publicado em 26/05/2012 às 05h30:
Segundo especialista, maioria dos SMSs enviados tem código de área 85, 88 e 21
Ana Cláudia Barros, do R7
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Uma mensagem de texto inesperada no celular. Nela, o anúncio de que o
proprietário do aparelho foi sorteado e ganhou um atraente prêmio, em
geral, um carro 0 km, uma quantia em dinheiro ou uma casa. O golpe da
falsa promoção há muito deixou de ser novidade, mas a frequência com que
ainda é aplicado indica que continua a ser uma armadilha eficaz usada
por criminosos. Na maioria dos casos, o objetivo é conseguir recarga
telefônica ou induzir o “premiado” a realizar depósitos bancários em
contas desconhecidas, requisito para receber o “prêmio”.
O princípio é o mesmo de todos os golpes: os estelionatários se valem de uma combinação de ingenuidade, curiosidade e o desejo da vítima em obter vantagem. Após receber duas mensagens no celular em pouco mais de uma semana, a reportagem do R7 decidiu ligar para um dos telefones e se passar por uma potencial vítima.
Do outro lado da linha, um homem com sotaque nordestino carregado atende e confirma que é do SBT. A falsa promoção usava indevidamente o nome da emissora e dizia que o prêmio era um Fiat Bravo e R$ 10 mil. A reportagem indaga se a ligação é gratuita e o golpista diz que sim.
— Corretamente. Não se preocupe se a senhora estiver falando de um aparelho residencial. A ligação é grátis.
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A primeira prova da fraude. Um dos artifícios usados pelos bandidos para enganar as vítimas é juntar o prefixo da operadora com o código de área e o número do telefone, fazendo que a pessoa não perceba que está ligando para um celular. Além de amargar o prejuízo provocado pelo golpe — caso caia, a vítima ainda tem uma surpresa desagradável ao receber a conta telefônica.
Segundo o especialista em combate a fraudes Lorenzo Parodi, autor do livro Manual das Fraudes, na maioria dos casos, o prefixo dos telefones usados pelos golpistas é 85 ou 88, código de área de cidades do Ceará. Porém, o 21, do Rio de Janeiro, também aparece com frequência. Ele destaca que golpes por celular normalmente são aplicados por presidiários, que, muitas vezes, contam com apoio externo.
— Tanto este quanto o do falso sequestro são atividades lucrativas. Eles [detentos] se dedicam a esse tipo de atividade com apoio de uma estrutura externa. Isso pressupõe uma organização por trás. Facilmente estão ligados ao crime organizado. Os cartões [telefônicos], eles aproveitam dentro da cadeia. Para mandar mensagens, para aplicar o golpe do falso sequestro. Mas o dinheiro que também captam tem que ser sacado por alguém de fora da prisão. Então, precisam de uma estrutura externa já montada, com contas em nomes de laranjas ou documentos frios.
Telemarketing
Durante a conversa com a reportagem, o golpista usou técnicas típicas de atendimento de telemarketing. Ele chegou a recomendar que a reportagem pegasse papel e caneta para anotar “o número do protocolo”. Em seguida, o homem - que se identificou como “Jean Carlos Dantas” - pediu o número do celular que recebeu a mensagem da promoção e a conversa segue:
A reportagem questiona:
— Mas são R$ 40 mil? Na mensagem estava R$ 10 mil.
E o golpista, desconcertado, contorna:
— Não, mas só que o valor de R$ 10 mil fica fora. Estou perguntando se a senhora prefere o carro ou R$ 40 mil?
Com a resposta afirmativa para o carro, o criminoso começa a passar as instruções para que o golpe seja efetivado.
— Primeiramente, antes de a senhora obter o carro, a senhora tem que obter o valor em dinheiro. Agora, a senhora tem que confirmar esse valor, R$ 10 mil, hoje ainda, em total segurança. É necessário que seja cliente de algum dos bancos que têm convênio com a promoção.
A reportagem indaga o que terá que fazer exatamente e o bandido responde:
— Assim que a senhora chegar lá, entre em contato quando estiver em frente ao caixa eletrônico. Peça para falar com o Jean Carlos Dantas. Eu vou estar transferindo sua ligação para o diretor responsável. Ele vai auxiliar a senhora no caixa, como vai estar fazendo a confirmação do valor de R$ 10 mil na conta [...] Agora, a senhora evita comentários para medida de segurança [sic]. A senhora não comenta para ninguém que a senhora é ganhadora da promoção porque o “alto” de criminalidade, a senhora sabe como é que está, né?
Ao ser questionado sobre como o carro seria entregue, o golpista se enrola e inventa uma história que envolve até a Polícia Federal.
— Assim que nós fizer [sic] o procedimento no valor de R$ 10 mil, vai ser enviado... com os dois advogados, Cintia Magalhães e Renato Montenegro, da escolta da Polícia Federal, para não haver nenhum tumulto na residência da senhora na hora da entrega do carro. Certo?
Golpe contínuo
Segundo Parodi, o golpe do falso sorteio por celular existe há quase uma década e tem se mantido constante por não se tratar de um "golpe de surto".
— É contínuo. Este golpe, na realidade, nunca parou. É um dos golpes que têm constância. Não aumentou, não diminui.
Para Parodi, a melhor maneira de evitar ser vítima desse tipo de crime é a informação. Ele orienta que seja feita uma verificação independente na empresa citada na suposta promoção.
— A verdadeira prevenção é a informação. Na hora em que você leu ou viu na TV ou conversou com alguém, você pode receber 50 mensagens e não vai cair nunca. Eu, por exemplo, recebi no meu celular pelo menos meia dúzia dessas mensagens. A última foi em fevereiro, quando ganhei um carro. Mas já ganhei casa também [brinca].
SBT desmente
Em seu site, o SBT faz um alerta sobre esse tipo de fraude: “Se você recebeu uma mensagem SMS dizendo que participou de uma promoção do SBT e que é um ganhador, cuidado! O SBT não entra em contato com os ganhadores através de mensagem de texto e jamais pede que seja feito qualquer depósito em dinheiro ou exige a compra de algum produto em troca. Jamais forneça seus dados pessoais ou desembolse qualquer quantia em dinheiro. Fique atento, pois é fraude”.
Assista ao vídeo:
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