- Manifestações
de indignação Pichação política ganha força e estampa ruas, muros e paredes de SP Os últimos anos da história do Brasil estão quase todos contados nos muros de São Paulo: "Fora, Temer", "Fora, Dilma", "Fora, Cunha", "Fora, corruptos", "Fora todo mundo", "Golpistas", "Escola de Luta", "Aborto Livre", "Fora PM".
Pichações como essas, com mensagens mais políticas, voltaram às paredes da cidade com mais força nos últimos tempos –reflexo do aumento das manifestações e do conturbado jogo político.
Na avenida Paulista, próximo ao prédio da Fiesp, o "Fora, Dilma" predominou. Ali, um grupo que pedia a saída da então presidente Dilma Rousseff (PT) acampou por meses.
Já no centro antigo, o presidente Michel Temer (PMDB) ganha de lavada: após o processo de impeachment de Dilma, o "Fora, Temer" e a palavra "golpista" estão em centenas de paredes da região.
Essas marcas políticas são bastante diferentes das inscrições tradicionais da cidade, conhecidas como "tag reta" –letras retas e longas, que lembram a caligrafia gótica. O escrito geralmente tem o nome do pichador ou de seu grupo, acompanhado do número do ano em que foi feito.
"Essa pichação política não é feita por pichadores especializados", diz Pedro Filardo, mestre em urbanismo pela USP e pesquisador da área.
"Elas são feitas para serem lidas facilmente. Os outros pichos muitas vezes só são decifráveis por pessoas que fazem parte de um grupo de pichadores", diz o sociólogo Sérgio Miguel Franco, que fez a curadoria de uma mostra sobre a pichação paulistana na Bienal de Berlim, em 2012.
Outra diferença das "pichações políticas" são os locais onde são pintadas. Os pichadores "profissionais" normalmente escrevem em lugares mais altos, como no topo de prédios, para dificultar que as letras sejam apagadas.
"Já a pichação política fica em lugares mais baixos. Por isso, elas são mais efêmeras, duram pouco", explica Filardo. "São feitas no calor da manifestação, por um grupo que quer deixar pública sua indignação", diz Franco.
Em junho de 2013, o Pixo Manifesto Escrito (grupo de pichadores anônimos) participou das manifestações contra o aumento da tarifa.
"As mensagens de agora remontam mais à atuação de uma esquerda e de um movimento estudantil mais tradicionais, como na década de 1970, em que se pintavam os muros com 'abaixo à ditadura'", diz Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência, da USP.
Quem praticar pichação pode ser enquadrado por dano ao patrimônio e por crime ambiental –considerado leve.
MAIS ANTIGAS
Algumas inscrições sobreviveram ao tempo.
Em um muro na Vila Leopoldina (zona oeste), há duas da década de 1990: "Fora Maluf" e "CMTC é nossa". Foram pintadas em protesto contra a privatização da Companhia Municipal de Transportes Coletivos, promovida pelo então prefeito Paulo Maluf em 1993.
Na banca de jornal de Américo Oliveira, 64, na Vila Esperança (zona leste), há um protesto contra o reajuste da tarifa em 2008. A mensagem diz: "R$ 2,80 é osso" –hoje a passagem está em R$ 3,80.
O jornaleiro explica por que não apagou a pichação. "Apagar para quê? Alguém vem e picha de novo", diz e ri.
BANDEIRANTES
A autoria das pichações ao Monumento às Bandeiras e à estátua do Borba Gato, obras de arte na zona sul de São Paulo, permanece desconhecida.
Os locais foram pichados de rosa, amarelo e azul na madrugada da última sexta-feira (30). O prejuízo, segundo a prefeitura (encarregada da limpeza), chegou a R$ 37 mil.
Sobre esse caso, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou nesta segunda-feira (3) que pichadores "serão presos" em sua gestão.
O advogado Leandro Sarsedo, conselheiro da OAB-SP, cita que a lei trata a pichação como delito leve.
"É um crime de menor potencial ofensivo, que chega no máximo a um ano de pena. O autor, no entanto, não fica preso, mas sim cumpre penas alternativas", afirma. - copiado http://www1.folha.uol.com.br/
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