afastada há 18 dias
“Podem falar o que quiserem: o Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer”, disse a presidente afastada em entrevista para o jornal "Folha de S. Paulo"
A presidente afastada Dilma Rousseff disse em entrevista à colunista do jornal "Folha de S. Paulo", Mônica Bergamo, que governo interino de Michel Temer terá que se "se ajoelhar" para Eduardo Cunha.Durante a entrevista, Dilma afirmou ter tomado conhecimento sobre os diálogos entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e o senador Romero Jucá. “Eu li os três (diálogos). Eles mostram que a causa real para o meu impeachment era a tentativa de obstrução da operação Lava Jato por parte de quem achava que, sem mudar o governo, a “sangria” continuaria”, disse a presidente.
Quando questionada pela colunista sobre o que poderia ter contado para a aprovação do impeachment, Dilma explica "o que aconteceu comigo? Houve a combinação da crise econômica com uma ação política deletéria”.
Com relação a operação Lava Jato, a presidente acusa o presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha de interferir contra ela. “Cada vez que a Lava Jato chegava perto do senhor Eduardo Cunha, ele tomava uma atitude contra o governo (...) “Podem falar o que quiserem: o Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer”, afirma.
A presidente afastada nega ainda ter recebido Marcelo Odebrecht no Palácio da Alvorada. Dilma cita um encontro entre os dois no México, durante a negociação do "maior investimento privado do país" e completa que as conversas entre eles eram "absolutamente padrão".
Afastada há 18 dias, Dilma Rousseff reúne uma série de provas para serem apresentadas até a próxima quarta-feira (1°) em sua defesa para a Comissão Especial do Impeachment no Senado.
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Entrevista
Ao jornal ‘Folha de S.Paulo’, a presidente afastada disse que foi traída pelo interino; petista acredita que ainda voltará ao cargo e ironiza medidas do vice
PUBLICADO EM 29/05/16 - 03h00
São Paulo. Na primeira entrevista concedida 18 dias depois de o Senado
aprovar a admissibilidade do processo de impeachment, a presidente
afastada Dilma Rousseff fez duros ataques ao ex-presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, a quem, segundo ela, “Temer terá de se ajoelhar”. A
entrevista foi concedida na última quinta-feira ao jornal “Folha de S.
Paulo”, e teve os principais trechos publicados ontem à noite.
“O Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura (para líder do governo na Câmara). Cunha não só manda, ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha” disse ela, completando: “Vão ter de se ajoelhar”.
Dilma disse ter sido traída por Michel Temer. Perguntada se seu vice tinha lhe traído, respondeu: “Óbvio. E não foi no dia do impeachment, foi antes, em março. Quando as coisas ficaram claríssimas”, disse ela, que emendou: “Você sempre acha que as pessoas têm caráter”.
Sobre as conversas vazadas entre o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e líderes do PMDB, como ex-ministro Romero Jucá, a presidente disse que os áudios revelam que o partido de Michel Temer pretendia, ao assumir o governo, barrar as investigações da Lava Jato.
Dilma diz ainda acreditar que poderá voltar à Presidência. “Nós podemos reverter isso. Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade, disseram que não estavam declarando (posição) pelo mérito (das acusações). Então eu acredito”.
Dilma voltou classificar de golpe o processo que levou ao seu afastamento. “Sinto muito, sabe, sinto muuuuuito se uma das características do golpe é detestar ser chamado de golpe”.
Sobre as medidas na economia tomadas pelo novo governo, Dilma foi irônica: “O pato tá calado, sumido. Nós vamos pagar o pato do pato, é?”. Sobre a emoção quando deixou o Planalto, disse: “Eu não choro, não. Nas dores intensas, eu não choro. Cada um é cada um, né?”.
A senhora precisa ter 27 votos contrários ao impeachment no Senado.
É melhor falar que precisamos de 30.
E só teve 22 na votação da admissibilidade. Acredita mesmo que pode voltar?
Nós podemos reverter isso. Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade (do processo de impeachment), disseram que não estavam declarando (posição) pelo mérito (das acusações). Então eu acredito. Sobretudo porque as razões do impeachment estão ficando cada vez mais claras. E elas não têm nada a ver com seis decretos ou com Plano Safra (medidas consideradas crimes de responsabilidade). Fernando Henrique Cardoso assinou 30 decretos similares aos meus. O Lula, quatro. Quando o TCU disse que não se podia fazer mais (decretos), não fizemos mais. O Plano Safra não tem uma ação minha. Pela lei, quem executa (o plano) são órgãos técnicos da Fazenda. Ou seja, não conseguem dizer qual é o crime que cometi. Considerando a profusão de detalhes que têm surgido a respeito das causas reais para o meu impeachment, acredito que é possível (barrar o impedimento).
A senhora se refere às conversas telefônicas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros e com o ex-presidente José Sarney?
Eu li os três (diálogos). Eles mostram que a causa real para o meu impeachment era a tentativa de obstrução da Lava Jato por parte de quem achava que, sem mudar o governo, a “sangria” continuaria. A “sangria” é uma citação literal do senador Romero Jucá. Outro dos grampeados diz que eu deixava as coisas (investigações) correrem. As conversas provam o que falamos: jamais interferimos na Lava Jato. E aqueles que quiseram o impeachment tinham esse objetivo. Não sou eu que digo. Eles próprios dizem.
E a crise na economia, a falta de apoio do governo no Congresso, não contaram?
O (economista e prêmio Nobel Joseph) Stiglitz fez um diagnóstico perfeito (sobre o Brasil): a crise econômica é inevitável. O que não é inevitável é a combinação danosa de crise econômica com crise política. O que aconteceu comigo? Houve a combinação da crise econômica com uma ação política deletéria. Todas as tentativas que fizemos de enviar reformas para o Congresso foram obstaculizadas, tanto pela oposição quanto por uma parte do centro político, este liderado pelo senhor Eduardo Cunha. Pior: propuseram as “pautas-bomba”, com gastos de R$ 160 bilhões. O que estava por trás disso? A criação de um ambiente de impasse, propício ao impeachment. Cada vez que a Lava Jato chegava perto do senhor Eduardo Cunha, ele tomava uma atitude contra o governo. A tese dele era a de que tínhamos que obstruir a Justiça.
A senhora então sustenta que o impeachment foi apenas uma tentativa de se barrar a operação Lava Jato.
Foi para isso e também para colocarem em andamento uma política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto. Com cortes drásticos de programas sociais.
Não foi um equívoco político confrontar um adversário com tanto poder e influência no Parlamento como Cunha?
Desde 1988, o PMDB foi o centro do espectro político. E participou tanto dos governos do PSDB quanto dos governos do PT, sendo fator de estabilidade. Mas, a partir do meu primeiro mandato, esta parte (PMDB) que era para ser centro passa a ter um corte de direita conservadora, com uma pessoa extremamente aguerrida na sua direção. Você passa a ter, de um lado, 25% (dos parlamentares) ligados à ala progressista, outros 20% à ala que já foi social-democrata. E, no meio, 55% sob o controle do senhor Eduardo Cunha. A situação do Brasil, se isso não for desmontado, é gravíssima.
Mas era melhor cair a fazer um acordo político com ele?
Fazer acordo com Eduardo Cunha é se submeter à pauta dele. Não se trata de uma negociação tradicional de composição. E sim de negociação em que ele dá as cartas. Jamais deixaria que ele indicasse o meu ministro da Justiça (referindo-se ao fato de o titular da pasta de Temer, Alexandre de Moraes, ter sido advogado de Cunha). Jamais deixaria que ele indicasse todos os cargos jurídicos e assessores da subchefia da Casa Civil, por onde passam todos os decretos e leis.
A senhora se refere a nomeações do governo interino?
Podem falar o que quiserem: o Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura (deputado ligado a Cunha e líder do governo Temer na Câmara). Cunha não só manda: ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha.
Não haverá, na sua opinião, governo Temer possível?
Vão ter de se ajoelhar.
Voltando à Lava Jato, houve pressão sobre a senhora para interferir na operação?
Era muito difícil fazer pressão sobre mim, querida.
Há relatos de pressão de Lula e do PT para que a senhora demitisse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Tanto não é verdade que José Eduardo saiu no final. E para o lugar dele foi um procurador (Eugênio Aragão).
Delcídio do Amaral afirmou em delação que a senhora indicou o ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça para ajudar a soltar empreiteiros presos.
É absurda a questão do Navarro. Eu não tenho nenhum ato de corrupção na minha vida.
Há rumores de que o empreiteiro Marcelo Odebrecht acusará a senhora, em delação premiada, de ter pedido dinheiro a ele na campanha em 2014, o que teria resultado em caixa dois.
Eu jamais tive conversa com o Marcelo Odebrecht sobre isso. Eu não recebi nunca o Marcelo no (Palácio da) Alvorada. No Planalto, eu não me lembro.
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“O Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura (para líder do governo na Câmara). Cunha não só manda, ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha” disse ela, completando: “Vão ter de se ajoelhar”.
Dilma disse ter sido traída por Michel Temer. Perguntada se seu vice tinha lhe traído, respondeu: “Óbvio. E não foi no dia do impeachment, foi antes, em março. Quando as coisas ficaram claríssimas”, disse ela, que emendou: “Você sempre acha que as pessoas têm caráter”.
Sobre as conversas vazadas entre o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e líderes do PMDB, como ex-ministro Romero Jucá, a presidente disse que os áudios revelam que o partido de Michel Temer pretendia, ao assumir o governo, barrar as investigações da Lava Jato.
Dilma diz ainda acreditar que poderá voltar à Presidência. “Nós podemos reverter isso. Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade, disseram que não estavam declarando (posição) pelo mérito (das acusações). Então eu acredito”.
Dilma voltou classificar de golpe o processo que levou ao seu afastamento. “Sinto muito, sabe, sinto muuuuuito se uma das características do golpe é detestar ser chamado de golpe”.
Sobre as medidas na economia tomadas pelo novo governo, Dilma foi irônica: “O pato tá calado, sumido. Nós vamos pagar o pato do pato, é?”. Sobre a emoção quando deixou o Planalto, disse: “Eu não choro, não. Nas dores intensas, eu não choro. Cada um é cada um, né?”.
A senhora precisa ter 27 votos contrários ao impeachment no Senado.
É melhor falar que precisamos de 30.
E só teve 22 na votação da admissibilidade. Acredita mesmo que pode voltar?
Nós podemos reverter isso. Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade (do processo de impeachment), disseram que não estavam declarando (posição) pelo mérito (das acusações). Então eu acredito. Sobretudo porque as razões do impeachment estão ficando cada vez mais claras. E elas não têm nada a ver com seis decretos ou com Plano Safra (medidas consideradas crimes de responsabilidade). Fernando Henrique Cardoso assinou 30 decretos similares aos meus. O Lula, quatro. Quando o TCU disse que não se podia fazer mais (decretos), não fizemos mais. O Plano Safra não tem uma ação minha. Pela lei, quem executa (o plano) são órgãos técnicos da Fazenda. Ou seja, não conseguem dizer qual é o crime que cometi. Considerando a profusão de detalhes que têm surgido a respeito das causas reais para o meu impeachment, acredito que é possível (barrar o impedimento).
A senhora se refere às conversas telefônicas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros e com o ex-presidente José Sarney?
Eu li os três (diálogos). Eles mostram que a causa real para o meu impeachment era a tentativa de obstrução da Lava Jato por parte de quem achava que, sem mudar o governo, a “sangria” continuaria. A “sangria” é uma citação literal do senador Romero Jucá. Outro dos grampeados diz que eu deixava as coisas (investigações) correrem. As conversas provam o que falamos: jamais interferimos na Lava Jato. E aqueles que quiseram o impeachment tinham esse objetivo. Não sou eu que digo. Eles próprios dizem.
E a crise na economia, a falta de apoio do governo no Congresso, não contaram?
O (economista e prêmio Nobel Joseph) Stiglitz fez um diagnóstico perfeito (sobre o Brasil): a crise econômica é inevitável. O que não é inevitável é a combinação danosa de crise econômica com crise política. O que aconteceu comigo? Houve a combinação da crise econômica com uma ação política deletéria. Todas as tentativas que fizemos de enviar reformas para o Congresso foram obstaculizadas, tanto pela oposição quanto por uma parte do centro político, este liderado pelo senhor Eduardo Cunha. Pior: propuseram as “pautas-bomba”, com gastos de R$ 160 bilhões. O que estava por trás disso? A criação de um ambiente de impasse, propício ao impeachment. Cada vez que a Lava Jato chegava perto do senhor Eduardo Cunha, ele tomava uma atitude contra o governo. A tese dele era a de que tínhamos que obstruir a Justiça.
A senhora então sustenta que o impeachment foi apenas uma tentativa de se barrar a operação Lava Jato.
Foi para isso e também para colocarem em andamento uma política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto. Com cortes drásticos de programas sociais.
Não foi um equívoco político confrontar um adversário com tanto poder e influência no Parlamento como Cunha?
Desde 1988, o PMDB foi o centro do espectro político. E participou tanto dos governos do PSDB quanto dos governos do PT, sendo fator de estabilidade. Mas, a partir do meu primeiro mandato, esta parte (PMDB) que era para ser centro passa a ter um corte de direita conservadora, com uma pessoa extremamente aguerrida na sua direção. Você passa a ter, de um lado, 25% (dos parlamentares) ligados à ala progressista, outros 20% à ala que já foi social-democrata. E, no meio, 55% sob o controle do senhor Eduardo Cunha. A situação do Brasil, se isso não for desmontado, é gravíssima.
Mas era melhor cair a fazer um acordo político com ele?
Fazer acordo com Eduardo Cunha é se submeter à pauta dele. Não se trata de uma negociação tradicional de composição. E sim de negociação em que ele dá as cartas. Jamais deixaria que ele indicasse o meu ministro da Justiça (referindo-se ao fato de o titular da pasta de Temer, Alexandre de Moraes, ter sido advogado de Cunha). Jamais deixaria que ele indicasse todos os cargos jurídicos e assessores da subchefia da Casa Civil, por onde passam todos os decretos e leis.
A senhora se refere a nomeações do governo interino?
Podem falar o que quiserem: o Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura (deputado ligado a Cunha e líder do governo Temer na Câmara). Cunha não só manda: ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha.
Não haverá, na sua opinião, governo Temer possível?
Vão ter de se ajoelhar.
Voltando à Lava Jato, houve pressão sobre a senhora para interferir na operação?
Era muito difícil fazer pressão sobre mim, querida.
Há relatos de pressão de Lula e do PT para que a senhora demitisse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Tanto não é verdade que José Eduardo saiu no final. E para o lugar dele foi um procurador (Eugênio Aragão).
Delcídio do Amaral afirmou em delação que a senhora indicou o ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça para ajudar a soltar empreiteiros presos.
É absurda a questão do Navarro. Eu não tenho nenhum ato de corrupção na minha vida.
Há rumores de que o empreiteiro Marcelo Odebrecht acusará a senhora, em delação premiada, de ter pedido dinheiro a ele na campanha em 2014, o que teria resultado em caixa dois.
Eu jamais tive conversa com o Marcelo Odebrecht sobre isso. Eu não recebi nunca o Marcelo no (Palácio da) Alvorada. No Planalto, eu não me lembro.
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