Em Portugal
PCP contra espartilho da UE no congresso pós-geringonça
Comunistas vão insistir num discurso contra constrangimentos da Europa, com reparos à posição socialista. Mas PS vai fazer-se representar com a sua número 2 no encerramento
PCP contra espartilho da UE no congresso pós-geringonça
Comunistas
vão insistir num discurso contra constrangimentos da Europa, com
reparos à posição socialista. Mas PS vai fazer-se representar com a sua
número 2 no encerramento
Dias
depois do PCP se ter colocado pela segunda vez ao lado do Governo
socialista na aprovação do Orçamento do Estado, os comunistas são
chamados à reunião magna do partido, que arranca hoje em Almada. O XX
Congresso do PCP é o primeiro de uma nova fase política, em que os
partidos da esquerda parlamentar assinaram posições conjuntas para
viabilizar a governação socialista.
O
PS sublinha-o com uma presença institucional forte no encerramento do
conclave comunista, que terá lugar no domingo, para ouvir a intervenção
final do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, fazendo-se
representar pela secretária-geral adjunta, a número 2 socialista, Ana
Catarina Mendes, pelo secretário nacional Porfírio Silva e pela deputada
eleita por Setúbal Francisca Parreira.
A
este peso institucional não é alheio o entendimento que tem existido
entre os dois partidos. A ministra da Presidência e da Modernização
Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, reafirmou aos partidos "à
esquerda", no fecho do debate final sobre o Orçamento do Estado para
2017, que os socialistas manterão "os compromissos estabelecidos".
Com
cautelas, é certo: Maria Manuel notou que há "disponibilidade para
discutir em conjunto", como têm feito, "novos problemas e soluções, sem
dogmas e preconceitos", mas "no quadro das nossas possibilidades como
país".
O secretário-geral do PCP, que
abre hoje os trabalhos com uma primeira intervenção, já deixou avisos de
que o caminho se vai estreitando, apontando os escolhos que continuam a
chegar da Europa. É esta Europa, a União Europeia do euro, da dívida e
dos tratados, que tem separado comunistas e socialistas.
É
neste quadro que se entende a leitura das "Teses" do PCP - o documento
máximo que será discutido e aprovado neste congresso - sobre o PS.
Estas
"Teses" sublinham o facto das eleições legislativas do ano passado
terem imposto uma "condenação" à coligação do PSD/CDS-PP. "Não foi
apenas uma derrota do seu governo mas da sua política." E foi a "essa
expressão de exigência de mudança que o PCP respondeu, tomando a
iniciativa de contribuir para a interrupção da ação destruidora" do
governo de Passos Coelho e Paulo Portas.
Numa
análise aos vários partidos, o PS é visto como o partido que, depois
das eleições de 4 de outubro de 2015, "ainda que com hesitações, acabou
por contribuir para se abrir uma nova fase na vida política nacional".
Mas não é isto que "transforma o PS num partido portador de uma política
de esquerda", nem "altera a natureza da sua política e opções
programáticas, características da política de direita, expressas nas
conhecidas orientações estratégicas de subordinação ao processo de
integração capitalista da União Europeia e aos interesses do capital
monopolista".
O PS esteve "comprometido
com a política de direita nas últimas quatro décadas" e que "hoje como
no passado a análise e a caracterização do posicionamento do PS não
decorre das suas afirmações mas sim da prática concreta face à
necessária rutura com a política de direita".
Em
2012, nas Teses do XIX Congresso do PCP, o retrato era ainda mais
demolidor, quando o PS era colado à política do governo de direita do
PSD e CDS, que promovia "uma política que conta com o inteiro apoio do
PS - independentemente de dissonâncias episódicas ou secundárias com que
procura disfarçar a sua identidade - bem visível na aprovação do
Tratado Orçamental, das normas laborais mais gravosas, do fundamental do
plano de privatizações ou na viabilização do orçamento para 2012".
A
queda do "governo PS/Sócrates" era então apresentada como "a
autodemissão" que "conduziu o País a eleições antecipadas, em 5 de junho
de 2011, de que resultou a vitória do PSD, cuja aliança com o CDS-PP
permitiu a formação de uma nova maioria e de um governo em condições de
continuar, com a inteira cooperação e apoio do Presidente da República, a
ofensiva do grande capital, de aprofundar a política de direita e
implementar o pacto de agressão", nome pelo qual o PCP classifica o
memorando de entendimento com a troika.
É nesta linha que se entendem as palavras de Jerónimo de Sousa, ontem publicadas em entrevista ao jornal Público.
Para o secretário-geral do PCP foi "muito importante" a derrota da
coligação do PSD e do CDS, mas Jerónimo tem "a profunda convicção de que
uma política diferente que vá no sentido de responder aos anseios dos
trabalhadores e do povo nunca será construída sem o PCP". E completou
melhor a sua ideia: "Naturalmente não é só com o PCP, mas sem o PCP será
difícil."
O secretário de Estado dos
Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, explicou na terça-feira, em
entrevista à Rádio Renascença, que "enquanto esta solução de governo for
capaz de melhorar a vida dos portugueses", tem "a certeza absoluta" que
a esquerda vai "continuar a trabalhar em conjunto". "E é minha
convicção que esta solução de governo vai mesmo durar até 2019 e vão ser
quatro anos muito importantes e muito positivos para o povo português",
assegurou Pedro Nuno Santos.
Os
trabalhos do XX Congresso preenchem todo o dia de hoje, com a eleição da
mesa e o primeiro discurso de Jerónimo a abrir, no Complexo Municipal
dos Desportos de Almada. No domingo, o líder comunista encerra o
Congresso. E pelo BE terá a ouvi-lo os deputados Jorge Costa e Sandra
Cunha.
copiado http://www.dn.pt/portugal/interior
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