Lula se adapta à lei eleitoral para poder se candidatar à Presidência
AFP/Arquivos / Nelson ALMEIDAO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista com a AFP em São Paulo, em 1º de março de 2018
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril em Curitiba, deixou de comentar o Mundial da Rússia-2018 para um canal de TV para acatar a lei eleitoral, reafirmando sua intenção de disputar as eleições de outubro, apesar dos entraves legais que se interpõem à sua candidatura.
"Para cumprir a legislação eleitoral, que proíbe a participação de pré-candidatos em programas de rádio e TV a partir de 30 de junho, o comentário do Lula deixa de ser divulgado no programa do José Trajano na TVT", informou nesta terça-feira (3) o Partido dos Trabalhadores (PT) em um comunicado.
No entanto, Lula continuará publicando suas impressões na internet. Em sua última mensagem por escrito, divulgada na segunda-feira, ele comemorou a vitória do Brasil sobre o México por 2-0, e avaliou que se a Seleção "continuar jogando com espírito de coletividade e futebol solidário, cada jogador fazendo melhor o que sabe, temos muita chance de chegar à final".
Pouco depois, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, leu para a imprensa uma carta na qual o ex-presidente (2003-2010) proclamava sua inocência. Lula cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
"Não cometi nenhum crime, repito: não cometi nenhum crime. Por isso, pelo menos até que apresentem uma prova material que macule minha inocência, sou candidato à Presidência da República" nas eleições que terão seu primeiro turno em 7 de outubro, afirmou.
Líder em todas as pesquisas com um terço das intenções de voto, Lula, de 72 anos, foi condenado como beneficiário de um tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, oferecido pela empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras. Ele enfrenta, ainda, outros seis processos, mas nega qualquer culpa e denuncia uma conspiração para impedir seu retorno ao poder.
"Se não querem que eu seja presidente, a forma mais simples de o conseguir é ter a coragem de praticar a democracia e me derrotar nas urnas", afirmou Lula.
"Chegou a hora de todos os democratas comprometidos com a defesa do Estado democrático de direito repudiarem as manobras de que estou sendo vítima, de modo que prevaleça a Constituição e não os artifícios daqueles que as desrespeitam por meio das notícias da televisão", disse o ex-presidente em sua carta.
Segundo a lei eleitoral, Lula não poderia ser candidato por ter sido condenado em segunda instância. Mas isto será definido pela corte que examinar as candidaturas, que poderão ser apresentadas entre 20 de julho e 15 de agosto.
Neste cenário, Lula parece decidido a estender os prazos o máximo possível.
"Desafio os meus acusadores a apresentar esta prova até o dia 15 de agosto deste ano, quando minha candidatura será registrada na Justiça eleitoral", anunciou.
Mal-estar econômico se instala na Argentina e consumo despenca
AFP / Alejandro PAGNIA empresária Monica Pesce lamenta a queda de movimento em seu salão, na capital argentina
Encurralados por uma inflação que se imaginava que seria contida, mas avança em ritmo acelerado, os argentinos expressam seu mal-estar crescente e reduzem seus gastos - em um ciclo vicioso que eles temem que seja a reprise de um pesadelo.
"Há dias em que não entra nenhuma cliente", diz a cabeleireira Mónica Pesce em Belgrano, bairro abastado de Buenos Aires.
"Vim para cá pela densidade populacional. Tenho na minha frente um prédio de 37 andares. Mas agora, apesar de tudo, tenho um salão vazio", lamenta a mulher, viúva, cuja filha é estudante universitária.
Pesce aluga o imóvel onde fica o salão e sua casa - e as duas locações têm correções semestrais. "A inflação traz a angústia e o medo", resume.
Os salários perdem a corrida contra uma inflação turbinada pelos aumentos nas tarifas de serviços públicos e por uma constante desvalorização da moeda diante do dólar, que impacta os preços.
Os pequenos comerciantes são os primeiros a sentir o golpe das contas a pagar, as cargas trabalhistas e um panorama econômico que desperta desconfiança.
Luis Miranda tem uma pequena padaria em Villa Urquiza, no extremo norte de Buenos Aires, onde emprega oito pessoas. Em março, deu aumentos de 15% nos salários, em linha com a meta de inflação anual daquele momento.
Mas, no fim de abril, teve início uma corrida cambial que levou a uma depreciação de quase 35% da moeda somente neste ano e levou o governo a pedir um empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Depois disso, o Banco Central projetou a inflação de 2018 em 27%, e o governo abandonou sua meta anterior.
"Achava que a economia ia seguir avançando como tinha sido nos dois anos de (governo do presidente Mauricio) Macri, mas em março começou a ir mal, com preços altos, e não para", lamenta Miranda.
"Neste momento, a economia é muito instável. O preço da farinha aumentou 300%, ou 400%", queixa-se.
Diferentemente de Pesce, Miranda garante que não perdeu clientes. "Mas o consumo caiu. Ninguém compra um quilo de pão. Os clientes gastam o mesmo, mas levam menos", relatou.
Para compensar a queda de receita, a padaria oferece agora pratos feitos - vendidos principalmente para pedreiros e mecânicos que trabalham nas redondezas.
De acordo com a Confederação Argentina da Média Empresa, as vendas a varejo caíram 2,5% nos primeiros cinco meses de 2018.
- Promessas descumpridas -
"Foi quebrada, em um período curto, uma promessa de que ia haver uma recuperação econômica", diz o sociólogo Ricardo Rouvier para explicar a irritação dos argentinos.
"As pesquisas mostram uma queda na imagem do governo. A maioria da população não vê no horizonte uma certeza de que sua situação vá melhorar", acrescenta Rouvier.
A Argentina sofreu com níveis elevados de inflação durante décadas. Atualmente, o país é uma exceção na região: é a única economia da região com um índice de preços ao consumidor de dois dígitos.
O desemprego chega a 9%, e a taxa de juros foi elevada a 40% em uma tentativa de frear a evasão de divisas.
Em junho, o FMI concedeu um crédito de 50 bilhões de dólares em três anos, encarado com receio pelos argentinos, que lembram com amargura de acordos anteriores com o organismo multilateral.
A firma Ecolatina destaca que, para superar a situação, será "central que o novo influxo de dólares que o acordo com o FMI vai gerar se oriente para estimular a produção, e não para asfixiá-la".
Produção agropecuária da América Latina crescerá 17% na próxima década, dizem FAO e OCDE
AFP / Nicolas TUCATSementes de milho orgânicas cultivadas perto de Bourdeilles, sudeste da França, em 18 de maio de 2018
A produção agropecuária e pesqueira da América Latina e do Caribe aumentará 17% na próxima década, com os cultivos de soja liderando a expansão, de acordo com um relatório conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicado nesta terça-feira (3).
Mais da metade deste crescimento (53%) corresponderá a um aumento na produção de cultivos, 39% à pecuária e os 8% restantes à expansão da piscicultura, de acordo com o relatório "Perspectivas Agrícolas 2018-2027" realizado em conjunto pela FAO e pela OCDE e divulgado em Santiago.
Está previsto que a produção total de cultivos na região cresça 1,8% por ano até 2027. Cerca de 60% deste crescimento se deverá a melhorias no rendimento, que aumentará cerca de 11% na próxima década, liderado pelos cultivos de cereais e leguminosas.
O relatório ainda projeta que o uso agrícola da terra na região se expandirá em cerca de 11 milhões de hectares.
O cultivo de soja representará aproximadamente 62% da expansão da área cultivada na região. Neste sentido, se prevê que o Paraguai expanda significativamente sua área de cultivo de soja, enquanto o Brasil fará o chamado cultivo múltiplo, ou seja, soja e milho em um mesmo terreno.
Espera-se mesmo assim que cerca de 46% da produção de soja seja exportada - principalmente para a China - e que cerca de 54% da produção total seja processada na região.
A produção de carne crescerá 19% na próxima década, com exportações que aumentarão em quase 3 milhões de toneladas no mesmo período, o que representa um crescimento de 31% em relação aos anos de 2015 e 2017, uma expansão quatro vezes maior que nos últimos dez anos.
Três quartos deste crescimento virá do Brasil.
O setor de laticínios regional também crescerá em importância durante a próxima década, quando se espera que o consumo total aumente 18%.
Quanto ao setor de pesca, é prevista uma importante expansão da piscicultura no Brasil e no Chile, com crescimento total da produção de 43%, o que manterá a América Latina como segundo maior produtor mundial de aquicultura depois da Ásia.
copiado https://www.afp.com/
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