Observadores acreditam que ataque contra papa é complô ultraconservador. Papa se nega a comentar acusações de arcebispo


Observadores acreditam que ataque contra papa é complô ultraconservador

AFP / Ben STANSALLPapa Francisco
O ataque frontal de um ex-embaixador no Vaticano acusando o papa de ter encoberto um cardeal americano homossexual suspeito de abusos sexuais, pode se tratar de um novo complô dos ultraconservadores, de acordo com alguns observadores.
"Não há dúvida: este é um ataque coordenado visando o papa Francisco", indicou o site do National Catholic Reporter, um semanário americano progressista.
"Um golpe está em andamento e se os bispos americanos não defenderem o Santo Padre nas próximas vinte e quatro horas, poderemos nos dirigir para um cisma nos Estados Unidos", adverte o colunista Michael Sean Winters. "Os inimigos de Francisco declararam guerra", analisa.
Nicolas Senèze, vaticanista do jornal francês La Croix, observa "um desejo óbvio de atacar Francisco". "Passamos a um estágio mais elevado: as pessoas que pensam que Francisco é perigoso para a Igreja não têm limites", comentou à AFP.
Na Itália, o site especializado Il Sismografo, que analisa as informações sobre a Igreja na imprensa mundial, saiu para o ataque. "A operação foi montada" pelo ex-embaixador do Vaticano em Washington Carlo Maria Vigano, "um personagem obscuro, ridículo, ambicioso e intrigante", afirmou.
O bispo Vigano é "um ex-funcionário amargo" do Vaticano, que quer se vingar por não ter tido a carreira com a qual sonhou, julgou ainda o National Catholic Reporter.
Em todo caso, o ataque violento é oportuno, em plena visita do papa à Irlanda, um país duramente ferido pelos abusos do clero e de instituições religiosas.
O arcebispo conservador Carlo Maria Vigano o acusou em uma carta aberta publicada no sábado de ter conscientemente ignorado durante seu pontificado as denúncias sobre as ações do cardeal americano Theodore McCarrick, apresentado como um predador sexual. No texto de 11 páginas, chega a exigir a renúncia de Francisco.
O cardeal McCarrick foi finalmente demitido do cargo pelo papa argentino em julho, após uma investigação sobre décadas de acusações de abusos contra um garoto de 16 anos.
Os Estados Unidos são um dos países mais afetados pelos escândalos de abusos sexuais do clero.
Em 2015, o papa já havia aceitado a renúncia de dois bispos americanos acusados ​​de fechar os olhos: o arcebispo de Minneapolis–Saint Paul (Minnesota), o arcebispo John Clayton Nienstedt e seu vice, o bispo Lee Anthony Piche.
- Conhecido -
Vigano não é desconhecido. Ele foi secretário-geral do governo - espécie de prefeito encarregado do Estado do Vaticano -, uma posição na qual havia descoberto e denunciado a corrupção em vigor na administração do Vaticano.
No entanto, seus alertas o levaram, para a sua grande decepção, ao cargo de núncio apostólico (embaixador) em Washington. O prelado de 77 anos ficou nos Estados Unidos entre 2011 e 2016 antes de se aposentar.
Em janeiro de 2012, dois jornais italianos provocaram escândalo quando publicaram trechos de suas cartas revelando a rivalidade interna e a corrupção dentro do Vaticano (escândalo "Vatileaks").
AFP / VINCENZO PINTOCarlo Maria Vigano no centro
Em sua carta, Vigano aponta que o papa Bento XVI puniu tardiamente o cardeal Theodore McCarrick, entre 2009-2010, proibindo qualquer aparição pública e pedindo-lhe para deixar o seminário onde morava. No entanto, nenhum documento público menciona esta sanção.
Ele acusa o papa Francisco de ter anulado esta sanção, apesar de seus próprios alertas emitidos em junho de 2013, logo após o início de seu pontificado.
O cardeal americano foi discretamente sancionado por um papa e depois reabilitado pelo seu sucessor? A resposta a essa pergunta é crucial para o papa jesuíta, que é regularmente atacado pela facção mais conservadora da Igreja Católica.
Por sua vez, o editor da revista jesuíta America, Matt Malone, publicou uma série de fotos em sua conta no Twitter mostrando encontros amigáveis entre o papa Bento XVI e o cardeal McCarrick, gerando dúvidas sobre as sanções adotadas segundo Vigano por Joseph Ratzinger contra o americano.
A carta do ex-núncio também agride violentamente a "corrente homossexual" que, de acordo com ele, domina a alta hierarquia da Igreja, colocando na mesa uma longa lista de nomes. Ele também ataca as pessoas na Igreja que não colocam homossexualidade e pedofilia no mesmo nível.
Alguns sites católicos americanos ultraconservadores retratam o papa como um progressista perigoso, porque ele defende a aceitação dos gays nas paróquias.
No avião que o levou de volta ao Vaticano no domingo, o papa argentino recomendou a psiquiatria quando os pais distinguirem inclinações homossexuais desde a infância em seus filhos. A palavra "psiquiatria" foi retirada do verbatim publicado nesta segunda-feira pelo serviço de imprensa do Vaticano.
Desde o início de seu pontificado, o papa sofreu vários ataques violentos de alguns cardeais, muitos deles orquestrados pelo americano Raymond Leo Burke, indignado depois que Francisco sugeriu aos bispos analisar caso a caso a comunhão de divorciados casados novamente.

Papa se nega a comentar acusações de arcebispo

POOL/AFP / Gregorio BORGIAPapa Francisco com o chefe do serviço de imprensa do Vaticano Greg Burke
O papa Francisco, acusado de conscientemente ter encoberto por cinco anos o cardeal Theodore McCarrick, suspeito de abusos sexuais, não quis comentar as alegações de um prelado conservador italiano, que ocupou as manchetes internacionais nesta segunda-feira.
Um ex-embaixador do Vaticano em Washington, o arcebispo conservador Carlo Maria Vigano, acusa em um texto de onze páginas o papa Francisco de conscientemente ignorar durante seu pontificado todos os relatórios sobre as ações do cardeal americano apresentado como um redador sexual notório.
"Não vou dizer uma palavra sobre isso. Acredito que o comunicado fala por si mesmo", limitou-se a dizer o pontífice, entrevistado no domingo à noite por jornalistas no avião que o trouxe de volta a Roma.
A denúncia coincidiu com a viagem de Francisco à Irlanda, já centrada nos muitos casos de abusos cometidos pelo clero e instituições religiosos no país.
"A corrupção atinge a cúpula da hierarquia da Igreja", afirma Vigano em seu texto.
"Em linha com o princípio proclamado de tolerância zero, o papa Francisco deve ser o primeiro a dar um bom exemplo aos cardeais e bispos que encobriram os abusos de McCarrick e renunciar com eles", insiste o arcebispo italiano.
Ele denuncia não apenas "a cultura do silêncio" na Igreja, mas também "a corrente homossexual" que prevalece nas instâncias mais altas do Vaticano.
"As redes homossexuais presentes na Igreja devem ser erradicadas" porque "estrangulam as vítimas inocentes e vocações sacerdotais", escreve Vigano, ecoando o discurso dos ultraconservadores católicos que igualam homossexualidade e pedofilia.
Entre esses círculos, o papa é visto como um progressista perigoso mais interessado nas questões sociais do que nas tradicionais da Igreja.
Eles se indignaram com o seu chamado a acolher misericordiosamente os gays e transgêneros nas paróquias. Mesmo que Francisco permaneça em linha com a doutrina da Igreja sobre questões de sexualidade e casamento heterossexual.
Suas declarações no domingo à noite sobre a homossexualidade causaram ataques das associações de defesa dos direitos LGBT, que denunciaram palavras "irresponsáveis".
- Homossexualidade e psiquiatria -
Em entrevista coletiva no avião que levava Francisco da Irlanda de volta para Roma, o papa argentino recomendou o recurso à psiquiatria, quando os pais observarem tendências homossexuais em seus filhos, a partir da infância.
"Eu lhes diria, em primeiro lugar, que rezem, que não o condenem, que dialoguem, entendam, que deem espaço ao filho ou à filha", afirmou.
"Quando isso se manifesta desde a infância, há muitas coisas a fazer, pela psiquiatria, para ver como são as coisas. É uma outra coisa quando isso se manifesta depois dos 20 anos", declarou Jorge Bergoglio.
O Vaticano acabou por retirar nesta segunda-feira a referência à "psiquiatria" em seu boletima à imprensa. Em sua carta, Vigano aponta que o papa Bento XVI puniu tardiamente o cardeal Theodore McCarrick, entre 2009-2010, proibindo qualquer aparição pública e pedindo-lhe para deixar o seminário onde morava. No entanto, nenhum documento público menciona esta sanção.
Ele acusa o papa Francisco de ter anulado esta sanção, apesar de seus próprios alertas emitidos em junho de 2013, logo após o início de seu pontificado.
Muitas fontes na Igreja questionaram nesta segunda a veracidade dessas supostas sanções pronunciadas por Bento XVI, que foi fotografado em várias ocasiões com o cardeal McCarrick.
O cardeal McCarrick, de 88 anos, foi acusado no final de julho por abusos sexuais e proibido de exercer seu ministério, num escândalo que abalou a hierarquia da igreja americana.

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