os hangares da LATI (companhia de aviação italiana) e a Air France e ao contrário da base dos EUA, enfrentou dificuldades e teve que superar carências para conseguir se instalar, operar e atender as missões que lhe seriam confiadas.

Cinco meses depois da instalação da Base brasileira, o primeiro comandante, major aviador Carlos Alberto de Filgueira Souto, enviou um relatório de ocorrências para o comando da 2ª Zona Aérea, sediado em Recife, relatando as dificuldades: a construção dos prédios necessários ao pleno funcionamento da Base ainda não estava concluída; faltavam bombas para os aviões e a Companhia de Guarda dependia dos americanos para o fornecimento de armas e munição; havia carência de suprimentos, atribuída ao desabastecimento e alta dos preços no comércio local; precariedade nos meios de transportes e insuficiência de aeronaves, material sobressalente e pessoal para atender as missões de vôos.

As instalações precárias e a limitação na aparelhagem eram reflexo do descaso dos comandos militares brasileiros, que até o início da guerra não viam importância estratégica no Nordeste, e da falta de recursos do governo para custear uma máquina bélica à altura das novas necessidades. O trabalho dos militares e civis, engajados na construção, acabou sendo decisivo para superar essas dificuldades.

Em janeiro de 1944, ao ser entrevistado por jornais cariocas sobre os esforços de guerra brasileiros, o general João Batista Mascarenhas de Morais, comandante da Força Expedicionária que seria enviada à Itália, disse: "Muito se tem dito da importância daquele trampolim para as lutas da Europa e, de fato, sua relevância na remessa do material para o teatro da luta, nos continentes africano e europeu, ressalta-o como fator decisivo para a vitória aliada". Apesar do reconhecimento oficial, em meados de 1945, a insuficiência de pessoal, de aeronaves e material sobressalente ainda não tinha recebido uma solução definitiva. A carência só desapareceria com a entrega, pelos americanos, da Base Leste, em outubro do ano seguinte. Parnamirim Field deixava então de existir e, oficialmente, dali em diante haveria apenas a Base Aérea de Natal.

Futuro

Ao completar 70 anos de criação, a Bant vive uma incerteza quanto ao seu destino. A dúvida é com relação à construção do aeroporto de São Gonçalo. Segundo Campos, não está definido ainda se o Augusto Severo ficará sob responsabilidade da Base. "Ano passado, estava em Brasília e, até dezembro, não sabia de nada. Até agora, não chegou nenhum estudo da SAC [Secretaria de Aviação Civil]", disse Campos. "Se ele [aeroporto Augusto Severo] permanecer sendo operado para aviação regional, permanece tudo como está. Se a Infraero decidir passar para a gente, será um caminho diferente porque teremos que decidir o que fazer com aquele área", afirma. O coronel preferiu não detalhar o orçamento  da Bant, mas disse que o valor varia de acordo com o ano. "Mas não há prejuízo, conseguimos manter a estrutura de forma satisfatória". Hoje, apesar de ser um dia de festa na Base, não haverá programação festiva. Os eventos alusivos à criação da Bant estão concentrados no dia 7 de agosto, data em que a área militar entrou em funcionamento.
publicação  02  de Mar�o de 2012 às 00:00



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