manifestam preocupação com 'atrasos' envolvendo referendo na Venezuela Parlamento desafia chavismo e incorpora três deputados do Amazonas

29/07/2016 - 13:20 EUA manifestam preocupação com 'atrasos' envolvendo referendo na Venezuela
AFP / FEDERICO PARRA O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em Caracas, no dia 28 de julho de 2016
Os Estados Unidos expressaram nesta quinta-feira preocupação com os "inesperados atrasos" no processo do referendo revogatório do mandato do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e pediram ao governo daquele país que "respeite seus próprios mecanismos constitucionais".
Washington "permanece preocupado com os desnecessários atrasos no processo de referendo revogatório na Venezuela", declarou o porta-voz do departamento de Estado John Kirby.
A oposição aguarda a decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) - acusado de servir ao governo chavista - confirmando as 200 mil assinaturas necessárias para se ativar o referendo e passar à segunda fase: o recolhimento de quatro milhões de firmas.
"Pedimos ao governo da Venezuela que respeite seus próprios mecanismos constitucionais e permita que o processo avance sem atrasos, de acordo com a vontade do povo venezuelano", declarou Kirby.
"A Constituição venezuelana garante aos venezuelanos o direito de se manifestar através de um processo de referendo revogatório".
A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, reagiu declarando que "a República Bolivariana da Venezuela rejeita categoricamente as atrevidas declarações do porta-voz John Kirby".
Rodríguez destacou que "a Venezuela espera que, algum dia, o povo americano possa desfrutar de uma democracia genuína ao estilo do protagonismo popular bolivariano".
O CNE anunciou que na próxima segunda-feira analisará a validade das firmas, sem esclarecer se decidirá no mesmo dia sobre a ativação da consulta.
A oposição luta para que o referendo ocorra antes de 10 de janeiro de 2017, pois em caso de derrota de Maduro, ocorrerão novas eleições. A partir desta data assume o vice-presidente, designado pelo presidente.
  Parlamento desafia chavismo e incorpora três deputados do Amazonas

AFP / JUAN BARRETO O presidente da Assembleia, Henry Ramos Allup, incorpora deputados do Amazonas, em Caracas, no dia 28 de julho de 2016
O Parlamento venezuelano, de maioria opositora, incorporou três deputados que a justiça ordenou separar de seus cargos, em um claro desafio ao oficialismo, colocando mais lenha na fogueira do conflito pelo referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.
Com a Constituição nas mãos e plumas na cabeça, os deputados indígenas do Amazonas foram juramentados nesta quinta-feira (28) pelo presidente da Assembleia, Henry Ramos Allup, entre aplausos de seus colegas opositores e o repúdio dos chavistas.
"Podem incorporar-se na plenitude de direitos (...) Não vamos acatar nenhuma sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que viole esta Constituição", afirmou Ramos Allup na tribuna do plenário.
Previamente, o chefe do bloco oficialista, Héctor Rodríguez, advertiu que "este ato é absolutamente ilegal, inconstitucional, e os ex-candidatos do Amazonas que assumam sua responsabilidade".
Seu companheiro de bancada, Pedro Carreño, expressou que os três legisladores usurparam funções, e os tribunais "terão que atuar prontamente".
Conflito em nível máximo
A investidura dos três legisladores - cuja eleição foi contestada pelo chavismo por suposta compra de votos - aumenta ainda mais a tensão pelo referendo revogatório que a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) impulsiona contra Maduro.
"O confronto de poderes chega em sua máxima expressão", declarou à AFP o constitucionalista Juan Manuel Raffalli, advertindo sobre um desconhecimento mútuo entre o Parlamento e o TSJ, acusado pela oposição de ser o braço jurídico do governo.
Raffalli previu que a corte invalidará a decisão de juramentar os três congressistas e declarará a Assembleia em desacato - como fez em janeiro quando juramentou estes três dirigentes - e "seus atos serão considerados nulos".
O TSJ tem em suas mãos uma demanda apresentada pelo presidente contra a coleta de 200.000 assinaturas exigidas para ativar o revogatório, alegando fraude. Outros 8.600 recursos jurídicos ameaçam a iniciativa opositora.
AFP / JUAN BARRETO O deputado opositor do Amazonas, Romel Guzama, no Parlamento venezuelano, em Caracas, no dia 28 de julho de 2016
Entretanto, o especialista em assuntos eleitorais Eugenio Martínez rejeita que este novo conflito afete diretamente o processo de referendo, ainda que "agite muito mais o ambiente político".
A MUD urge que a consulta revogatória seja feita antes de 10 de janeiro de 2017, pois se Maduro perder o referendo haverá novas eleições presidenciais. Mas se ocorrer depois dessa data, e for revogado, os dois anos de mandato que faltam serão terminados por seu vice-presidente.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) discutirá na próxima segunda-feira (1) se a MUD reuniu as 200.000 assinaturas para dar segundo passo: o recolhimento das quatro milhões de rubricas para convocar os cidadãos às urnas.
A MUD assegura que o CNE - que é acusado de ser aliado do chavismo - faz de tudo para atrasar o processo. Na última terça-feira (26), o governo pediu que esse organismo invalidasse a aliança opositora por causa da questão das assinaturas.
"Sem sentença, não há delito"
Com a incorporação desses três deputados, a MUD recupera a maioria qualificada de dois terços (112 de 167 assentos) que ganhou nas históricas eleições de 6 de dezembro de 2015, colocando fim a 17 anos de hegemonia chavista.
Desde que assumiu o novo Parlamento em 5 de janeiro, a Venezuela está vivendo uma forte crise institucional, onde o TSJ praticamente anulou todas as decisões da Assembleia - 17, segundo a MUD - ao acolher recursos apresentados pelo governo.
"Na realidade não há a maior diferença. O governo ainda desconhece a Assembleia com os três (legisladores) do Amazonas", acrescentou Martínez.
AFP / JUAN BARRETO O deputado opositor do Amazonas, Julio Ygarza, no Parlamento venezuelano, em Caracas, no dia 28 de julho de 2016
Quando a MUD assumiu o Parlamento, o TSJ suspendeu temporariamente a eleição dos três congressistas. Não obstante, foram juramentados pela diretiva da Assembleia, após o TSJ ter declarado nulos os atos do novo Parlamento enquanto continuaram incorporados.
Encurralada, a oposição cedeu à exigência do oficialismo de separá-los do cargo, enquanto a justiça resolvia o caso.
"Até que não haja sentença, não há delito", destacou nesta quinta-feira Ramos Allup, ao assinalar que a querela leva seis meses e meio sem ser resolvida pelo tribunal.
Durante o debate, o deputado opositor Simón Calzadilla assegurou que "todos os lapsos neste caso estão expirados, então não há nenhuma negação da justiça".

copiado  www.afp.com/pt/

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