"Que mais nunca mais se repitam os crimes de pedofilia""Que mais nunca mais se repitam os crimes de pedofilia"
Fotografia © EPA/TONY GENTILE
As palavras são do Papa Francisco. E foram dirigidas aos bispos norte-americanos.
O
papa Francisco pediu na quarta-feira aos bispos norte-americanos,
reunidos na catedral de St. Matthew em Washington, que os "crimes" de
pedofilia que abalaram a igreja dos Estados Unidos da América "nunca
mais se repitam".
"Sei como está marcada em vocês a ferida dos últimos anos e acompanhei-vos no vosso generoso envolvimento para ajudar as vítimas (...) e contínuo trabalho para que estes crimes nunca mais se repitam", disse. Francisco disse estar "consciente da coragem com que [os bispos] enfrentaram os momentos obscuros durante o percurso eclesiástico sem recear a autocrítica". A associação SNAP, de defesa das vítimas de abusos cometidos por padres, criticou a "cobardia" dos responsáveis da Igreja católica norte-americana por terem fechado os olhos a estes crimes. A SNAP condenou também o papa pela utilização da palavra "coragem" ao dirigir-se aos bispos. |
O Papa e Obama unidos contra a pobreza e as alterações climáticas
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O Papa e Obama unidos contra a pobreza e as alterações climáticas
por Helena TecedeiroFotografia © ReutersNa Casa Branca, o argentino Francisco falou de imigração, mas evitou assuntos como o aborto ou o casamento gay. Num encontro com bispos, aludiu aos abusos sexuais na Igreja.Chegou num Fiat 500 preto, foi saudado por Barack Obama e percorreu a passadeira vermelha estendida numa Casa Branca enfeitada com bandeiras dos Estados Unidos e do Vaticano. Foi com todas as honras que o Papa Francisco foi recebido pelo presidente americano na sua primeira visita de sempre à América. E foi no relvado sul, diante de uma assistência de 15 mil pessoas, que o chefe da Igreja Católica elogiou os esforços de Obama no que se refere ao ambiente e sublinhou: "As alterações climáticas são um problema que não pode ser deixado para as gerações futuras resolverem."
Num discurso em inglês - apesar das claras dificuldades com a língua -, o argentino Francisco garantiu que se agirmos já "ainda vamos a tempo de curar o planeta para as nossas crianças". Evitando tocar em assuntos que o separam de Obama, como os excessos do capitalismo, o aborto ou o casamento gay, o Papa preferiu centrar-se nos que unem o líder da maior potência mundial e o líder dos 1200 milhões de católicos: como o ambiente ou a luta contra as desigualdades. Aos católicos americanos "e aos restantes cidadãos deste país", Francisco agradeceu os esforços para "construir uma sociedade verdadeiramente tolerante e inclusiva".
Obama, que enfrenta a oposição dos republicanos e do setor da energia para impor o seu plano para reduzir as emissões de gases com efeito estufa, agradeceu o papel do Papa neste âmbito. Com a cimeira de Paris sobre o ambiente marcada para final do ano, Francisco apresentou uma encíclica a exigir mais ações para travar o aquecimento global. "Santo Padre, lembrou-nos que temos a obrigação sagrada de proteger o nosso planeta", afirmou o presidente americano.
Numa cerimónia na qual não faltou a banda dos Marines, Francisco abordou ainda um assunto muito sensível neste momento nos EUA: a imigração. "Como filho de imigrantes, estou feliz por ser um convidado neste país, construído em grande parte por famílias de imigrantes".
Do relvado, Obama e Francisco seguiram para a Sala Oval. Num encontro de 45 minutos, os dois terão abordado vários temas, entre os quais o papel do Papa na normalização das relações entre EUA e Cuba, de onde este viajou na terça-feira para Washington. Houve tempo ainda para a tradicional troca de presentes. Obama ofereceu ao Papa a estátua de uma pomba, símbolo da paz, e uma chave, com 206 anos, da casa de Elizabeth Ann Seton, a primeira santa nativa americana. Francisco deu ao presidente americano uma placa de bronze comemorativa do Encontro Mundial das Famílias, que vai decorrer em Filadélfia. Os dois homens já se tinham reunido pela primeira vez no Vaticano em 2014, na altura Obama levou de presente uma caixa com sementes do jardim da Casa Branca e recebeu dois medalhões e uma cópia de A Alegria do Evangelho.
Depois de saudar a multidão a partir do papamóvel - que obrigou a parar para beijar uma menina que passara as barreiras de segurança -, o Papa seguiu para um encontro com os bispos dos EUA na Catedral de São Mateus, onde aludiu aos abusos sexuais de padres católicos. "Tenho noção da coragem com a qual enfrentaram os momentos difíceis... neste país, sem medo da autocrítica e à custa da mortificação e de grande sacrifício".
Desde que surgiram as primeiras denúncias de casos de pedofilia e abuso sexual na Igreja Católica nos EUA, em meados dos anos 1980, que esta tem estado na mira das críticas, apesar das indemnizações milionárias que já pagou. Acusada de encobrir os autores dos abusos, a Igreja procedeu ao afastamento dos suspeitos e o papa Bento XVI pediu desculpa às vítimas. Francisco, por seu lado, criou a Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores.
Depois da reunião com os bispos, o Papa canonizou o padre espanhol Junípero Serra, conhecido por ter criado nove missões na Califórnia no século XVIII.
Popularidade
À frente da Igreja Católica desde 2013, Francisco tem conseguido impor uma nova energia na instituição. Apelidado de "Papa do Povo", o argentino parece ter conquistado a simpatia dos americanos. Um estudo New York Times/CBS mostra que 41% dos inquiridos têm uma opinião positiva sobre o Papa, contra apenas 8% de opiniões negativas.Para os que ainda não decidiram o que pensam de Francisco, este torna-se hoje no primeiro Papa a discursar diante das duas câmaras do Congresso dos EUA. Depois de Washington, o Papa segue para Nova Iorque, onde vai discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, homenagear as vítimas do 11 de Setembro e reunir-se com famílias de imigrantes. No sábado, Francisco estará em Filadélfia no Encontro Mundial das Famílias.
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