Jucá deixa liderança do governo por "discordar" de Temer sobre venezuelanos
O senador Romero Jucá (MDB-RR) anunciou em sua conta no Twitter nesta segunda-feira (27) que comunicou ao presidente Michel Temer (MDB) a sua saída da liderança do governo no Senado. Ele argumentou que tomou a decisão por "discordar" da maneira como a questão da entrada de venezuelanos em Roraima vem sendo tratada pelo Planalto.
Jucá é candidato à reeleição ao cargo de senador pelo estado de Roraima nas eleições deste ano. Pesquisa Ibope divulgada no último dia 18 aponta que ele tem 25% das intenções de voto, tecnicamente empatado com Angela Portela (PDT), com 30%, e Mecias de Jesus (PRB), que aparece com 26%. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Apesar de não estar em colocação confortável nas pesquisas, Jucá negou que sua saída tenha alguma ligação com a disputa eleitoral.
"Essa questão não é uma questão eleitoral. Depois da eleição esse assunto vai se agravar ainda mais. Será uma posição para o restante do governo Michel Temer e para o novo presidente. E eu quero estar com uma posição firme, livre de amarras, para poder defender aquilo que eu penso", afirmou em entrevista coletiva concedida a jornalistas em Brasília nesta segunda.
Questionado se sua ação seria uma tentativa de se "descolar" da imagem de Temer --cuja gestão é considerada ruim ou péssima por 73% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha--, Jucá voltou a negar: "Temer não tira um voto em Roraima". O senador ressaltou, ainda, que sua saída da liderança não representa um rompimento com o governo e afirmou que permanece no cargo de presidente do MDB.
Imigração "desenfreada"
Em carta endereçada a Temer, Jucá afirmou que Roraima "vem sofrendo" há mais de três anos com uma imigração venezuelana "desenfreada" e elencou seus argumentos a favor de um maior controle da fronteira brasileira para os imigrantes daquele país.
"Há dois anos defendi o fechamento da fronteira antevendo já as graves consequências que viriam a seguir. Fui criticado pelo governo do Estado e pelos adversários políticos, com o argumento de que eu queria acabar com o comércio fronteiriço. O tempo mostrou que minha posição estava correta", diz o senador no documento.
No texto, Jucá escreveu ainda que apresentou um projeto ao Senado defendendo um mecanismo de cotas de ingresso para a imigração de venezuelanos em Roraima e afirma que esta solução "já está sendo utilizada por alguns países no trato da onda imigratória que varre o mundo e desestabiliza governos e as sociedades locais".
O senador afirmou que as medidas implantadas por Temer em Roraima ainda são "paliativas", uma vez que, segundo ele, não enfrentam o cerne do problema, "que é a recepção em solo brasileiro de uma quantidade de venezuelanos incompatível para nosso estado".
"Assim, entrego o cargo de líder do governo no Senado, para que possa exercer o meu papel de representante do estado de Roraima com tranquilidade e sem amarras, agradeço a atenção e amizade como sempre sou tratado por Vossa Excelência e toda equipe do governo", declarou Jucá.
O senador defendeu, por fim, que um acordo internacional não pode se sobrepor à condição de todo um estado. "(...) somos uma República Federativa, a obrigação precípua do poder central é cuidar dos entes Federados, do bem-estar e da segurança da população, não se apegando a interesses internacionais em detrimento da realidade do bom senso e da responsabilidade com o nosso povo".
Jucá, que se reuniu com Temer nesta tarde, disse que o presidente "entendeu" sua posição. Hoje vice-líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) é o nome cogitado para assumir a liderança no lugar de Jucá.
Entenda o caso
No sábado (18), a cidade de Pacaraima, em Roraima, se tornou palco de conflitos entre brasileiros e venezuelanos. Grupos de brasileiros perseguiram refugiados venezuelanos que vivem na cidade e queimaram seus pertences. Alguns refugiados foram agredidos com pedaços de paus e expulsos das tendas que ocupavam na região da fronteira do Brasil com a Venezuela.
A onda de violência começou a partir de uma manifestação contra a imigração venezuelana na manhã do dia 18, convocada após um comerciante local ser espancado, segundo a polícia, por quatro venezuelanos, e ter R$ 23 mil e celulares roubados.
Brasileiros atiraram pedras em um grupo de venezuelanos, os levando a recuar para dentro do território da Venezuela. Membros da guarda venezuelana na fronteira dispararam tiros de advertência para evitar a piora da situação. Venezuelanos passaram a quebrar carros de brasileiros na divisa.
Após o aumento da tensão e dos conflitos em Paracaima, Jucá e a governadora do Estado, Suely Campos (PP), voltaram a pedir a proibição da entrada de venezuelanos, mas Temer afirmou que não fechará a fronteira com o país.
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