- "Preconceito aumenta" Como é ser muçulmano em época
de atentados? Eles contamComo é ser muçulmano em época de atentados? Seguidores da religião contam
Do UOL, em São Paulo
.O especialista em filosofia árabe e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Jamil Ibrahim Iskandar, explica as origens dessa associação: “Nos anos 70, grande parte dos países de população muçulmana era governada por regimes extremamente autoritários. Muitas pessoas ficaram à margem da agenda política desses governos, o que levou à contestação do regime em nome da ‘religião’. São os chamados ‘grupos islâmicos’, que utilizam o islamismo como álibi para praticar atos terroristas”.
A seguir, três muçulmanos contam sobre como é ser fiel ao Islã no cenário político atual:
Patricia Wiest, 39, militar
“Minha reversão [termo usado para designar a adoção do islamismo
] ao Islã aconteceu em junho de 2015, aos 39 anos, por entender que essa não era apenas uma religião. Para mim, é um modo de vida, com orientações espirituais e materiais. Mas é muito comum as pessoas se confundirem e formarem uma imagem totalmente distorcida da nossa crença. Por isso, quando acontecem eventos como os atentados em Paris, naturalmente, o preconceito aumenta. Muitos irmãos [colegas muçulmanos] foram xingados na rua. Só que não vejo isso como algo exclusivo dos muçulmanos. É só pensar que quando a polícia militar comete excessos em passeatas ou contra grevistas, todos os policiais são taxados de violentos. Aqui no Rio Grande do Sul, alguns taxistas agrediram um motorista do Uber e, então, todos os taxistas passaram a ser malvistos. Ainda assim, o que procuro fazer, diante dessa realidade, é continuar estudando a religião para poder passar conhecimento às pessoas. Se vejo algo na rede social distorcido ou se sou parada nas ruas, explico que a nossa 'ummah' [nação] está muito longe do terrorismo, que nós buscamos a paz e a integração do ser humano. Oramos pelo menos cinco vezes ao dia e cada oração é mais uma forma de nos conectarmos a Deus e de pedirmos perdão por nossas falhas. Hoje, o maior preconceito que sofro é não poder vestir o 'hijab' [véu] durante meu expediente de trabalho. Sou militar e, apesar de ter feito requerimento solicitando autorização, continuo sendo barrada.”Fernando Salim Pereira Ahmed Carim, 47, escritor e divulgador do Islã
Muhammad Usman, 35, coordenador de ensino
“Só não fui maltratado no Brasil nestes períodos pós-atentados porque conheço bem a minha religião e consigo me expressar e argumentar bem. Muitos colegas, especialmente mulheres, são vítimas de preconceito. Elas são chamadas de mulheres-bomba, irmãs de Bin Laden, submissas e há até os que nos consideram imigrantes e acham que queremos explodir o Brasil. Após o atentado de Paris, em 2015
, duas irmãs [colegas muçulmanas] estavam andando na rua, em Curitiba, quando foram paradas por dois rapazes que as seguraram e começaram a xingá-las. O fato é que muitas pessoas sequer sabem o que é o Islamismo. Nasci muçulmano, mas também sou estudante de teologia. Escolhi a religião porque ela é de paz, ensina não apenas orações, mas o modo correto de viver nossa vida, ajudando os outros e focando na humanidade. Sempre explico que no Alcorão [livro sagrado do Islã] não tem violência nenhuma contra outro ser humano. Nosso Deus fala que se você mata um ser humano inocente é como se tivesse matado a humanidade inteira. E se você salva a vida de um ser humano é como se salvasse o mundo inteiro.” copiado copiado http://estilo.uol.com.br/comportamento
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