A senadora Kátia Abreu (PDT), certa vez, jogou vinho em José Serra porque ele falou que diziam que ela era “muito namoradeira”. Candidata à vice-presidência na chapa de Ciro Gomes hoje, ela jogaria “um barril em Jair Bolsonaro, metido a valentão”. Nesta entrevista, a ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Dilma Rousseff, que tem 56 anos, diz ainda que, “sem grito, sem rasgar sutiã”, como vice, pode ir “a todas as secretarias de segurança e ao Judiciário pedir por estatísticas e formular uma política de segurança pública contra o feminicídio”, e que “é uma inutilidade discutir a questão do aborto numa candidatura à presidência e vice”. E fala mais:
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A senhora jogou uma taça de vinho no rosto do senador José Serra (PSDB), em 2015, depois que ele falou “dizem por aí que você é muito namoradeira”. Em quais candidatos à presidência faria o mesmo?
Queria jogar um barril no Bolsonaro. O que é aquilo? Ele odeia mulheres. O que ele fala de mulher leva à barbárie, é um negócio da Idade Média. As mulheres não estão vendo isso? Nunca tive bandeira feminista, mas me sinto profundamente ofendida a cada palavra daquele cidadão. Metido a valentão, se acha o máximo. Agora, queria que o Bolsonaro disputasse com o Ciro.
No santinho com as fotos da senhora e de Ciro Gomes, um photoshop exagerado foi aplicado ao seu rosto. Por que topou?
Eu vi isso, mas eles teimaram que estava muito boa. É o compromisso com a beleza, né? Eles não exigem muito a beleza de homem. Mas da mulher é cultural, machista. A mulher não pode ser feia, na cabeça de muita gente. Não é agradável a mulher feia. Agora, fazem photoshop nos homens também, viu (no rosto de Ciro também foi feito)? Colocam até fotografia antiga. O meu foi exagero.
Por que o partido não escolheu a senhora para o posto de presidente?
Vamos chegar lá. A gente tem vontade. Ser vice já está bem perto. Eu não teria nenhum temor, mas o Ciro Gomes estava lá antes de mim e o partido tinha se comprometido com ele. E eu gostei de apoiar o Ciro. Procurar partido para ser candidata à presidência não se faz assim. Tem a questão financeira e a de capilaridade.
A senhora é a favor da atual legislação sobre o aborto, que prevê prisão para algumas mulheres. Nem as novas e potentes discussões sobre a revisão dessa legislação a fazem pensar diferente?
Acho que é uma inutilidade discutir a questão do aborto numa candidatura à presidência e vice. Isso não vai depender do Executivo, mas do Legislativo. Sou candidata à vice-presidência, não a juiz. A legislação que está posta hoje é o suficiente, na minha opinião. Mas não gostaria de ver mulher presa por isso.
De que forma uma vice-presidente pode atuar em decisões voltadas para mulheres?
Como vice, nada me impede de ir a todas as secretarias de segurança e ao Judiciário pedir por estatísticas e formular uma política de segurança pública. Feminicídio é um sinônimo de primitivismo. Só uns dez Estados têm informações sobre esses crimes. As mulheres são silenciosas e não tem pressão por elas. Eu vou colocar essa pressão e posso fazer isso de forma institucional e democrática, sem grito, sem rasgar sutiã, nem nada disso.
Quais são os pontos positivos e negativos das outras quatro candidatas à vice-presidência, Manuela D'Ávila (PCdoB), Ana Amélia (PP), Sônia Guajajara (PSOL) e Suelene Nascimento (Patriota)?
Eu conheço bem a Ana Amélia e um pouco a Manuela. A Manuela tem algumas ideias muito radicais, mais à esquerda, com as quais não concordo. E a Ana Amélia é mais de direita. Talvez eu esteja mais ao centro. As outras eu não conheço. Mas o que nós temos em comum é que corremos atrás; a gente vai à luta.
A senhora diz ter convicção de que os votos de Lula irão para o Ciro, mas o Datafolha aponta que a Marina Silva é a que mais herda votos do ex-presidente, 21% deles. O Ciro é apenas o segundo que mais herda, com 13%. Qual o plano para reverter esse quadro?
Não estou duvidando de pesquisa, mas a campanha nem começou. Fiquei em primeiro lugar nas pesquisas para governador do meu Estado, o Tocantins, e perdi a eleição. Pesquisa é ótimo, mas é de momento.
Armar a população no campo, como a senhora defende, não é menos eficaz contra a violência do que melhorar e aumentar o policiamento?
No campo não existe policiamento. Quando discordo de produtores rurais ficarem sem arma nas fazendas, não estou falando de litígio, mas de proteção pessoal. Se morre um sem-terra e 200 fazendeiros, a opinião pública fica do lado do sem-terra. Eu vivi a questão da falta de segurança no campo na pele. Fiquei viúva com 25 anos, dois filhos pequenos e uma na barriga, sozinha, numa fazenda longe de tudo. Deixava arma dentro do carro, em casa. Nunca dei tiro. Nem de treinamento. Andar na rua armado, coldre na cintura, virar faroeste no país civilizado que eu quero? Pelo amor de Deus! Nas cidades precisávamos armar os policiais direito, oferecer serviço de inteligência e treinamento.
A senhora dialoga mais com a direita, é acusada de ser contra a demarcação de terras indígenas, de desmatar, e foi por muitos anos da bancada ruralista; áreas e temas pouco agradáveis à centro-esquerda, posição em que Ciro se coloca. Não tem medo que o eleitor compare a relação de vocês à de Dilma e Temer?
Não! Por que não falam de Lula e José Alencar, que nunca foi de esquerda, ou de Fernando Henrique, que era de esquerda, e Marco Maciel, de direita? Usam isso como um certo preconceito comigo. Não sou contra a demarcação de terras indígenas, mas contra a invasão de terras, casas e prédios públicos. Aprecio o estado de direito. Sou legalista, e o livro mais importante para mim, fora a Bíblia, é a Constituição. Quanto ao desmatamento, nas minhas terras estamos fazendo agricultura de baixo carbono. Estamos no quinto ano de lavoura para revitalizar as terras, e plantando floresta. Não desmato, eu planto. Quando a pecuária voltar a ficar boa, a gente vai colocar gado, porque nosso negócio é pecuária.
Ciro Gomes a escolheu como vice porque, entre outros motivos, a senhora era uma das principais lideranças da agropecuária no país, foi ministra da pasta e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Porém, depois que se aproximou de Dilma Rousseff, há quem diga que esse apoio foi perdido; e, com ele, os votos. Foi mesmo?
Esses poucos que se intitulam líderes da agropecuária brasileira nunca suportaram a liderança de uma mulher no setor. Só esperavam uma oportunidade para manifestar seu machismo. Não preciso do aval e da autorização desta turma para apoiar o setor mais importante da economia nacional. Já excluí essa pequena turma de reacionários da minha poesia há tempos.
Errata: o texto foi atualizado
31/08/2018 às 08h05
Ao
contrário do informado em versão anterior desta matéria, CNA é a sigla
para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, e não
Confederação Nacional de Agricultura. A informação já foi corrigida.
copiado https://universa.uol.com.br/
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